Segundo Virginia Dignum, que leciona a disciplina de IA Responsável na Universidade de Umeå, na Suécia, "deixar de utilizar o sistema" de IA, "que tem benefícios para todos", com "medo dos riscos" é, por si só, "um risco". E é inaceitável, disse, em entrevista à Lusa.
"O medo do risco não pode ser a razão para decidirmos não utilizar um sistema que pode beneficiar todos nós", insistiu.
A investigadora integra o órgão consultivo das Nações Unidas para a IA recentemente criado por indicação do secretário-geral, António Guterres.
Até ao verão do próximo ano, este órgão deverá apresentar uma proposta de figurino de uma agência da ONU para a inteligência artificial, para ser apreciada pelos Estados-membros, mas, antes disso, até dezembro, deverá produzir um relatório com o levantamento de riscos, problemas, benefícios e oportunidades da IA e com recomendações.
Sublinhando que "não há tecnologia sem riscos", Virginia Dignum sustentou que o problema "não são necessariamente os riscos da tecnologia em si", mas da forma como as pessoas e organizações vão utilizá-la.
"O maior risco da IA é a possibilidade de ser utilizada para fazer mal, por ignorância ou maldade daqueles que a usam", frisou.
Na lista de "riscos inaceitáveis", a investigadora inclui também a desinformação, o armamento automático e a discriminação "estrutural e continuada", por exemplo racial, porque os sistemas de IA não foram suficientemente treinados para reconhecer pessoas negras.
"O problema não é a tecnologia, o 'martelo', é quem usa o 'martelo'", expressou, avisando que a inteligência artificial, quando mal utilizada, nomeadamente por agentes totalitários, é uma ferramenta que contribui para diminuir a democracia.
Apesar dos riscos, Virginia Dignum lembra os benefícios que a IA pode gerar, dando como exemplos o acesso equitativo à educação e saúde em países onde faltam recursos e a capacidade de análise de "quantidades enormes de dados muito diferentes uns dos outros".
"A IA foi uma das possibilidades que tivemos para desenvolver milhões de hipóteses de vacinas", destacou, numa referência à capacidade que os sistemas de inteligência artificial tiveram em "acelerar a criação de hipóteses" para vacinas contra a covid-19.
A investigadora realçou, ainda, a possibilidade de a IA "analisar grandes quantidades de informação" que permitem fazer previsões e tomar decisões sobre como "tratar os problemas climáticos".
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