Satélite português? "Que seja o impulso para que Espaço seja acarinhado"
O Notícias ao Minuto entrevistou Rui Rocha, o coordenador do projeto responsável pelo desenvolvimento do nanossatélite português enviado a bordo do foguetão Ariane 6.
© ISTSat-1/UTecnico
Tech Espaço
O foguetão Ariane 6 descolou no começo da semana, dia 9 de julho, na Guiana Francesa, marcando também uma nova era para a Europa no que diz respeito à sua autonomia no Espaço.
Mais do que a primeira missão do Ariane 6, a ocasião também deu que falar por se tratar do lançamento para o Espaço do nanossatélite português ISTSat-1 - desenvolvido por estudantes, professores e investigadores do Instituto Superior Técnico (IST).
Este pequeno satélite - o primeiro concebido por uma instituição universitária portuguesa - ficará entre cinco a 15 anos em órbita, um período em que visará testar um novo sistema capaz de detetar aviões em zonas remotas.
Foi para saber mais sobre este projeto que o Notícias ao Minuto entrevistou o coordenador do projeto, Rui Rocha (via e-mail). Além de liderar o projeto, Rui Rocha também é professor do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores (DEEC) do Técnico, investigador no Instituto de Telecomunicações (IT) e diretor e um dos fundadores do IST NanosatLab.
No IST NanoSat Lab não acreditamos na ‘engenharia de powerpoint’. Para dominarmos um assunto temos de percorrer o caminho
© UTecnico
Qual foi o processo que permitiu incluir o ISTSat-1 no âmbito do lançamento de um novo foguetão da Agência Espacial Europeia (ESA)? Como começou?
Sendo o programa Fly your Satellite, em que o ISTSat-1 foi desenvolvido, da ESA, foi esta que escolheu qual o voo que poria o satélite em órbita. Foi escolhido o Ariane 6 porque a ESA assim o decidiu e cujas razões lhe dizem respeito, como ficou definido por contrato entre a ESA e o IST.
Qual é o objetivo do ISTSat-1? O que é que esperam conseguir, do ponto de vista académico, com este nanossatélite?
O objetivo é fundamentalmente educacional. É um excelente veículo para a formação de engenheiros nas boas práticas de engenharia, especialmente quando se tratam de processos complexos e multidisciplinares como é o caso de projetos aeroespaciais.
O resultado foi, para além da formação abrangente de uma fornada de engenheiros que hoje trabalham em empresas do sector, um capital de conhecimento/experiência que permitiu criar um laboratório dedicado a projetos ligados ao Espaço e que congrega, pela primeira vez, a participação de várias instituições de investigação numa ‘pool’ comum com vista à prossecução de um objetivo comum.
Quais foram os principais desafios no desenvolvimento deste satélite? Houve algum obstáculo mais desafiante?
Curiosamente, talvez tenha sido o processo burocrático que levou à obtenção da licença de operação do satélite. De resto, tendo sido o satélite inteiramente desenvolvido de raiz por nós, é natural que tenham existido inúmeras situações técnicas desafiantes mas que foram encaradas pela equipa como desafios de engenharia.
O ISTSat-1 estará a uma distância de 580km da Terra, pouco acima da Estação Espacial Internacional. Porquê esta altura?
Porque foi a altitude programada no perfil de voo do Ariane 6 para fazer a injeção em órbita dos payloads transportados no voo inaugural.
Dizem que com este projeto querem “aprender fazendo” e “dominar a tecnologia”. O que significa o lançamento do ISTSat-1 no contexto português? Portugal tem condições para se afirmar a nível europeu (ou mundial) no que diz respeito ao desenvolvimento deste tipo de equipamentos?
Porque nós no IST NanoSat Lab não acreditamos na ‘engenharia de powerpoint’. Para dominarmos um assunto temos de percorrer o caminho que vai da concepção à realização. Este satélite tem de ser visto no contexto em que foi desenvolvido, o contexto universitário português. Neste, espera-se que seja uma motivação para o aparecimento de outros projectos do mesmo estilo, ajudando a capacitar os recursos humanos que, ao ingressarem nas empresas do sector, representem um impacto significativo na acção destas e (consequentemente) no aumento de competitividade deste sector com impacto na economia do país.
Este momento histórico para a Universidade Portuguesa, designadamente para as Escolas de Engenharia
O ministro da Educação, Fernando Alexandre, reagiu publicamente ao envio deste nanossatélite considerando-o um “momento importante”. Como é que a equipa responsável pelo ISTSat-1 vê estas declarações?
Vejo naturalmente com agrado, assumindo que este momento histórico para a Universidade Portuguesa, designadamente para as Escolas de Engenharia, seja o impulso para que o Espaço seja acarinhado a nível académico, como já se tornou importante a nível empresarial, sobretudo nesta fase de ‘new space’.
É importante que se diga que isto não significa apenas a profusão de cursos de Aeroespacial, mas a constatação que estamos perante uma área multidisciplinar com contribuições importantes de várias áreas da Engenharia. Será talvez mais importante criar condições para que os currículos abram espaço para estes projectos do que criar cursos específicos ligados ao Espaço, que são mais retórica do que conhecimento.
A equipa que desenvolveu o ISTSat-1 considera envolver-se num projeto semelhante no futuro? Têm algo planeado para o futuro?
Isso já está a acontecer com o projecto de um novo CubeSat em consórcio com a Altice Labs.
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