Tal como o mundo da música e do cinema, a indústria dos videojogos é feita de tendências. Nos últimos 20 anos já assistimos a ‘narrativas’ que resultam na chegada ao mercado de jogos em mundo aberto, FPS’s e todo o tipo de jogos online - como é o caso de MMO’s, MOBA’s e também Battle Royales.
Os jogos conhecidos como ‘live services’ - que funcionam como serviços por via de várias atualizações e microtransações - são a tendência do momento e, por muitas propostas que vejamos dentro deste género, ainda há espaço para alguns ‘outliers’ que nos mostram o que os videojogos devem ser na sua essência: pura (e autêntica) diversão.
Este é o melhor elogio que podemos prestar a ‘Astro Bot’ - um título que percebe o que os videojogos devem ser, ao mesmo tempo que resgata um dos géneros com maior escassez de títulos de qualidade nos últimos anos.
‘Astro Bot’ pode ser resumido a um jogo de plataformas, mas um que eleva o género tal como ‘gigantes’ do género têm feito como é o caso de ‘Super Mario’ e também ‘Donkey Kong Country’. A produtora Team Asobi mostra bem que manteve a criatividade e originalidade que caraterizavam o (defunto) Japan Studio de que fez parte, oferecendo aqui um exclusivo para a PlayStation 5 que está no panteão dos melhores jogos produzidos pela divisão de videojogos da Sony nos últimos anos.
© Sony Interactive Entertainment
‘Astro Bot’ pode ser visto como uma continuação do trabalho feito pela Team Asobi em ‘Astro Bot Rescue Mission’ e ‘Astro's Playroom’, este último um jogo incluído em todas as unidades da PlayStation 5 de forma a mostrar as capacidades da nova consola.
Acontece que ‘Astro's Playroom’ tinha, em 2020, bases tão sólidas que muitos consideram que a pequena mascote - o robô Astro - merecedor do seu próprio jogo e, pelos vistos, não estavam enganados.
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Uma viagem pelo Universo… da PlayStation
Em ‘Astro Bot’ o jogo começa com o pequeno robô, acompanhado de dezenas de outros pequenos Bots, a cruzar o Universo numa nave que assume a forma de uma PlayStation 5. A viagem é interrompida, a nave destruída e os diferentes componentes da consola espalhados por diferentes galáxias, cabendo agora a Astro reparar não só a nave espacial como também tentar reunir (preferencialmente todos) os Bots desaparecidos.
‘Astro Bot’ conta com um total de seis galáxias e 80 níveis. Estes níveis são fechados mas, ainda assim, escondem ‘segredos’ suficientes para permitir alguma exploração - o que permite encontrar não só os tais Bots como também peças de puzzle e moedas que podem dar algumas recompensas (já lá vamos).
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Além dos Bots genéricos, ‘Astro Bot’ tem várias dezenas de Bots inspirados alguns dos jogos, séries, ‘franchises’ e sagas mais conhecidas da indústria - não só da PlayStation, mas também de outros estúdios que tenham, em algum momento, lançado jogos para uma consola da Sony.
Não escondemos que, em alguns momentos, ver Bots inspirados em sagas praticamente caídas no esquecimento, nos fez saltar do sofá com surpresa. Os fãs de videojogos de longa data - que cresceram com a PlayStation original e tenham acompanhado as gerações seguintes terão várias surpresas e alegrias a tentar apanhar todos os Bots especiais que conseguirem. ‘Astro Bot’ é simplesmente um daqueles jogos que é impossível de não jogar com um sorriso espelhado no rosto, na medida que se torna uma autêntica celebração da história da PlayStation e dos próprios videojogos.
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Serve notar que todos os Bots encontrados ajudam a ‘povoar’ o ‘hub world’ onde a nave se encontra em reparações. Levar um espaço inicial completamente vazio para uma área cheia de pequenos e alegres robôs saídos de algumas das mais adoradas ‘franchises’ de videojogos ajuda a dar um sentido de progressão ao jogo, além de tornar tudo muito mais alegre.
As já referidas peças de puzzle encontradas no cenário servem para dar forma a algumas estruturas neste ‘hub world’. Entre elas temos uma ‘garagem’ para pintar o comando DualSense que serve de nave do Astro, um guarda-roupa gigante para alterar o aspeto do Astro e também uma autêntica máquina Gatcha - onde se pode gastar (as tais) moedas para receber animações para os Bots, fatos e pinturas extra.
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Surpresas a cada esquina
Falemos então dos níveis propriamente ditos. Ainda que tematicamente simples, estes níveis são suficientemente variados para não aborrecer e têm ‘twists’ suficientes para continuarem interessantes mesmo que partilhem temas entre si. Por exemplo, níveis inspirados no Japão feudal podem ter diferentes focos, com um a estar repleto de piscinas termais e outro a levar o Astro a infiltrar-se num castelo cheio de armadilhas e recheado de ninjas.
Como qualquer jogo de plataformas, o pequeno Astro é capaz de saltar, pairar (com ajuda de lasers), bater e até rodopiar como ataque especial. Estas ações servem não só para lidar com os inimigos como também para interagir com o próprio cenário. Como exemplo temos algumas superfícies em vidro que são vulneráveis aos lasers nos pés de Astro e que exigem portanto algum cuidado.
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Alguns destes níveis também têm ‘poderes’ especiais. É exemplo disso uma galinha que faz o Astro descolar como um foguetão, um relógio que faz o tempo abrandar e luvas com forma de sapo que permitem estender o alcance dos (adoráveis) murros do pequeno robô. Tudo muito diversificado, dinâmico e, acima de tudo, divertido. Mais ainda, os controlos são super precisos e ajudam a tornar ‘Astro Bot’ um dos melhores (senão mesmo o melhor) jogo de plataformas disponível para uma consola da PlayStation.
Além de níveis extra - que podem ser acedidos por via de buracos negros presentes nos diferentes mundos e também níveis que servem para testar as capacidades do jogador - temos também a destacar planetas especiais que ficam acessíveis depois de derrotados os bosses de cada galáxia.
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Estes níveis são diretamente inspirados em alguns dos jogos e ‘franchises’ mais conhecidas da PlayStation. Não revelaremos todas para não estragar a surpresa mas, entre as já reveladas, encontramos um mundo inspirado em ‘Ape Escape’ e também ‘God of War Ragnarök’.
Tal como nos jogos da série, no mundo de ‘Ape Escape’ o jogador deve tentar apanhar os frenéticos macacos com ajuda de uma rede, enquanto no mundo de ‘God of War Ragnarök’ o pequeno Astro toma controlo do machado Leviathan - tendo até a capacidade de o atirar e recuperar com o simples pressionar de um botão.
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O mais impressionante é que fica bem patente o carinho e atenção que os produtores da Team Asobi tiveram ao criar estes mundos. A música, os efeitos de som, os Bots especiais e até pequenos objetivos secundários são verdadeiras alegrias de desfrutar e completar. Definitivamente entre os pontos altos de um jogo que, mesmo sem eles, estaria em grande destaque no que diz respeito à qualidade geral.
Isto para não falar do grafismo super trabalhado, excelente resolução, framerate super fluída e estável e físicas super realistas - tanto que de vez em quando até é difícil acreditar na quantidade de objetos em movimento livre em simultâneo. Mesmo que o desenvolvimento de ‘Astro Bot’ tenha começado pouco depois da chegada da PlayStation 5 e de ‘Astro’s Playroom’, até parece difícil de acreditar que se trata de um jogo anunciado somente em maio deste ano. ‘Astro Bot’ é bonito, polido e uma maravilha técnica - o que contrasta com alguns títulos de outras produtoras que chegam ao mercado por finalizar e que, em alguns casos, não conseguem sequer ser desfrutados por quem os adquire.
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A Team Asobi também prestou atenção à acessibilidade, com o jogo a acomodar com pequenos pormenores o desejo de quem quer fazer tudo o que ‘Astro Bot’ tem para oferecer.
Todos os níveis têm indicadores dos Bots, peças de puzzle e buracos negros que há para encontrar mas, caso lhe tenha escapado um Bot, o jogo é capaz de lhe dar uma ideia em que área do nível está - com o espaço correspondente ao Bot por encontrar a ficar vazio. Mais ainda, se não encontrar algum destes ‘segredos’, o jogo dispõe de uma pequena ferramenta - um pequeno pássaro que acompanha Astro e que só aparece quando se entra num nível já completado - que avisa o jogador sempre que se aproxima de algo por descobrir. Ao encontrar o que falta, é possível simplesmente sair do nível sem obrigar o jogador a completá-lo novamente.
É uma pequena atenção que permite aos jogadores personalizarem a dificuldade ao seu gosto. Quer encontrar os Bots por si mesmo sem ajuda? Pode fazê-lo. Quer usar este pequeno pássaro sem sentir que está a usar uma batota? Também é possível, até porque alguns Bots exigem que sejam completados puzzles antes que surjam no cenário. Novamente, muita atenção ao detalhe e cuidado.
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Considerações finais
Em suma, ‘Astro Bot’ é um daqueles jogos que (infelizmente) raramente vemos. Não pretende ser mais do que é e, no entanto, acaba por se tornar algo muito mais especial. É um ‘throwback’ aos jogos da consola original da PlayStation, quando tudo era mais simples - no melhor dos sentidos. Um verdadeiro triunfo da Team Asobi e um potencial jogo do ano que tão cedo não vamos esquecer.
Pontos fortes
- Jogabilidade precisa e níveis de plataformas criativos;
- Apanhar os Bots especiais;
- Níveis especiais inspirados em ‘franchises’ da PlayStation;
- Longevidade entre as 10 e as 15 horas, dependendo se faz tudo o que há para fazer;
- Banda sonora;
- Funcionalidades de acessibilidade;
Pontos fracos
- Era bom haver (ainda) mais níveis especiais;
- Não tem qualquer tipo de modo cooperativo;
Ideal para…
‘Astro Bot’ é um daqueles jogos que se recomenda para todos os jogadores. Os veteranos vão certamente desfrutar dos ‘throwbacks’ a jogos antigos e às suas ‘franchises’ favoritas. Por outro lado, os mais novos vão gostar das funcionalidades de acessibilidade que lhes permitirão desvendar todos os segredos dos níveis. Um jogo universal que mostra o que os videojogos têm de melhor.
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