"A integração da IA generativa nas redações de notícias está a criar oportunidades, como um novo tipo de editorias, e a introduzir novos riscos", lê-se no relatório "IA Generativa - Riscos e Oportunidades para o Jornalismo", elaborado pelos investigadores do Obercom e do Observatório Ibérico de Media Digitais (Iberifier).
O relatório, que faz uma análise dos estudos mais recentes sobre o tema, destaca "forças de resistência e pressões" no processo de implementação da IA generativa nas redações.
"Apesar de o futuro do jornalismo na era da IA ser incerto, consideram os autores do relatório, parece evidente que, mantendo os seus princípios e valores deontológicos fundamentais, o setor e a profissão irão mudar, quer na tipologia de empregos disponíveis, quer nas competências exigidas", segundo o documento.
No futuro, os jornalistas "poderão precisar de ser tanto proficientes em linguagem e ética jornalística, como competentes na utilização e compreensão de ferramentas baseadas em IA".
No que respeita à resistência à implementação da IA generativa nas redações, os jornalistas apontam a perda de controlo editorial sobre as notícias e o risco dos conteúdos serem produzidos de forma enviesada, imprecisa, fomentando maior desconfiança junto dos leitores, refere o relatório.
Entre as preocupações sobre o uso de IA estão as alucinações dos modelos de inteligência artificial que correspondem a informações enviesadas ou inventadas que podem reforçar estereótipos sociais.
"Os investigadores Obercom assinalam ainda a existência de pressão para o seu uso por causa da redução de custos", aponta o relatório.
O uso da IA tem como grande vantagem a análise de enormes volumes de dados, com um dos estudos (feito pela Associação Mundial de Jornais - WAN-IFRA, em 2023) a apontar que a IA generativa era sobretudo utilizada para reduzir textos e fazer pesquisas simplificadas. Noutro estudo, do Reuters Institute for the Study of Journalism, era mais usada na transcrição e revisão do texto.
"A apropriação de conteúdos protegidos por direitos autorais, por parte dos modelos de inteligência artificial generativa, suscita consideráveis preocupações legais e éticas", aponta.
As donas dos modelos de IA alegam que estes produzem trabalhos novos e não prejudicam o mercado comercial dos originais, mas os investigadores defendem que "esta lógica não aborda a natureza intrínseca da apropriação de conteúdo intelectual".
Isto porque "os modelos de IA podem não replicar na íntegra os conteúdos em que foram treinados, mas não deixam de reproduzir trechos consideráveis, assim como a essência, o estilo".
Além disso, entra no domínio da ética: "Os benefícios da IA são desproporcionalmente colhidos por grandes plataformas tecnológicas em detrimento dos indivíduos e das instituições que contribuem para o corpo de conhecimento global".
Os investigadores antecipam que "haverá uma procura de jornalistas especializados em interpretar, validar informações geradas por IA" e que, nesse sentido, "os profissionais com capacidade de investigação aprofundada tornar-se-ão essenciais".
O estudo da WAN-IFRA aponta que 82% dos profissionais de empresas de notícias acreditam que a IA generativa vai alterar papéis e responsabilidades.
Por exemplo, o New York Times criou em 2023 o cargo de diretor editorial de iniciativas de inteligência artificial.
A procura de jornalistas altamente qualificados para verificar factos (combater desinformação) "também deverá aumentar".
A IA generativa vai gerar oportunidades para jornalistas ganharem novas competências e a literacia algorítmica será cada vez mais importante na formação destes profissionais.
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