A terceira temporada de ‘Reacher’ - a série cheia de ação que adapta os livros homónimos da autoria de Lee Child - já chegou, esta quinta-feira, à Prime Video.
Os três primeiros episódios já estão disponíveis e, caso seja fã desta saga, vai gostar de saber que o Notícias ao Minuto teve a oportunidade de falar com o autor.
A entrevista com Lee Child procurou explorar, por exemplo, como são escolhidas as histórias - entre as quase 30 já disponíveis em livros - que serão adaptadas para a série desenvolvida pela Prime Video.
O autor, que também ocupa o cargo de produtor executivo de ‘Reacher’, procurou ainda explicar o motivo por detrás do sucesso desta série e também de outras dentro do género de ação.
Pode ler abaixo a entrevista completa.
Lee Child © Prime Video
Como se decide que livro de ‘Reacher’ será adaptado para uma temporada? É uma escolha que leva em conta o cânone dos livros ou cada temporada tem a sua própria história?
Inicialmente, nas primeiras duas temporadas, foi uma escolha estratégica. Sentimos que eram temporadas muito importantes porque, apesar de a base de leitores ser (felizmente) grande, os espectadores na televisão são ainda mais e, por isso, tínhamos de nos lembrar que há pessoas que ainda não conhecem o Reacher.
A estratégia foi usar as primeiras duas temporadas como uma base ou, noutras palavras, como introdutórias - na medida em que permitem ao espectador perceber quem [o Reacher] é e porque é que ele é como é.
Para a terceira temporada, temos agora a liberdade de fazermos o que quisermos e o que decidimos fazer foi a clássica história do lobo solitário, em que é possível ver o Reacher sozinho, em perigo constante e sem ninguém para o ajudar. Sentimos que o livro ‘Persuader’ era uma excelente escolha, porque tem uma abertura incrível, uma constante tensão e dois vilões fantásticos: a mente brilhante no topo da conspiração e o seu monstruoso guarda-costas, que sabemos lutará com o Reacher a determinada altura.
Se a televisão por streaming estivesse disponível nos últimos 20 anos, ninguém faria longas-metragens
Então esta terceira temporada é mais orientada para a ação, correto? Mais perto do que os livros tendem a oferecer.
Sim. Todos os livros têm uma mistura de ação, suspense, tensão, mas também momentos mais tranquilos - o tipo de momentos que podes explorar numa temporada em streaming e que não conseguimos ter numa longa-metragem. Penso que a terceira temporada está cheia de ação, mas também cheia de humanidade
‘Reacher’ começou a ser mais falado sobretudo com o filme de 2012 protagonizado por Tom Cruise, mas sente que esta adaptação televisiva dos livros já superou essa incursão? Sente que este formato se adequa melhor aos livros?
Sim, sem dúvida. Penso que é muito melhor para os meus livros e para os livros de todos. Porque podes ter tantas horas quanto as que precisas. Um livro é uma coisa longa e se tens uma temporada inteira à disposição, podes fazer tudo o que quiseres. Um filme é geralmente mais comprimido e, claro pode ser a sua própria forma de arte, mas é extremamente ‘apertado’.
Portanto, se tens um livro, queres naturalmente a maior duração possível. Sinto que se a televisão por streaming estivesse disponível nos últimos 20 anos, ninguém faria longas-metragens. Escolheriam sempre televisão em streaming porque a maior duração é um luxo.
É muito gratificante. Faz-me lembrar como me senti enquanto autor
Sente que o Reacher enquanto personagem ganhou com esta transição? Já mencionou que esta temporada tem momentos mais lentos, mais humanos. Mas especificamente sobre o Reacher, o que sente que ganhou com estas três temporadas de televisão?
Penso que o próprio Alan Ritchson ficou mais confortável com a personagem. O que é interessante para mim é que a primeira temporada é uma adaptação do primeiro livro. Nesse livro, o Reacher acaba de sair do exército e a história acompanha-o a descobrir como ser o Reacher. Ao mesmo tempo, o Alan Ritchson está ele próprio a aprender como ser o Reacher. Foi algo muito natural.
Agora, chegámos a uma altura em que o Reacher está completamente confiante naquilo que faz e está feliz com a sua vida, está habituado a ela. Ao mesmo tempo, o Alan Ritchson também está mais confiante a representar a personagem. As duas coisas cresceram juntas de uma forma muito natural para mim. Parece óbvio que, à medida que o Reacher assenta, o ator reflita isso.
Imagino que, enquanto autor, para si seja muito recompensador ver estes crescimentos lado a lado…
É muito gratificante. Faz-me lembrar como me senti enquanto autor. No primeiro livro não tinha bem a certeza do que estava a fazer e fui desenvolvendo mais confiança ao longo do tempo. Penso que também vemos isso no ecrã.
Nos últimos anos temos visto cada vez mais séries dentro do género de ação, não só na Prime Video, como também em outros serviços de streaming - como é o caso de ‘O Recruta’ da Netflix. Estamos a ver um ‘renascimento’ deste género? Na sua visão, o que faz com que esteja a ter mais atenção nos últimos tempos?
Porque a natureza do género é que começas com um problema que depois se resolve. No final da série, os bons ganham e isso é muito reconfortante e satisfatório para o público. À medida que o mundo fica mais caótico e difícil, que as vidas individuais se tornam mais frustrantes, as pessoas gostam de ver uma série em que coisas ficam bem, onde os problemas se resolvem.
Na vida real os problemas não se resolvem. Na verdade, nunca há um sentimento de conclusão na vida real. Das grandes às pequenas coisas. Se o teu carro for roubado, nunca mais o vais ver. Se a tua casa for assaltada, nunca mais vais ter as tuas coisas de volta. A vida está cheia de frustrações, mas no género de ação o problema é resolvido. A ordem é restabelecida. As pessoas estão sentadas no final do último episódio e pensam: 'Ótimo. Está tudo bem agora'.
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