Europa tem talento e inovação mas não controla discurso global sobre IA

O evangelista de GenAI na Hitachi Digital Services Vítor Domingos afirma, em entrevista à Lusa, que a Europa tem talento e inovação, mas não controla o discurso global sobre inteligência artificial (IA), mas não está fora da corrida.

Notícia

© Shutterstock

Lusa
01/03/2025 16:37 ‧ há 2 horas por Lusa

Tech

Hitachi Digital Services

"Até há uns meses, a China estava adormecida, mas com o DeepSeek R1 demonstrou capacidade, engenho e inovação", pelo que a "corrida ainda mal começou e há muito por onde correr", começa por dizer o 'lead solution architect & GenAI evangelist' na Hitachi Digital Servisses quando questionado sobre se a Europa ainda vai a tempo na IA.

 

Contudo, "quando olhamos para o cenário global, conseguimos identificar três grandes desafios", aponta Vítor Domingos, elencando o acesso ao 'hardware': "sem 'chips' de última geração é impossível competir e Portugal está na lista de restrições, o que limita ainda mais o cenário nacional" e a regulação e inovação, "o equilíbrio entre segurança e competitividade ainda não foi encontrado".

Por último, a falta de grandes 'players'. "Nos EUA temos OpenAI, na Europa temos a Mistral, que é uma alternativa viável, mas com pouca cobertura mediática", afirma.

Mas "dizer que a Europa está fora da corrida é um erro. A [tecnológica francesa] Mistral está ao mesmo nível da OpenAI em termos de rapidez, conhecimento e resultados, no entanto, "não faz parte da narrativa americana e, por isso, não recebe a mesma atenção", lamenta.

"O problema não é apenas a tecnologia, mas sim quem controla a narrativa, o financiamento e a influência", enfatiza, salientando que "a Europa tem talento, tem inovação, mas não controla o discurso global sobre IA".

No entanto, "a oportunidade ainda não foi perdida, mas o tempo está a contar" e "se não houver um grande salto estratégico e um investimento sério, a Europa pode acabar como consumidora de tecnologia americana e chinesa, em vez de líder no setor", admite Vítor Domingos.

Questionado como vê a disputa entre os Estados Unidos e a Europa em temos do regulamento europeu de IA (AI Act), o evangelista de GenAI na Hitachi Digital Services afirma que "é uma questão mais política do que técnica".

"Acho que já percebemos, enquanto sociedade, que a autorregulação não funciona, têm de existir mecanismos e entidades que regulam, monitorizam e obrigam organizações a seguir padrões e leis", apontou.

Os Estados Unidos "querem inovação sem regulação -- ou, pelo menos, com menos regulação" e a Europa, "por outro lado, quer regulação para garantir que estamos protegidos contra abusos", o que não é novo, pois o mesmo aconteceu com o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) que, "no final, o mercado acabou por se adaptar e até beneficiou de maior clareza e confiança".

Agora a questão é se o AI Act "será capaz de equilibrar regulação e competitividade".

Se for demasiado rígido, "pode afastar a inovação" e, se for muito flexível, "cria um ambiente onde empresas fazem o que querem, sem responsabilização", aponta.

O certo é que "nenhum dos modelos é perfeito", mas "se olharmos para o impacto" do RGPD "percebemos que uma regulamentação clara pode dar uma vantagem competitiva a longo prazo, desde que seja aplicada com inteligência e não com agentes".

Questionado sobre as conclusões da cimeira de IA de Paris, Vítor Domingos remata: "Aos políticos, a política -- e esse foi o grande resultado da cimeira".

No entanto, "também trouxe discussões importantes, embora a grande questão continue a ser a execução, todos concordam na necessidade de regulamentação global, mas ainda não existe um mecanismo concreto para a implementar", diz.

A verdade "é que cada região tem a sua abordagem e os interesses económicos e estratégicos pesam mais do que as preocupações éticas", sublinha o responsável.

Por outro lado, "o foco esteve na IA generativa e agentes autónomos e isso é um reconhecimento de que o risco não está só na tecnologia, mas no impacto social que ela pode ter" e não há consenso como fazer o equilíbrio entre inovação e segurança.

"Além disso, empresas tecnológicas prometeram maior transparência, mas o problema é que a autorregulação não funciona -- e já vimos isto no passado: sem regras claras e mecanismos de fiscalização, é apenas mais uma jogada de relações públicas", considera.

Por isso, "a grande falha da cimeira foi que se falou de princípios, mas continuam a faltar mecanismos concretos para garantir que a IA é desenvolvida de forma segura, sem sufocar a inovação", sintetiza.

Leia Também: Autonomia dos agentes de IA "tem de ser controlada e monitorizada"

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas