Simon Thibault diz que internet facilitou disseminação de 'fake news'

O professor da Universidade de Montreal e especialista em notícias falsas Simon Thibault afirmou que antes da internet era complicado criar um conteúdo falso porque exigia muitos recursos e agora qualquer pessoa pode facilmente divulgar 'fake news'.

Notícia

© Shutterstock

Lusa
20/03/2025 23:46 ‧ há 1 semanas por Lusa

Tech

Fake news

Em entrevista à agência Lusa, Thibault disse que antes do surgimento da internet "eram necessários muitos recursos para fazer viralizar uma notícia falsa", usando como exemplo a Guerra Fria, onde as notícias falsas eram utilizadas, por exemplo, para "desestabilizar os inimigos".

 

"Uma notícia falsa sobre o HIV [Vírus da imunodeficiência humana] ter sido criado em laboratório foi publicada primeiro num media obscuro, com ligações ao KGB [serviços secretos da União de Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS). Depois apareceu em Moscovo, em alguns países de África, um pouco pela Europa, e finalmente nos Estados Unidos", explicou.

E este processo "foi visto como um grande sucesso, porque a notícia falsa conseguiu alcançar o público americano através de um 'mainstream', mas foi uma história falsa pensada, conduzida e produzia pelo KGB", referiu. 

Neste caso, "a viralidade desta notícia falsa levou muito tempo e precisou de muitos recursos" e agora com a internet, as redes sociais e a inteligência artificial (IA) esta viralidade é fácil de obter, defendeu o especialista.

No panorama atual "podemos ter jovens a lançar notícias falsas, não porque acreditam em Trump, não porque querem ter influência nas eleições, estão a fazer isso por dinheiro (...) e com a IA isto está a tornar-se ainda mais fácil", explicou Simon Thibault, referindo ser um "ambiente complexo".

"Podemos ter cidadãos que espalham desinformação por dinheiro, outros por diversão e muitos outros motivos, geoestratégicos, políticos, económicos, ideológicos e é por isso que o ecossistema é muito complexo", mencionou. 

Além disso, o investigador realçou que o conceito de desinformação "significa que a pessoa que está a espalhar conteúdo falso sabe que isso é falso e intencionalmente quer desinformar o seu público", contrariamente ao conceito de 'misinformation' (informação errada em português) em que o conteúdo falso é partilhado "sem intenção de desinformar". 

Para disseminar conteúdo falso basta "bons 'softwares' e é possível fazer isso sozinho, e agora a inteligência artificial generativa [Gen AI] ajuda a criar artigos e amplificá-los", explicou.

Apesar disso, Simon Thibault observou que "de uma perspetiva partilhada por muitos nos Estados Unidos, a Europa está a agir arbitrariamente em termos de regulação das principais plataformas dos EUA", argumentando que "a União Europeia (UE) é frequentemente vista como um regulador arbitrário, enquanto a inovação e o dinheiro estão a vir dos Estados Unidos", mencionando a lei europeia dos Serviços Digitais (DSA), em vigor desde 17 de fevereiro de 2024 e que tem como principal missão prevenir atividades ilegais e prejudiciais 'online' e a disseminação de desinformação.

Neste sentido, o investigador salientou também que vários observadores norte-americanos acreditam que se a Europa "se concentrar apenas em abordagens regulamentares, os EUA e a China assumirão a liderança, deixando a Europa para trás".

O facto de a IA ser um "fenómeno bastante recente, mas que gera muitas preocupações", faz com que a "literatura científica seja bastante limitada" nesta matéria, apontou o professor, alertando para os riscos associados às redes sociais, nomeadamente através de vídeos "deepfake". 

Simon Thibault explicou ainda que o termo 'fake news' tornou-se relevante em 2016, aquando da eleição de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas, pois "uma das primeiras explicações lançadas pelos comentadores de media foi dizer que Trump ganhou por causa das notícias falsas".

O investigador concluiu dizendo que a educação mediática, o apoio ao jornalismo e a regulação são essenciais para combater estes fenómenos. 

Leia Também: Ansioso com o final de 'Severance? Ben Stiller tem boas notícias para dar

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas