© Horacio Villalobos#Corbis/Getty Images
Alastrou na Grande Lisboa uma onda de violência desde a morte de Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos, morador no Bairro do Zambujal, baleado por uma agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, na Amadora. Os desacatos criaram um sentimento coletivo de insegurança e trouxeram de volta memórias como a do homicídio do afro-americano George Floyd, às mãos da polícia, nos Estados Unidos, relançando um debate antigo sobre questões raciais e violência policial.
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Separados por quatro anos, ambos ganharam contornos mediáticos. Contactada pelo Lifestyle ao Minuto, a psicóloga Catarina Lucas não tem dúvidas de que "a cobertura de violência pode aumentar o medo e a insegurança, levando as pessoas a evitarem sair de casa e a mudarem rotinas".
"A confiança nas instituições também pode diminuir, agravando o sentimento de desamparo e incerteza sobre o futuro", reflete.
Psicóloga Catarina Lucas© Centro Catarina Lucas
"Quem vive em zonas de conflito deve considerar determinar períodos específicos do dia para obter informações. Isto é, reservar momentos curtos e espaçados para acompanhar caso. Essa prática vai ajudar a evitar a exposição contínua a notícias, o que pode reduzir o stress e a ansiedade", afirma.
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Para a população em geral lidar com o medo, a ansiedade e a insegurança, "deve limitar-se a exposição a notícias violentas, procurar-se apoio emocional, conversando com pessoas de confiança, ou ajuda profissional", continua. "O apoio de familiares, amigos e redes comunitárias ajuda a criar um sentido de segurança e pertença. É preciso manter uma rotina de autocuidado, com momentos de descontração, e focar em aspetos da vida que estão ao nosso controle, como pequenas tarefas diárias, procurando uma sensação de normalidade", refere também.
Como falar com as crianças sobre violência?
No entender da psicóloga Catarina Lucas, "é importante falar com as crianças sobre violência", mas sempre "adaptando a conversa à faixa etária para garantir que se sintam seguras e compreendam o que está a acontecer". Os adultos devem "simplificar as explicações, dizendo, por exemplo, que algumas pessoas estão em conflito e que os adultos estão a trabalhar para resolver a situação".
Com pré-adolescentes e jovens, é fundamental abordar as causas do conflito, "reforçando que estão protegidas e que há pessoas responsáveis pela segurança delas". "No geral, é essencial escutar as dúvidas e os medos das crianças, respondendo com calma e honestidade, e incentivando-as a expressar o que sentem", explica.
Para evitar a banalização da violência e dos conflitos, a também diretora do Centro Catarina Lucas é perentória ao afirmar que "é essencial falar destes temas com empatia e reflexão". "É importante limitar a exposição excessiva a notícias e imagens violentas", insiste, afirmando que "a repetição constante pode levar à insensibilidade". Pelo contrário, "procurar fontes de informação que ofereçam contexto e análises construtivas ajuda a entender as causas e as consequências destas situações".
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A psicóloga lembra ainda que a discussão destes temas deve ser feita "de forma ponderada". Para lidar com quem pensa de forma diferente de nós, "deve ouvir-se ativamente o outro para entender a sua perspetiva e evitar reações defensivas, fazer perguntas para promover um diálogo construtivo e partilhar o ponto de vista de forma clara, mas sem impor". "Se a conversa se tornar 'agressiva', deve reconhecer-se educadamente que opiniões diferentes podem coexistir."
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Serviços telefónicos de apoio emocional em Portugal
SOS Voz Amiga (entre as 16 horas e as meia-noite) - 213 544 545 (número gratuito) - 912 802 669 - 963 524 660
Conversa Amiga (entre as 15 e as 22 horas) - 808 237 327 (número gratuito) e 210 027 159
SOS Estudante (entre as 20 horas e a uma da madrugada) - 239 484 020 - 915246060 - 969554545
Telefone da Esperança (entre as 20 e as 23 horas) - 222 080 707
Telefone da Amizade (entre as 16 e as 23 horas) – 228 323 535
Todos estes contatos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24), o contacto é assumido por profissionais de saúde. Deve selecionar a opção 4 para o aconselhamento psicológico. O serviço está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.
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