Sanjoaninas assinalam 350 anos do exílio de D. Afonso VI

Angra do Heroísmo, Açores, 20 jun 2019 (Lusa) -- As festas Sanjoninas, que decorrem de sexta-feira a 30 de junho em Angra do Heroísmo, nos Açores, assinalam os 350 anos da chegada à cidade do rei D. Afonso VI, exilado na ilha Terceira durante cinco anos.

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Lusa
20/06/2019 14:52 ‧ 20/06/2019 por Lusa

Cultura

Angra do Heroísmo

"Uma terra sem história não tem futuro. Por isso mesmo é que nós relembramos e continuaremos a relembrar a nossa história para todos aqueles que nos visitam e para os que aqui vivem, para que de facto fique na memória de todos que tivemos um papel importante no contexto nacional", adiantou, em declarações à Lusa, o vice-presidente do município de Angra do Heroísmo, José Gaspar Lima, justificando a escolha do tema desta edição das festas.

Apelidado como "o vitorioso", por ter vencido as guerras da Restauração e por ter assinado um tratado de paz com Espanha que garantiu a independência de Portugal, D. Afonso VI acabou por ser afastado do poder por alegada incapacidade de o exercer e de assegurar a continuidade da linhagem real.

Entre 1669 e 1674, viveu exilado no Castelo de São João Baptista, em Angra (que na altura ainda não tinha o título de Heroísmo), proibido de contactar com príncipes estrangeiros e de sair do Monte Brasil, até que, na sequência de uma tentativa de golpe para recuperar o poder, foi encerrado no Palácio de Sintra, onde veio a falecer em 1983.

Apesar de destituído de poder executivo, entregue ao irmão, manteve-se sempre como rei até morrer, sendo o primeiro, reconhecido como tal, a viver em Angra do Heroísmo.

Horas antes do arranque oficial das festas Sanjoaninas, na sexta-feira, o município angrense vai inaugurar uma estátua em homenagem de D. Afonso VI, precisamente no Monte Brasil.

O presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses, justifica a distinção com a intenção de recuperar a memória do rei e de reposicionar a sua imagem "agora liberta do estigma que durante tanto tempo pairou sobre a sua figura".

"Cremos que 350 anos depois, Angra continua a ser uma comunidade capaz de bem acolher todos os que vierem por bem, na diversidade das suas condições e opções. A estátua do rei também celebra essa tolerância e hospitalidade", aponta o autarca no prefácio do livro "O Reinado de D. Afonso VI na Ilha Terceira (1669-1674)", lançado esta sexta-feira, com um texto do jornalista Armando Mendes e um excerto da "Fénix Angrense", do padre Manuel Luís Maldonado, transcrito para português atual por Sérgio Toste.

O exílio de D. Afonso VI dará também o mote para o desfile de abertura das Sanjoaninas, um dos momentos que mais gente atrai à cidade, durante 10 dias de festas, em que estão previstos espetáculos musicais, marchas populares, tauromaquia, artesanato, exposições, atividades desportivas e gastronomia, entre outras iniciativas.

Na noite de São João, antes dos saltos à fogueira, desfilam pelas principais ruas da cidade 24 marchas, mas a adesão é tanta que no dia seguinte outras nove marchas (cinco de crianças e quatro de adultos) fazem o mesmo percurso.

Para além das marchas da ilha Terceira, participam seis marchas de outras ilhas do arquipélago (de São Miguel, Faial, São Jorge e Pico), uma da Madeira e outra de Viseu.

Pelo palco principal das festas vão passar nomes como The Gipsy Kings, Ana Moura, Nego do Borel, David Carreira, Anjos, Os Quatro e Meia e Jimmy P., mas há vários palcos espalhados pela cidade com concertos gratuitos, sobretudo com bandas locais.

O município estima que se desloquem à ilha Terceira, por esta altura do ano, milhares de pessoas, incluindo centenas de emigrantes dos Estados Unidos e do Canadá.

"Todas as pessoas se divertem. Além de ouvirem a música, interagem com a população, vivem o dia-a-dia com os nossos residentes, com a nossa cultura, com a nossa tradição e o que vem a primeira vez, provavelmente virá a segunda, porque [os visitantes] ficam admiradíssimos com que aquilo que nós fazemos durante estes 10 dias de festas em Angra do Heroísmo", salientou.

As festas têm um orçamento de 600 mil euros, um valor que segundo José Gaspar Lima se mantém igual há vários anos.

 

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