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"Portugal perdeu um dos seus maiores criadores musicais de sempre"

O escritor José Jorge Letria lamentou hoje a morte do músico José Mário Branco, aos 77 anos, comentando que "Portugal perdeu um dos seus maiores criadores musicais de sempre".

"Portugal perdeu um dos seus maiores criadores musicais de sempre"
Notícias ao Minuto

12:20 - 19/11/19 por Lusa

Cultura José Mário Branco

Contactado pela agência Lusa, o escritor e presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) disse ter uma memória pessoal "muito forte e intensa" de "um homem corajoso que esteve preso e no exílio".

Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, a partir do final dos anos de 1960 e em particular do período imediatamente anterior à Revolução de Abril de 1974, cujo trabalho se estende também ao cinema, ao teatro e à ação cultural.

José Jorge Letria disse que o músico deixa uma marca profunda "como autor de canções intemporais e poderosas, que deram voz ao anseio de mudança, e ao desejo de liberdade e democracia que havia nos cantores e nos portugueses nessa época no final dos anos 1960 e 1970".

"Foi um excecional autor de canções, mas foi sobretudo um orquestrador excecional, outra marca que também deixa, e que conseguiu imprimir nos discos que fazia com Zeca Afonso, Sérgio Godinho e outros", disse, recordando que José Mário Branco lhe fez os arranjos musicais do disco "Até ao Pescoço" (1972).

O presidente da SPA recordou que 'Cantigas do Maio' (1971), disco de José Afonso, que teve produção de José Mário Branco, "foi fundamental, e por ter a canção 'Grândola Vila Morena', iria mudar a história politica contemporânea portuguesa", porque foi usada como senha da resistência na revolução do 25 de Abril.

José Mário Branco dirigiu 'Venham Mais Cinco' (1973), o álbum seguinte de José Afonso, produzido por José Niza.

José Jorge Letria recordou ainda que o músico deixou outra grande marca na história da canção da resistência, como organizador e mobilizador de vontades: "Logo a seguir ao 25 de Abril, quis definir a estrutura da organização em que os cantores se iriam integrar para fazer chegar as suas vozes ao povo português", disse à Lusa.

Lembrou ainda, a propósito, que quando Branco voltou do exílio, de Paris, em 1974, organizou, na mesma noite, uma reunião na casa do pai, com a presença de Letria, Sérgio Godinho e Carlos Paredes.

"Ele fez uma declaração política e cultural a explicar o que era preciso os cantores fazerem na época para prosseguir a concretização da liberdade e da democracia", apontou.

José Mário Branco foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical de outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge, Samuel e Nathalie.

O poeta disse ainda que o trabalho de José Mário Branco era caracterizado por "uma enorme exigência, tendo lutado contra a adversidade durante muito tempo, por não ter conseguido criar todos os discos que pretendia".

"Desde então, fez espetáculos inesquecíveis, revisitando as canções e épocas que viveu intensamente", acrescentou.

José Jorge Letria falou ainda da última fase da vida de Branco, destacando o facto de se ter transformado "num produtor de excepcionais discos de fado, nomeadamente com Camané".

"Ele era um gestor de talentos e de energias", comentou, lembrando que a SPA lhe atribuiu a Medalha de Honra para o homenagear.

Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999.

A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e de um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.

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