Os 15 redatores assalariados indicaram na quinta-feira em comunicado que decidiram aproveitar a cláusula de consciência que protege "o direito do jornalista" em caso de mudança de acionistas.
Richard Schlagman, que comprara em 2008 a revista ao grupo Le Monde, vendeu-a no início do mês a um grupo composto por empresários e produtores de filmes, o que para a redação apresenta um conflito de interesses.
"Quaisquer que sejam os artigos publicados sobre os filmes desses produtores serão suspeitos de complacência", defenderam na mesma nota.
A redação acrescentou que no passado posicionaram-se contra o tratamento mediático dado aos protestos dos 'coletes amarelos' ou às reformas no acesso à universidade. Os acionistas, entre os quais "empresários perto do poder (...) têm interesses que levantam dúvidas", acrescentaram.
No comunicado também ficou expressa a oposição à intenção manifestada pelos novos proprietários de que a Cahiers du cinéma se torne numa revista mensal "distendida" e "chique".
"Nunca foi uma coisa ou outra, ao contrário do que os acionistas pretendem. Os Cahiers sempre foram uma revista crítica comprometida", salientaram os redatores.
O artigo mais famoso, como destacaram, foi aquele em que Truffaut atacava a burguesia de uma parte do cinema francês.
Os jornalistas atuais já tinham expressado preocupações no passado sobre as mudanças que os novos donos poderiam impor e esta decisão editorial dos proprietários vem reforçar a opinião de que não foram ouvidos, explicaram.
Fundada em 1951 por André Bazin, Jacques Doniol-Valcroze, Joseph-Marie Lo Duca e Léonide Keigel, Cahiers du cinéma teve uma enorme influência no mundo do cinema, especialmente ao desenvolver a teoria do "cinema de autor" e como uma plataforma da "Nouvelle Vague".
Nos últimos anos, no entanto, as vendas em França caíram. Dos mais de 15 mil exemplares vendidos em média em 2015, passou-se para cerca de 12 mil em 2019.
A revista de referência dedicou vários dossiês ao cinema e a cineastas portugueses, como Manoel de Oliveira, Pedro Costa, João Salaviza, João Pedro Rodrigues, Miguel Gomes e Pedro Pinho.