"Que seriam das nossas sociedades sem os seus criadores? Sem os seus artistas? É por isso que estamos decididos a proteger o mais valioso: a confiança na convivência solidária e na força da Cultura", escrevem os ministros que tutelam o setor em Espanha, Itália e Alemanha, respetivamente José Manuel Rodríguez Uribes, Michelle Müntefering e Dario Franceschini, num texto publicado hoje nos jornais La Vanguardia, de Espanha, Corriere della Sera, de Itália, e no Der Tagesspiegel, da Alemanha.
Os três responsáveis governamentais afastam os fantasmas do passado europeu, que colocaram nações contra nações, colocam a diversidade cultural e a educação como fatores de superação da crise e da pandemia que está na sua origem, sustentam a concessão de apoios extraordinários, em resposta à paralisação do setor, e fazem apelo à solidariedade, entre Estados, povos e instituições, de modo a manter viva a produção cultural e artística e, com ela, o espírito na base da constituição europeia.
"É a escolha entre o egoísmo e a solidariedade que determinará o futuro de Europa", afirmam os governantes no texto conjunto, no qual lançam também o desafio à reflexão, para o setor, vencida a crise.
"A força da nossa política cultural e educativa pode contribuir, justamente agora, de maneira determinante", para o combate ao vírus. É a luta contra ele que determinará também se se propagará ou não "a doença de maior perigo para a Europa: a doença dos egoísmos nacionalistas, que custou milhões de vidas, ao longo da história europeia".
"Ao longo destes dias, aprendemos de forma dolorosa que a pandemia que nos desafia não conhece cidadanias nem nacionalidades. O vírus é o nosso inimigo invisível e comum", escrevem os governantes.
O texto é um apelo à unidade europeia, num tempo em que se impôs o fecho de fronteiras e o "distanciamento social".
"Agora que renunciámos temporariamente à livre circulação, apercebemo-nos da enorme importância que têm as liberdades e o que nos faltaria, sem elas", escrevem.
"A cultura da solidariedade é a melhor defesa contra esta crise". Por isso, garantem, "é correto e importante concedermos apoios financeiros que beneficiem autores e instituições culturais, cuja existência está em perigo".
"Temos a certeza de que, no futuro, voltarão a abrir-se as salas teatro e de ópera, voltarão a ver-se histórias projetadas nos ecrãs das salas de cinema, e os jovens voltarão a dançar nos festivais de música".
"Entretanto, assistimos à transformação digital e à influência das tecnologias na sociedade global (...). Assistimos também ao modo como a Cultura pode oferecer soluções", escrevem os ministros.
"Os novos formatos são muito mais do que uma ajuda para sobreviver em tempo de crise. São uma oportunidade para abrir novos acessos transfronteiriços à Cultura e à Educação, e promover a criação de um novo público europeu", afirmam.
"Queremos promover a reflexão conjunta sobre o desenvolvimento posterior de apoio a novos conceitos digitais", convidando desde já os diferentes agentes para um "fórum de discussão virtual".
"A sociedade civil demonstra que podemos desenvolver espaços digitais a nosso favor, que podemos ser mais solidários. Esta é a ideia que todos os Estados-membros devem tomar agora como referência", para que "o ideal europeu supere a crise e saia fortalecido", acrescentam.
"Ainda não podemos saber quão profundas serão as consequências na nossa economia. Ainda não sabemos quantas pessoas, que fazem parte das nossas vidas, e com as quais partilhamos este continente, vamos perder", acrescentam.
Mas há certezas que se mantêm: "Que seria de nós sem os livros, sem os filmes, sem a música em que nos refugiamos e nos apoiamos? Que seria das nossas sociedades sem os seus criadores?".
Por isso, concluem, "estamos decididos a manter o mais valioso (...), a força da Cultura".
O combate à pandemia paralisou o setor da Cultura em toda a Europa. Em Portugal, de acordo com um inquérito feito pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE), a perda de trabalho afeta 98 pessoas em cada 100.
Em termos financeiros, as perdas por trabalhos cancelados somam dois milhões de euros, apenas para o período de março a maio deste ano, segundo a estrutura sindical.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 68 mil.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 295 mortes, mais 29 do que na véspera (+11%), e 11.278 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 754 em relação a sexta-feira (+7,2%).