"A feira é uma altura de excelência para tentar recuperar parte daquilo que foi perdido e permitir aos seus leitores e clientes o contacto com o livro. [...] Até ao final do ano [o setor] poderá ter uma perda entre os 30 e os 35 milhões de euros. É um valor que não será recuperado. A palavra adequada para isto é catástrofe", sublinhou Pedro Sobral, vice-presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), que organiza a feira juntamente com a Câmara Municipal de Lisboa.
Nas vésperas da abertura, o extenso recinto ao ar livre que acolhe a feira do livro, no Parque Eduardo VII, está ainda em modo estaleiro, com pessoas a desempacotar livros, a distribuir novidades editoriais nos escaparates, a colocar iluminação, sinalética e muitos frascos de desinfetante.
De acordo com dados da APEL, este ano estarão presentes 117 participantes em 310 pavilhões, representando 638 editoras, livrarias e chancelas e haverá regras de acesso e de circulação e de manuseamento dos livros.
Pedro Sobral explicou que o uso de máscara é obrigatório para todos e o recinto estará vedado por baias, para que se possa controlar o fluxo de entrada e saída de pessoas.
A lotação estará limitada a 3.300 pessoas em simultâneo, cumprindo as regras de distanciamento impostas pela Direção-Geral da Saúde e aplicando um manual de boas práticas distribuído pela APEL aos participantes, referiu o responsável.
Este ano haverá ainda menos espaços de restauração, o programa cultural associado à feira foi reduzido e acontecerá apenas em auditórios, com inscrição prévia e lotação limitada.
Segundo Pedro Sobral, os visitantes poderão manusear os livros, mas terão sempre de desinfetar as mãos.
"É um espaço muito aberto, a extensão é enorme e basta obedecer às regras e ao senso comum para que não haja aqui nenhum problema. Foi uma adaptação bastante pacífica para nós e para os editores e livreiros", disse.
Otimista, Pedro Sobral diz que a expectativa é que o número de visitantes este ano "seja muito semelhante ao dos anos anteriores", que rondou os 475 mil visitantes.
"É o primeiro grande evento pós-confinamento é um espaço aberto, está bom tempo, estamos no final do verão, antes de as crianças irem para as aulas, é uma boa altura para passear, dar uma volta. Veremos se isso se converte em vendas", disse.
Pedro Sobral recorda a adesão de editores e livreiros à feira do livro para compensar o ano difícil e "a completa ausência de apoio por parte do Governo".
"Ficámos sozinhos, continuamos sozinhos e a feira do livro é o único evento criado e apoiado pela APEL e é o único apoio que tiveram este ano", disse.
Atrás do balcão, ainda com muito por desencaixotar, Isabel Manteigas, do Grupo Escolar Editora, contou à agência Lusa que este ano a feira será "um balão de oxigénio".
"A importância da feira é a máxima. O setor do livro sofreu grandes quebras e estamos todos numa expectativa que a feira corra minimamente bem, será um balão de oxigénio para podermos continuar todos a sobreviver neste ramo", disse.
Uns metros adiante, ocupando um quarteiro de pavilhões, está o grupo editorial Almedina, com Pedro Franco, responsável de vendas, a admitir à Lusa que há expectativas altas para esta edição.
"O setor do livro atravessa uma fase crítica, trouxemos tudo o que pudemos. Temos alguma expectativa nesta feira, porque para muitos editoras é uma tábua de salvação nesta fase", sublinhou.
Eduardo Sousa, fundador da Letra Livre, concorda com a realização da feira do livro -- adiada da primavera para o final do verão -, mas alerta para o fator "imprevisibilidade".
"A feira é importante, é bom que se realize, mas é imprevisível, ninguém sabe como é que vai correr. Além disso estamos numa fase de transferência de época, fim de férias, as pessoas têm menos dinheiro, e é o início da escola, vamos ver", disse à agência Lusa.
A 90.ª Feira do Livro de Lisboa começa na quinta-feira e termina a 13 de setembro.
Este ano voltará a haver a 'Hora H', com descontos mínimos de 50% em livros lançados há mais de 18 meses, funcionando entre segunda e quinta-feira, entre as 21h00 e as 22h00.