Portugueses mostram em documentário a América antes da eleição de Biden
O novo documentário 'One Week 'Til Doomsday', que retrata a América dividida uma semana antes das eleições presidenciais, foi produzido pela portuguesa Bibi Couceiro e teve o português Tomás Anderson como diretor de fotografia em Nova Iorque.
© Instagram/One Week 'Til Doomsday
Cultura Documentário
Filmado entre Los Angeles e Washington, D.C. na semana que antecedeu a eleição de 3 de novembro de 2020, em que Joe Biden venceu Donald Trump, este é um documentário de "comédia política" que acabou por mostrar um lado surpreendente dos Estados Unidos da América, disse à Lusa Bibi Couceiro.
"Começámos a viagem com uma perspetiva diferente da que acabámos. No início, íamos com a perspetiva de fazer mais uma comédia, ainda a falar de política", explicou a atriz e produtora. "Mas encontrámos tantas histórias que nos comoveram bastante, que realmente são importantes de falar e que não interessa se vêm de Republicanos ou Democratas, e o objetivo foi dar voz a essas histórias".
Bibi Couceiro viajou com o canadiano Connor Malbeuf, criador do documentário e a cara à frente das câmaras, a produtora Andrea Sabatino e o diretor de fotografia Taylor O'Neil, por 15 estados norte-americanos.
Mais do que conversas sobre os candidatos ou ideologias, a equipa encontrou testemunhos únicos e diversos, que espelharam desde o sofrimento das comunidades indígenas, muito afetadas pela Covid-19, até aos preconceitos vividos por 'drag queens' no Texas.
"Quando começámos a encontrar histórias que nos comoveram bastante, realmente decidimos que este era um documentário sobre pessoas, e apenas isso", descreveu Couceiro.
A equipa passou por Tulsa, em Oklahoma, onde falou com o reverendo da igreja que foi o único edifício que sobreviveu ao massacre de afro-americanos em 1921, falou com um membro do grupo de supremacistas brancos Proud Boys, entrevistou uma seguidora do movimento conspiracionista QAnon e falou com um autoproclamado "negro gay por Trump".
"Muitas pessoas nem sequer queriam dizer em quem iam votar", afirmou Couceiro. "O documentário mostra que não interessa de que lado é que se está, pode-se sentar e ter uma conversa sobre isto e sobre as perspetivas de cada um e perceber a sua história".
Apesar de reconhecer que "existe bastante ódio", a produtora também sublinhou que a equipa encontrou muita esperança por dias melhores, "que a América no futuro seja um bocadinho mais ligada entre os dois partidos e não haja tanto ódio só pela perspetiva política que cada um tem".
No final da rota planeada, em Washington, D.C., as coisas ficaram em suspenso porque não foi declarado nenhum vencedor na noite eleitoral.
Isso só viria a acontecer a 7 de novembro e a equipa decidiu filmar em Nova Iorque, onde se registaram festejos efusivos e duradouros. Foi aqui que o luso-americano Tomás Anderson se juntou ao documentário como diretor de fotografia.
"Foi uma onda de festejo e emoção que passou por Nova Iorque, pelas ruas, pelos parques, toda a gente com pósteres, megafones, pessoas em cima dos carros", descreveu Anderson à Lusa.
"Nova Iorque é um estado, e uma cidade, que não parece a América", explicou. "É tão diversa e tem tantas nacionalidades que não é dividida da maneira que a América está divida. Havia uma liberdade e uma energia enormes".
Ainda sem data definitiva de estreia, que deverá acontecer entre o final da primavera e o início do verão, 'One Week 'Til Doomsday' estará disponível para aluguer ou compra na Amazon Prime e na loja iTunes, sendo que a equipa está aberta a acordos de distribuição.
Existe também a ambição de voltar a fazer projetos semelhantes.
"Já pensei que quero fazer isto em Portugal", disse Bibi Couceiro, traçando um paralelo entre aquilo que divide e aproxima os portugueses e o que testemunhou nos Estados Unidos.
"Estamos sempre prontos para julgar e não estamos tão prontos para nos sentarmos com essa pessoa e ouvirmos", considerou, referindo que as divisões que se veem hoje na política fazem lembrar "a rivalidade do futebol que [se vive] muito em Portugal".
Tomás Anderson, que votou nas eleições presidenciais, sublinhou que passou "a vida inteira a comparar Portugal e a América" realçando os aspetos positivos dos dois países.
"Agora que tenho muito mais perspetiva sobre as coisas, vejo também o lado negativo, a divisão e as coisas que precisam de ser melhoradas", afirmou.
"A América votou, mas não mudou de um dia para o outro", acrescentou. "É o início da viagem, de tentar unir a América e desmanchar a divisão que se vê no documentário".
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