A abertura deste processo acontece quando há necessidade de "proteção e valorização" de bens que "representam valor cultural de significado para a Nação", segundo o anúncio n.º 114/2021, publicado na segunda série do DR de hoje, e emitido pela DGPC, organismo do Ministério da Cultura.
Exposto ao público no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), desde julho de 2016, depois de dois meses de restauro pelos técnicos da instituição, com mais sete pinturas de Domingos Sequeira, a obra foi alvo de um trabalho profundo de investigação e recuperação, depois de ter sido adquirida numa campanha pública de donativos.
Em 2015, a campanha de angariação de fundos para aquisição da tela "Adoração dos Magos" atingiu um total de 745.623,40 euros, ultrapassando largamente os 600 mil euros necessários para a aquisição, anunciados na altura.
Quando a nova ala de pintura antiga portuguesa foi inaugurada, o então diretor do MNAA, António Filipe Pimentel, declarou à Lusa que, de início, a "Adoração dos Magos" aparentava estar apenas carente de uma limpeza, mas quando foi observada com profundidade e precisão, "verificou-se que havia muito trabalho a fazer".
"O trabalho do museu não é apenas de expor as obras, mas também estudar e restaurar", disse, acrescentando que a pesquisa revelou igualmente muito do processo usado por Domingos Sequeira como artista.
Para o responsável, esta pintura revelou-se "muito importante não apenas pelo seu valor estético e plástico, mas também pelo valor simbólico da compra pelo público".
Esta foi a primeira campanha em Portugal de angariação de fundos para a aquisição de uma obra de arte para um museu público, e contou com a contribuição de milhares de cidadãos a título individual, instituições, empresas, fundações, escolas, juntas de freguesia e câmaras municipais, cujos nomes se encontram impressos em tela, à altura da escadaria de acesso ao piso onde se encontra o quadro.
Lançada em outubro de 2015, a campanha "Vamos pôr o Sequeira no Lugar Certo" tinha como objetivo ajudar o museu a adquirir a obra de Domingos Sequeira, pintada em 1828, da qual o MNAA possui o desenho final e vários preparatórios.
O MNAA tem no seu acervo cerca de 30 obras em pintura e desenho de Domingos Sequeira (1768-1837), cujo trabalho realizado nas primeiras décadas do século XIX se situa entre o Classicismo e o Romantismo, de um modo similar a Francisco de Goya, seu contemporâneo na cultura espanhola, segundo o museu.
Devido ao seu talento, Domingos Sequeira conseguiu proteção aristocrática e uma bolsa para se aperfeiçoar em Roma, onde privou com vários mestres e conquistou diversos prémios académicos.
Sobre a "Adoração dos Magos", escreve o museu no seu 'site': "No final da sua vida, Sequeira regressou a Roma, onde se dedicou a uma notável série de quatro pinturas religiosas em que esta 'Adoração dos Magos' se insere. Constituem, todas, um verdadeiro testamento artístico, em que se expressam não apenas as suas preocupações fundamentais sobre a cor, a luz e a forma, mas também a sua busca de uma síntese entre a tradição clássica e o romantismo. Notável pela prodigiosa modelação das figuras e da luz e pela estrutura da composição, esta é talvez a mais conseguida pintura de toda a série".
A aquisição foi considerada fundamental para o património artístico português, e para o próprio acervo do museu, que acolhe a mais relevante coleção pública de arte do país, em pintura, escultura, artes decorativas portuguesas, europeias e da Expansão Marítima Portuguesa, desde a Idade Média até ao século XIX.
Criado em 1884, o MNAA é um dos museus com o maior número de obras classificadas como tesouros nacionais.
Aberto o processo hoje publicado em DR, o quadro "Adoração dos Magos" fica "em vias de classificação", e "a constar do inventário".
Os elementos relevantes do processo, a respetiva fundamentação e despacho, estão disponíveis na página eletrónica da DGPC (www.patrimoniocultural.gov.pt Património/Património Móvel/Classificação e Inventariação de Património Móvel/Despachos de Abertura/Ano em curso), indica o anúncio do DR.
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