Desde os 10 anos que a música está na vida de Lázaro. Depois de três tentativas de 'vingar' em programas de talento musical, o ditado falhou – à quarta é que foi de vez. Com 22 anos, o artista, natural de Santarém, promete nunca deixar a 'sede' e o entusiasmo pela música de lado, apresentando-se ao público português com o primeiro single ‘Camomila’.
O jovem que, em 2020, integrou a equipa do cantor Diogo Piçarra no programa 'The Voice', assume ser "muito diferente da generalidade dos músicos em Portugal", tendo a ambição de conquistar não só terras lusas, mas também o mundo. Ainda que tenha preferência pela língua portuguesa, admite que, pelo sonho, fará "o que der".
De conversa fácil e pés bem assentes na terra, Lázaro desvenda ao Notícias ao Minuto a receita para o sucesso, esperando que 2022 seja o ano da sua afirmação no panorama musical português em R&B, Soul e Pop – e consiga, assim, dedicar-se à arte a 100%.
Já tinha tentado participar no ‘The Voice’ duas vezes e nunca tinha passado às provas cegas. Ao ver aquele e-mail, nem queria acreditar. Pensei que fosse ‘fake’
Como é que surgiu o ‘bichinho’ pela música? Como é que chegou até ‘aqui’?
A música apareceu mais ou menos quando tinha 10 anos. Já cantava, mas aprender instrumentos foi aos 10 anos, quando comprei a minha primeira guitarra. Até agora tendo sido autodidata na guitarra. Depois, mais ou menos aos 14 anos, comecei a escrever - escrevia na escola, nos intervalos, com amigos. Quando acabei o secundário pensei, ‘se calhar é mesmo a música que quero seguir’. Fui para a ETIC, tirei o curso de Produção e Direção Musical e, depois do curso, aconteceu o ‘The Voice’. E agora, estou ‘aqui’.
© D.R.
De onde surgiu a ideia de participar no ‘The Voice’ e como é que foi essa experiência?
Depois de acabar a faculdade disse, ‘agora vou arranjar um trabalho ‘normal’, vou continuar a fazer as minhas músicas e, quando der para viver da música, deixo esse trabalho’. Já estava com entrevista de emprego marcada. Estava em casa, e recebo um e-mail da produção do ‘The Voice’, a dizer que viram o meu Instagram, que gostaram muito do que viram, e que queriam que eu participasse no programa. Já tinha tentado participar no ‘The Voice’ duas vezes e nunca tinha passado às provas cegas. Ao ver aquele e-mail, nem queria acreditar. Pensei que fosse ‘fake’.
Lembro-me de ir para o carro com a minha mãe e de lhe ter dito, ‘olha, já não vou trabalhar, vou ao ‘The Voice’. Ela até me disse, ‘outra vez?!’. Já tinha ido uma vez ao Ídolos, com os jurados, mas não passou na televisão, e depois fui duas vezes ao ‘The Voice’ e não deu em nada. Já me tinha mentalizado de que teria de fazer as coisas por mim e deixar os programas de televisão de parte. Participei e o resultado foi o que queria – o meu objetivo não era ganhar o programa, era ganhar visibilidade e que a Universal Music Portugal viesse falar comigo para começarmos a trabalhar, e foi isso que aconteceu.
Passado uma semana de o programa ter acabado, recebo o contrato em casa – o contrato que tinha assinado por causa do ‘The Voice’. Pensei, ‘isto é um bocado estranho’. Depois recebi um e-mail da Universal Music Portugal a dizer que queriam reunir e já sabia mais ou menos o que é que vinha aí, mas sempre naquele impasse. ‘Será que é? Será que não é?’ Quando desliguei a chamada do Zoom, comecei a gritar pela casa. Era mesmo este o objetivo, conseguir ganhar uma equipa que acreditasse no meu trabalho e que pudéssemos crescer juntos, e acho que isso está a acontecer.
E já consegue viver da música?
Ainda não. Ainda trabalho, mas estou a contar este ano sair e conseguir viver da música a 100%. Ainda não deixei [o trabalho] por causa daquele medo que temos, porque ainda não deu ‘certo certo’. Tenho a certeza de que vai dar, mas é sempre aquela coisa do ‘vai, não vai’. Acho que quando não tiver tempo para ter outro trabalho se não a música vou ter de abdicar desse trabalho, felizmente, e viver só da música.
Há muita ‘malta’ que conheço que é capaz de me dizer que não tem dinheiro para uma produção, mas depois é capaz de sair três vezes por semana. Acho que tens de dar prioridade a ter um trabalho coeso e bem feito
Qual a sua perspectiva enquanto músico que está a dar os primeiros passos em Portugal, um país que, infelizmente, investe pouco na cultura? Como é que se ultrapassam os obstáculos?
Primeiro é o trabalho, o empenho, a responsabilidade e a credibilidade que dás ao teu trabalho. Credibilidade e saber dar valor ao trabalho é um passo muito importante. Saber onde fazer investimentos enquanto artista [também é muito importante]. Há muita ‘malta’ que conheço que é capaz de me dizer que não tem dinheiro para uma produção, – e diz que quer mesmo viver da música –, mas depois é capaz de sair três vezes por semana. Acho que tens de dar prioridade a ter um trabalho coeso e bem feito. Não é preciso um videoclipe de dois, três mil euros para fazeres uma coisa incrível. Mais vale uma coisa minimalista e bem feita, do que tentar complicar e não conseguir chegar ao objetivo.
‘Networking’ também acho super importante; teres mais influências, falares com pessoas que admiras e que reconheces que te podem ajudar e que são sinceras. Acho-me muito diferente da generalidade dos músicos em Portugal; a ‘Camomila’ é uma música Pop, mas tenho coisas para lançar que não vejo a serem feitas em Portugal, e o ser diferente e fiel a ti próprio são coisas muito importantes, porque as pessoas também sentem isso. Se não estás a ser fiel a ti próprio, as coisas não correm bem e sente-se através da música.
Quais as suas referências e inspirações?
Os meus pais, é obrigatório. Trabalham desde muito cedo; o meu pai é o homem mais trabalhador que já vi. Mesmo não me influenciando em termos de [rendimento escolar], por estar sempre a trabalhar, influenciou-me com o trabalho árduo que mete no restaurante, é uma coisa que nunca vi. Inspiro-me muito em amigos artistas que ainda estão ‘no grind’, em termos da vontade que têm de ser igual a mim, e isso é mesmo bonito. Enviares uma ‘demo’ e eles passarem-se; é disso que gosto, de sermos uns para os outros.
Já tive artistas a quem mandei uma música para um ‘featuring’ e [que disseram que gostaram muito], mas depois estive dois meses à espera que me gravassem um verso. Quando te comprometes a fazer uma coisa e dás ‘hype’ ao artista com quem estás a falar, acho que deves cumprir. Tenho outros artistas [que dizem o mesmo e], passado horas, já tenho o verso, e são artistas que não têm visibilidade. Acho que essa sede do querer e do “querer furar” é muito importante, e nunca vou perder isso.
Um músico que não só me inspira pela música, mas pelo percurso que teve, é o Lon3r Johny. Se estivesse na posição dele há três anos, teria desistido. Levou tanta bofetada, comentários horríveis, mas agora está a encher tudo. Nunca desistiu e, agora, se calhar, quem estava dizer coisas horríveis está na primeira fila. Lá fora, o Tyler, the Creator. O homem escreve, produz, faz tudo, e das entrevistas que vi é uma pessoa em que me revejo muito.
A ‘Camomila’ é o reflexo de pessoas que sofreram no passado e agora têm medo de encontrar ou de enfrentar um novo amor
Qual a mensagem que pretendia transmitir com o seu novo single ‘Camomila’?
A ‘Camomila’ é uma música que fala de tudo. É uma história de transição própria, em que falo sobre uma pessoa de que gosto muito, mas ao mesmo tempo não sabia se deveria arriscar, por experiências passadas. Falo também sobre o amor próprio que devemos ter, que é dos amores mais importantes para conseguirmos amar outras pessoas. Antes de amar alguém temos de nos amar a nós próprios, e foi nesse momento de transição que percebi que, se calhar, não era a altura certa para amar outra pessoa – tinha de me amar primeiro. A ‘Camomila’ é o reflexo de pessoas que sofreram no passado e agora têm medo de encontrar ou de enfrentar um novo amor.
O que é que o futuro lhe reserva?
Espero lançar outro single antes do verão. Agora é single a single, depende muito dos números que atingir. Se calhar para o ano temos álbum, espero eu. Quando for lançar um álbum, quero ter um público sólido que o consuma, e que o consuma bem. Além disso, quando tenho inspirações como o Tyler, The Creator e o Frank Ocean, que têm álbuns que vão ficar para a história, quero fazer um álbum que tenha ligação, do início ao fim, que seja uma viagem, que prenda as pessoas. O objetivo é dizerem ‘não saltei música nenhuma, foi do início ao fim, foi uma viagem do caraças, e senti muitas coisas’. É essa sensação que quero transmitir com o meu álbum. Daqui a cinco anos espero estar no Coliseu dos Recreios, e daqui a 10 na Altice Arena.
[É para] conquistar Portugal e depois conquistar lá fora. Se der para fazer em inglês, faço, nunca esquecendo o português. Adorava que desse para ser em português, porque acho que cada vez estamos maiores. Se não der para ser em português [lá fora], fazemos em inglês, fazemos um álbum metade em inglês, metade português, fazemos o que der.
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