Gulbenkian sobre Paula Rego. "Das mais extraordinárias artistas"
A Fundação Calouste Gulbenkian lamentou, esta quarta-feira, "profundamente" a morte da pintora Paula Rego, aos 87 anos, em Londres, classificando-a como "uma das mais extraordinárias artistas nacionais", com quem manteve estreitos laços desde sua bolseira, nos anos 1960.
© Márcia Lessa - Fundação Calouste Gulbenkian
Cultura Paula Rego
A artista morreu em casa na manhã desta quarta-feira, junto dos filhos, indicou à agência Lusa o galerista Rui Brito.
Em comunicado, o conselho de administração da Fundação Gulbenkian relembrou a "ligação histórica" da entidade a "uma artista ímpar no panorama internacional, que deixa um legado inesquecível".
A instituição exprime ainda "orgulho pela recente aquisição da sua icónica pintura 'O Anjo´" (1998), que em fevereiro deste ano reforçou a coleção do Centro de Arte Moderna (CAM), a par de "O Banho Turco" (1960), "tornando a Gulbenkian na instituição privada com o maior e o mais significativo acervo da artista", constituído por 37 obras, entre pintura, desenho e gravura.
Na altura, Paula Rego exprimiu a sua "grande felicidade" por saber que dois dos seus quadros mais importantes "iriam viver na Gulbenkian", recordou a fundação no comunicado enviado à Lusa.
"Uma gratidão que fazia sempre questão de sublinhar desde que foi bolseira da fundação", acrescenta.
O conselho de administração aponta ainda que a morte de Paula Rego ocorre "numa etapa decisiva da sua consagração internacional, após ter exposto com enorme êxito mediático em Paris", no museu L'Orangerie, em 2018, em Londres, na Tate Britain, em 2021, e no Kunstmuseum, de Haia.
Recentemente, a mesma mostra foi inaugurada no Museu Picasso de Málaga, tendo uma representação especial na Bienal de Arte de Veneza, onde a curadora-geral, Cecilia Alemani, decidiu dar-lhe destaque nesta edição com uma sala própria.
Atualmente, a sua obra integra também a exposição "Tudo o que eu Quero. Artistas Portuguesas de 1900 a 2020", em Tours, França.
"Unida pela coerência e consistência dos temas e pela inconfundível marca da sua identidade, a obra de Paula Rego - desde o final dos anos 1950, ainda enquanto estudante na Slade School, até aos dias de hoje -, tem atravessado uma compulsiva necessidade de se renovar formalmente, com vários ciclos identificáveis e temporalmente definidos", assinalou o comunicado enviado à Lusa.
A Gulbenkian assinalou, ainda, na obra da pintora radicada no Reino Unido, a "incansável procura de temas que a conduzem à representação do drama (ou comédia) humano, no implacável escrutínio da sua complexa natureza ética e moral".
A Gulbenkian considera que "ninguém melhor que Paula Rego para clarificar, com simplicidade desarmante, o âmbito temático do seu trabalho, que por múltiplas formas que tome, tem sido invariável, como se pode ler nas suas palavras".
"Mandar nas pessoas. Obediência. Subversão. Fazer bem às pessoas más, fazer mal às pessoas boas. Poder. Desigualdade entre os sexos. Os homens mandam nas mulheres em geral. As mulheres às vezes mandam, mas é de outra maneira. A relação entre os sexos. É isso. Não é preciso mais", cita, no comunicado de pesar.
A fundação salientou ainda que "a abordagem [de Paula Rego] é sempre ética, pedagógica e o propósito transformador das consciências e dos comportamentos".
Paula Rego expôs na II Exposição de Artes Plásticas (1961) da Fundação Gulbenkian e em 1961/1962 recebeu uma bolsa de estudos.
Em 1988, o CAM organizou uma exposição retrospetiva da artista, no ano seguinte foi nomeada Senior Fellow do Royal College of Art e, em 1990, tornou-se na primeira artista a usar a nomeação de associada da National Gallery, em Londres.
Em 2012 expôs também a sua obra na delegação em França da Fundação Gulbenkian.
Paula Rego estudou nos anos 1960 na Slade School of Art, em Londres, onde se radicou definitivamente a partir da década de 1970, mas com visitas regulares a Portugal, onde, em 2009, foi inaugurado um museu que acolhe parte da sua obra, a Casa das Histórias, em Cascais.
Nascida a 26 de janeiro de 1935, em Lisboa, a artista foi galardoada, entre outros, com o Prémio Turner em 1989, e o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso em 2013, além de ter sido distinguida com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada em 2004. Em 2010, recebeu da rainha Isabel II a Ordem do Império Britânico com o grau de Oficial, pela sua contribuição para as artes.
Em 2019, recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Governo de Portugal.
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