A estreia acontece em salas de Coimbra e Porto, cerca de dois anos após a primeira exibição do documentário em festivais internacionais de cinema, nos quais acumulou nove prémios, entre os quais o de melhor filme, melhor longa-metragem, melhor documentário e melhor realizador emergente, segundo informação da produtora O Olhar de Ulisses.
Na estreia, será apresentada igualmente uma exposição de fotografia de Luís Costa, sobre o último dia no bairro social do Aleixo, antes da demolição.
"A Nossa Terra, O Nosso Altar", primeira longa-metragem de André Guiomar, e primeiro filme da produtora, "testemunha as últimas rotinas no quotidiano do bairro social do Aleixo, marcadas pela tensão de um destino forçado", lê-se na sinopse do filme. "Entre a queda da primeira e da última torre, o processo de demolição arrastou-se durante anos, deixando a vidas dos moradores em suspenso".
O documentário documenta, assim, em perto de 80 minutos, a realidade dos habitantes "obrigados a aceitar o fim da sua comunidade", assistindo "de forma impotente à lenta desfiguração do seu passado".
"A Nossa Terra, O Nosso Altar" começou por sair do papel em 2013, quando André Guiomar trabalhava como assistente de produção noutro projeto, tendo "o privilégio de entrar no bairro", contou o realizador à agência Lusa, quando da estreia do filme no festival Porto/Post/Doc, em novembro de 2020.
Até então, aquela urbanização "estava riscada dos mapas dos turistas e tinha uma sombra em volta que levava automaticamente as pessoas a não querer aproximar-se ou cruzar as suas ruas".
"Eu também tinha esse estigma. Consegui conhecer o bairro, as pessoas, a dinâmica. Percebi que havia uma urgência de memória, uma urgência histórica de como recordar o bairro, de como as pessoas que saem de lá recordavam os seus próprios tempos, e uma certa injustiça social", explicou o realizador, na altura, em entrevista à agência Lusa.
Assim, montou "uma equipa de urgência" para filmar "uma comunidade única que ia desaparecer", que já vinha "de um sítio hostilizado que era a Ribeira" antes do estabelecimento do bairro, em 1974.
Sem financiamento e com material emprestado, e no ano em que já tinham sido demolidas a quinta e quarta torres, a equipa pensou "que tinha o documentário gravado", mas "o processo entrou em latência" e só em abril de 2019, quando os moradores tiveram de abandonar as suas casas, o desfecho se concretizou.
André Guiomar voltou então "a um bairro completamente diferente, a quem tinham arrancado todas as estruturas de sobrevivência social daquela comunidade", como "a escola, os cabeleireiros, os 'ATL', o bar onde se encontravam".
"Sobrava o esqueleto, umas torres à espera de virem abaixo, e uma comunidade que ficou sem forças para lutar contra isso. Passados oito anos, estavam exaustos do processo. Foi o que encontrei", disse então à Lusa.
A estreia de "A Nossa Terra, O Nosso Altar" encontra-se agendada para dia 28 de julho, nas cidades do Porto e Coimbra.
O filme é produzido pela Olhar de Ulisses e pela Cimbalino Filmes, com o apoio da Escola das Artes e do Instituto do Cinema e do Audiovisual, com distribuição da Nitrato Filmes.
Selecionado para festivais como os de Bilbao (onde teve estreia mundial em setembro de 2020), de Kiev, Linea d'Ombra, de Itália, Kitzbuehel, da Áustria, e para os portugueses Porto Post Doc, DocLisboa, Caminhos do Cinema Português, CineEco, "A Nossa Terra, O Nosso Altar" foi distinguido, até agora, com nove prémios, como os de Melhor Longa-Metragem, Melhor Documentário, Melhor Filme e de Melhor Realizador Emergente, em diferentes certames.
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