"Nunca nada aconteceu" é uma ficção que entrecruza três histórias: António, um homem do campo, viúvo, que aceita ir viver para casa do filho na cidade; Jorge, o filho, desempregado e com o casamento em ruínas; Pedro, o neto, desorientado na adolescência e que embarca num pacto fatal com dois amigos.
No elenco deste filme estão Rui Morrison, Filipe Duarte - numa das suas últimas prestações no cinema antes de morrer, em 2020 - e Bernardo Lobo Faria. No filme entram ainda Ana Moreira, Alba Baptista e Miguel Amorim.
Inspirada em factos reais, a história tem argumento de Tiago R. Santos a partir de uma ideia de Luís Filipe Rocha.
"Tinha um fascínio muito grande pela história e pelas personagens e decidi que era o projeto que eu queria. Foi isso que me tocou, essa transversalidade das três gerações, de alguém que caminha para o fim, de alguém que está no meio, que é um limbo, e os três jovens em que tudo é futuro, mas que não sabem se acreditam", afirmou Gonçalo Galvão Teles.
A produtora Fado Filmes apresenta "Nunca nada aconteceu" como a estreia de Gonçalo Galvão Teles a solo, embora o realizador tenha assinado um telefilme, "Teorema de Pitágoras", em 2001.
Nos anos seguintes fez três curtas-metragens e depois dividiu a responsabilidade da realização de dois filmes com outros realizadores: Com o pai, Luís Galvão Teles, em "Gelo" (2016) e com Jorge Paixão da Costa em "Soldado Milhões" (2018), até chegar a "Nunca nada aconteceu".
"Eu sinto que o fiz com a energia de um primeiro filme, de uma descoberta de quem sou como realizador e com essa total liberdade para criar. Sinto que quer o 'Gelo' quer o 'Soldado Milhões' têm uma grande marca minha, mas este é o filme que melhor me representa enquanto realizador", admitiu Galvão Teles.
Assumindo essa estreia em nome próprio, Gonçalo Galvão Teles acredita que o essencial de um filme são os atores e as suas personagens.
"Pode-se fazer um filme formalmente muito bonito, esteticamente forte, mas sem os atores e as personagens acaba por ser um bocadinho um exercício formal. Para mim, tudo parte das personagens e do trabalho com os atores, sobretudo num filme como este. Que não resvalasse nunca nem para um registo mais televisivo ou para um registo mais de puxar à lágrima ou de tragédia. Encontrar o tom justo com eles foi a minha busca essencial ao longo do processo", opinou.
Gonçalo Galvão Teles, 49 anos, começou o percurso no cinema na escrita de argumento, passou para a realização e tem trabalhado atualmente mais em produção para cinema e televisão.
"De certa forma inconsciente, fiz uma transição natural para realizar argumentos escritos por outros, onde sentia mais liberdade do que filmar coisas a partir de mim", disse.
"Nunca nada aconteceu" deveria ter chegado aos cinemas em 2020, mas a estreia foi sendo adiada, não só pelo "processo difícil" da morte do ator Filipe Duarte, como pelas várias vagas da pandemia da covid-19, que paralisaram a atividade económica e cultural.
Gonçalo Galvão Teles quer que a longa-metragem, além da estreia no circuito comercial, circule por auditórios e salas independentes e que haja sessões temáticas para escolas, em coordenação com a Comissão Nacional para a Saúde Mental.
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