"Este ano entendemos em conversas, olhando para os artistas, olhando para o estado de alma dos nossos parceiros [...], que deveríamos durante este ano [...] trabalhar os temas 'Trauma e Bravura'", declarou o diretor artístico do FITEI, Gonçalo Amorim, durante a conferência de imprensa de apresentação da programação do festival, nas caves de vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia.
Gonçalo Amorim explicou que o tema "Trauma" surge por causa da sequência de "três traumas seguidos: a crise migratória com muita gente a morrer antes de chegar à Europa, a pandemia e a guerra na Ucrânia".
Por seu lado, o tema da "Bravura" tanto pode relacionar-se com a bravura da "mãe que agarra o filho nos braços para atravessar na balsa o Mediterrâneo", como da "mãe solteira de Portugal que tem três empregos para aguentar o barco", acrescentou o diretor artístico do festival, que vai acontecer também em Matosinhos, Vila Nova de Gaia e Viana do Castelo.
A 46.ª edição do FITEI arranca a 10 de maio com o espetáculo "#5 Bochizami", uma criação de Flávia Gusmão, em coprodução com o FITEI, que se estreia no subpalco do Rivoli, no Porto.
"É a terceira parte de uma trilogia que ela [Flávia Gusmão] dedica a uma ativista cultural e artista cabo-verdiana Samira Pereira (1976- 2021), que morreu de covid-19 durante a crise pandémica", disse Gonçalo Amorim.
Trata-se de um "'travelling' sobre a paragem do tempo que é o luto. É um 'travelling' pelas memórias individuais e coletiva, reais ou ficcionadas", lê-se no dossiê de imprensa entregue aos jornalistas.
No dia 11, no Teatro Carlos Alberto, no Porto, chega o espetáculo "Cosmos", de Cleo Isabel, Isabél Zuaa e Nádia Iracema.
A interpretação de "Hamlet", de Chela de Ferrari vai levar um grupo de pessoas com síndrome de Down ao palco do Teatro Nacional São João, no Porto, no dia 12 de maio.
Segundo Gonçalo Amorim, a peça da companhia peruana é uma estreia nacional, que tem como ponto de partida a pergunta sobre a existência "Ser ou não ser", que é construída a partir do texto de Shakespeare e a vida dos atores, e o que significa ser para as pessoas que não conseguem encontrar espaços onde não são consideradas.
"Morria", do espanhol Mario Veja, é outra estreia nacional, e conta a história de duas refugiadas e suas famílias que são forçadas a fugir do seu país e que se baseia em testemunhos reais filmados no campo de refugiados de Moria, na Grécia, com a supervisão de Nicolas Catellano, um jornalista que passou os últimos 20 anos a fazer reportagens sobre movimentos migratórios forçados e direitos humanos.
O espetáculo chega ao Porto e segue para Viana do Castelo, para o Teatro Sá de Miranda.
A estreia absoluta de "Piloto", uma coencenação de Joana Magalhães, Mafalda Lencastre e Maria Inês Marques, em coprodução com o FITEI, é outra peça em destaque da organização do festival, que vai ser acolhida no Teatro Campo Alegre.
A peça reúne um grupo multidisciplinar para projetar um parque de diversões temático que permite experienciar a adrenalina de forma controlada, "um simulacro do que poderia ser a vida real caso tudo corresse bem", lê-se no dossiê de imprensa.
"O Sistema", de Cristina Planas Leitão, "Limbo" de Victor Oliveira, "Subterrâneo, um Musical obscuro", dos portugueses Má-Criação com os brasileiros Foguetes Maravilha e Dimenti, "Ibérica setor 5", da companhia Visões Úteis, ou "Se eu fosse Nina", de Rita Calçada Bastos, inspirada em "A Gaivota" de Tchekov, são outros dos destaques do FITEI 2023.
O festival tem também uma programação musical e apresenta projetos com várias escolas do Porto, terminando no dia 21 de maio.
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