Homilia de Ethel Cain e culto a Florence marcam o segundo dia de Kalorama

Os fiéis festivaleiros marcaram presença em peso para assistir ao regresso a solo nacional do 'terramoto' Florence + The Machine, não tendo deixado de lado a emergente Ethel Cain e a sua 'missa' de estreia.

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Daniela Filipe, Hélio Carvalho
02/09/2023 09:21 ‧ 02/09/2023 por Daniela Filipe, Hélio Carvalho

Cultura

Meo Kalorama

E eis que chegou o dia do 'furacão' Florence. Ao fim de um ano da sua passagem pelo festival NOS Alive, os míticos Florence + The Machine voltaram a pisar os palcos nacionais, desta vez no Parque da Bela Vista. Depois de ter sido submetida a uma cirurgia de urgência que quase colocou o espetáculo no MEO Kalorama em risco, Florence Welch mostrou de que fibra é feita e levantou toda a poeira (e mais alguma). Antes do culto, contudo, a estreia de Ethel Cain em Portugal não se ficou atrás em termos de seguidores, provando que é um nome que vale a pena acompanhar.

Nem mesmo a hora de jantar fez os festivaleiros arredar pé dos lugares marcados junto ao Palco MEO, onde a 'tempestade' estava prestes a chegar. No registo a que já nos habituou, – ainda que mais comedido, devido à recente intervenção cirúrgica de que foi alvo –, Florence Welch meteu o mar de gente que ali acorreu a saltar e a 'ferver'.

Entre abraços e cânticos de olhos nos olhos com os fãs da primeira fila, a vocalista dos Florence + The Machine mostrou que é, de facto, merecedora do título de 'rainha', tendo percorrido todos os cantos e recantos do palco principal com o seu vestido esvoaçante, que nem feiticeira a lançar a sua magia sobre a multidão.

"É tão bom estar aqui com vocês. Estava a sentir-me um pouco frágil, mas cheguei e senti-me abraçada e segura. Obrigada", disse, a dado momento, tendo confessado que queria "ter uma amiga ali a segurar-lhe a mão". E assim foi. Dedos com dedos, palmas com palmas, Florence Welch e Ethel Cain presentearam os festivaleiros com 'Morning Elvis', antes do ritual "muito importante" de deixar os telemóveis de lado e de "viver no momento".

A plateia dançou, a plateia saltou, a plateia vibrou, tendo transferido uma "energia curativa" à artista, que se mostrou repetidamente agradecida pelo apoio contínuo. "Estava nervosa com este espetáculo, mas tornaram-no tão fantástico", disse, emocionada. Cantou, até, 'Never Let Me Go', tema ao qual se seguiu a popular 'Shake It Out', num espetáculo que teve poeira, teve energia, e teve amor.

Passava pouco das 17h00 quando Hayden Silas Anhedönia pisou o palco secundário do festival. O sol e calor que se faziam sentir deram lugar a um céu melancólico e cinzento, quase um prefácio da homilia que estava por vir. Ethel Cain, como é conhecida profissionalmente, arrancou gritos assim que os primeiros acordes de ‘A House in Nebraska’ soaram, culminando num sonante “I’m the reason you won’t come home” (“Sou a razão pela qual não voltas para casa”, em português) entre a multidão.

Apesar da hora, os seguidores da Mother Cain marcaram presença na sua primeira ‘missa’ em território nacional em força, tendo as primeiras filas sido brindadas com o tema mais popular da artista, ‘American Teenager’, bem de perto, abraçada pelas grades.

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Entre obrigadas e declarações de amor por parte dos fiéis que ali se reuniram, a jovem de 25 anos fez-se acompanhar por Florence Welch – que atuaria mais tarde no palco principal, com os seus The Machine – para ‘Thoroughfare’, um tema “um bocado ‘yeehaw’”, do álbum que veio apresentar, ‘Preacher's Daughter’. De harmónica em punho, o mar de gente ouviu atentamente os ritos etéreos das oradoras, cujo fim chegou com um abraço.

“God loves you, but not enough to save you” (“Deus ama-te, mas não o suficiente para te salvar”, em português), do tema ‘Sun Bleached Flies’, foi, também, elevado a cântico, naquela que foi uma atuação que terminou da mesma forma que começou – junto à plateia. De olhos nos olhos com alguns sortudos da primeira fila, Ethel Cain serenou ‘Crush’, do EP ‘Inbred’, antes da despedida.

“Obrigada, Portugal! Foi um primeiro concerto fantástico”, assegurou.

Um dia que soube a dois festivais: primeiro o amor, depois a confusão

A noite fechou com o house confuso, desconcertante, por vezes feio e bruto, mas acima disso constantemente experimental e evolutivo, que tem no seu maior embaixador o projeto de Richard David James, que conhecemos como Aphex Twin.

Não é possível concentrar o estilo de Aphex Twin numa só palavra, numa só expressão. De repente vemo-nos embrenhados na escuridão, a música pujante a entrar-nos pela pele, mais do que pelos ouvidos, e tentamos dançar, sem sucesso. Esta música é apenas para sentir, aceitando a confusão, olhando para o horizonte pintado por lasers e pela estrutura cúbica que se ergue no topo do palco.

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Antes da bomba de energia largada por Florence Welsh, houve o indie rock veterano e fenomenal dos Belle & Sebastian, que chegaram dez minutos atrasados, com problemas técnicos no teclado de Stuart Murdoch e, ainda assim, criaram um daqueles concertos que vão ficar imprimidos nos corações dos mais velhos e nas memórias dos mais novos.

À frente de uma ‘frontline’ cheia de flores que já olhava para os relógios a ver quando vinha Florence + The Machine, o histórico grupo escocês, que saltou para a ribalta nos anos 90 e que nunca parou de ganhar classe desde então, arrancou com calma, com ‘The State I Am In’ (corria o ano de 1995 quando o tema foi lançado), mas rapidamente fez toda a gente esquecer que havia mais música e que era preciso poupar energias. Não vale a pena: com estes “velhos” - o próprio Murdoch assim o admitiu -, é demasiado difícil ficar parado ou sério.

Passando por temas “mais velhos do que vocês”, como ‘She’s Losing It’, pelo desenrasque de ‘The Boy with the Arab Strap’ (o teclado teimava em não deixar a banda tocar, mas Chris Geddes lá emprestou um Rolland e houve júbilo dentro e fora de palco), e até por uma cover de ‘Satisfaction’ (que uma fã conseguiu arrancar do líder da banda enquanto este tirava ‘selfies’, os Belle & Sebastian deixaram bem claro que velhos são os trapos, que “nunca há demasiado amor” e que não há intempérie que pare esta ternurenta tempestade.

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No palco San Miguel, French Kiwi Juice (que nos ajuda, abreviando-se para FKJ) foi uma mistura de instrumentos quase tão complexa e saborosa como o nome que traz, rodeado de teclados, de cordas, de tudo o que podia pegar até não ter braços para mais. FKJ aproveitou um público curioso, sem saber bem ao que vinha, e surpreendeu (pelo menos para nós que, como muitos, fomos à descoberta) com uma compilação suave e equilibrada de blues e de eletrónico; foi pouco tempo, mas ficou a sensação de que ainda há muito para ele, e nós, explorarmos juntos.

O MEO Kalorama termina este sábado no Parque da Bela Vista, em Lisboa, com o antecipado regresso dos Arcade Fire a Portugal. Os Foals e os clássicos The Hives, juntamente com Pablo Vittar, Siouxsie e Dino D’Santiago, são os principais nomes do último dia do festival.

Leia Também: Prodigy rebentam com os céus de Lisboa à boleia da nostalgia dos Blur

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