'Dahomey' de Mati Diop vence Urso de Ouro do Festival de Berlim
O documentário 'Dahomey', da realizadora franco-senegalesa Mati Diop, que aborda a questão da restituição, pelas antigas potências coloniais, de obras de arte roubadas em África, conquistou hoje o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim.
© Andreas Rentz/Getty Images
Cultura Festival de Cinema de Berlim
Neste 74.º Festival Internacional de Cinema de Berlim - Berlinale, ao premiar um filme que aborda frontalmente a questão pós-colonial, o júri, presidido pela atriz mexicana-queniana Lupita Nyong'o, a primeira personalidade negra a ocupar o cargo, manteve-se fiel à tradição política do festival.
O Grande Prémio do Júri do festival, o segundo galardão em importância, foi para 'A Traveler's Needs', do sul-coreano Hong Sangsoo, um filme que tem como protagonista a atriz francesa Isabelle Huppert, enquanto o Prémio do Júri foi atribuído a 'L'Empire', do cineasta francês Bruno Dumont.
O Urso de Prata para a Melhor Realização foi para 'Pepe', do dominicano Nelson Carlos de los Santos Arias, dedicado às questões da identidade, processos migratórios e colonialismo.
'Dahomey' é o segundo filme africano a ganhar o Urso de Ouro, depois de, em 2005, ter vencido o filme sul-africano 'U-Carmen e-Khayelitsha' ('Carmen of Khayelitsha'), de Mark Dornford-May.
"Como cineasta franco-senegalesa de origem africana, escolhi fazer parte daqueles que se recusam a esquecer, que se recusam a utilizar a amnésia como método", declarou Mati Diop ao receber o seu prémio, na cerimónia, em Berlim, acrescentando que era "solidária com os senegaleses que lutam pela democracia e pela justiça".
Mati Diop declarou também, ao receber o Urso de Ouro, a sua "solidariedade com a Palestina".
'Dahomey' conta a história do regresso ao Benim, em novembro de 2021, de 26 obras de arte saqueadas em 1892 pelas tropas coloniais francesas, uma iniciativa iniciada nos últimos cinco anos pelas antigas potências ocidentais, nomeadamente França, Alemanha e Bélgica.
Mati Diop, filha de um músico senegalês, Wasis Diop, e de mãe que trabalha também na área das artes, que nasceu e cresceu em Paris, já tinha ganho o Grande Prémio em Cannes em 2019 por 'Atlantique', a mais alta distinção depois da Palma de Ouro.
Quanto à interpretação, o prémio principal da Berlinale foi para Sebastian Stan, pelo papel em 'A Different Man', de Aaron Schimberg, sobre um homem que recomeça a vida depois de ter o rosto desfigurado, e na secundária venceu a atriz Emily Watson, em 'Small Things Like These', de Tim Mielants, sobre os abusos sexuais na Igreja irlandesa.
O prémio para o melhor argumento foi para o alemão Matthias Glasner, também realizador de 'Sterben', uma tragicomédia familiar em parte autobiográfica, e o melhor documentário recaiu em 'No other land', realizado por um coletivo palestiniano-israelita formado por Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham y Rachel Szor, projetado na secção Panorama.
No programa "Encontros", onde teve estreia mundial o filme 'Mãos no fogo', da realizadora portuguesa Margarida Gil, o júri distinguiu "Dormir de olhos abertos", da realizadora alemã Nele Wohlatz, numa coprodução entre o Brasil, Taiwan, Argentina e Alemanha.
No festival marcaram ainda presença no programa 'Fórum', 'As noites ainda cheiram a pólvora', do moçambicano Inadelso Cossa, e 'Ressonância em espiral', de Filipa César e Marinho de Pina, ambos com coprodução portuguesa.
O 74º. Festival de Cinema de Berlim termina no domingo.
Leia Também: Correntes d'Escritas encerram com alerta sobre ameaças à liberdade
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com