A 68.ª edição do Festival Eurovisão da Canção, que a Suíça venceu com uns estonteantes 591 pontos, não passou sem polémicas associadas à participação de Israel e ao conflito entre o país e o movimento radical Hamas.
Do lado de fora da Malmö Arena, no sábado, manifestantes - entre eles a ativista sueca Greta Thunberg - faziam-se ouvir contra a participação dos israelitas na final do concurso, e iolanda, a artista que levou Portugal ao 10.º lugar nesta edição da Eurovisão, quis também aportar o seu 'grão de areia' à expressão de desagrado com a atual situação na Faixa de Gaza.
O padrão que iolanda imprimiu nas suas unhas, durante a final, é precisamente o padrão do popular 'keffiyeh', lenço que é símbolo da resistência palestiniana e que se tem tornado imagem constante nas manifestações pró-Palestina, um pouco por todo o mundo.
O caso gerou polémica nas redes sociais, nomeadamente no Instagram, onde a organização da Eurovisão partilhou, segundos após a 'performance' de cada país, um vídeo da mesma. Quando chegou a vez de Portugal, vários utilizadores acusaram prontamente a organização de publicar imagens da primeira semifinal, e não da final, tal como tinha acontecido com os restantes concorrentes.
"As unhas incomodam a União Europeia de Radiodifusão (EBU)?", questionou uma utilizadora, ao passo que outro disse: "Onde está o vídeo da final? Este é da semifinal. As unhas incomodam assim tanto?".
No vídeo publicado pela Eurovisão no Instagram, percebe-se que as unhas da artista não têm o referido padrão do 'keffiyeh', como pode verificar em baixo:
Este não foi, porém, o único 'pedacinho' da Palestina que a artista portuguesa levou a Malmö. O vestido que utilizou durante o desfile das bandeiras na final - e que já tinha usado no domingo, no desfile na passadeira turquesa, onde também tinha as unhas com o padrão do 'keffiyeh' - é de uma marca palestiniana, chamada Trashy Clothing.
"O vestido é inspirado nas obras do cartunista satírico palestiniano Naji Al Ali, o seu trabalho investiga temas de corrupção, ganância, resistência, traição e colonialismo", escreveu a marca no X (antigo Twitter).
For the past 216 days, Naji’s drawings depicting empires, the bourgeoisie, and bootlickers watching the killing of Palestinians couldn’t ring more true to the reality of the zionist occupation and the American-sponsored genocide on Gaza. pic.twitter.com/zdnBgHPezx
— Trashy Clothing (@trashyxclothing) May 11, 2024
A Suíça venceu a 68.ª edição do Festival Eurovisão da Canção, com 591 pontos, ao som de 'The Code', canção interpretada pelo artista Nemo. Portugal, por sua vez, alcançou o 10.º lugar, com 152 pontos, graças ao 'Grito' de iolanda. Em último lugar ficou a Noruega, representada pela banda Gåte, com apenas 16 pontos.
Durante a atuação da representante israelita, Eden Golan, ouviram-se vaias e assobios dentro da Malmö Arena.
Além disso, de acordo com jornalistas presentes na arena, Eden Golan também foi vaiada durante o desfile das bandeiras, no início da cerimónia, algo que não foi percetível na emissão televisiva.
Também a porta-voz de Israel que anunciou a pontuação dada pelo júri daquele país às canções em competição foi vaiada pelo público presente na Malmö Arena.
A 68.ª edição do Festival Eurovisão da Canção fica marcada pelo conflito israelo-palestiniano, que dura há décadas, mas intensificou-se após um ataque do grupo palestiniano Hamas em Israel, em 07 de outubro, que causou quase 1.200 mortos, com o país liderado por Benjamin Netanyahu a responder com uma ofensiva que provocou mais de 34 mil mortos na Faixa de Gaza, segundo balanços das duas partes.
Este ano o concurso começou com 37 países, e 25 chegaram à final. Deveriam ter sido 26, mas o representante dos Países Baixos, Joost Klein, foi desqualificado pela organização, devido a um incidente durante a segunda semifinal do concurso.
Além da Suíça, Croácia, Ucrânia, Israel e Portugal, participaram na final do 68.º Festival Eurovisão da Canção: Suécia, Alemanha, Luxemburgo, Lituânia, Espanha, Estónia, Irlanda, Letónia, Grécia, Reino Unido, Noruega, Itália, Sérvia, Finlândia, Arménia, Chipre, Eslovénia, Geórgia, França e Áustria.
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