Orquestra Metropolitana de Lisboa celebra centenário de Braga Santos

A Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML) vai assinalar, com concertos em Setúbal e Lisboa, o centenário do nascimento do compositor Joly Braga Santos (1924-1988), nos quais são identificadas as três fases de um criador "livre" e "curioso".

Notícia

© iStock

Lusa
22/05/2024 21:04 ‧ 22/05/2024 por Lusa

Cultura

Orquestra

A OML apresenta-se, no domingo, às 17h00, no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, e, na segunda-feira, às 21h00, no Teatro Tivoli, em Lisboa.

O programa dos concertos é constituído pelo Concerto em Ré para Cordas (1951), representativo da 1.ª fase, "muito tonal e modal", a suíte para bailado "A Encruzilhada" (1967), representando a fase transitória, quando foi para Itália estudar e tomar contacto com outras realidades, e a sua última composição, "Staccato Brilhante" (1988), "em que utilizava uma linguagem completamente diferente, muito mais cromática, atonal, até dissonante", disse à Lusa o maestro Pedro Neves, que vai dirigir a OML.

Do programa consta ainda a Suíte Checa, de Antonín Dvorák, "um dos compositores que de alguma forma o influenciou, assim como outros compositores, mas este foi uma referência".

Questionado sobre a ausência de peças de Braga Santos nas folhas de sala, o maestro Pedro Neves reconheceu que não costuma haver "nos programas de concerto um papel de destaque para os compositores portugueses", mas considerou "uma excelente oportunidade estas datas redondas", para "espicaçar" a curiosidade do público.

O maestro salientou que a OML "tem vindo a implementar essa mudança de mentalidade e dar a conhecer" os compositores nacionais, referindo que do século passado "há três nomes que se destacam: o Joly Braga Santos, o Luís de Freitas Branco (1890-1955) e o Fernando Lopes-Graça (1906-1994), apesar de haver muitos outros".

"Faz parte da nossa missão, desta geração, trazer de novo para as salas de concerto repertório de música portuguesa, que certamente terá um grande valor, e esse valor só é entendido e conhecido se as peças forem tocadas", defendeu.

Em declarações à Lusa, o maestro Pedro Neves lamentou que os portugueses tenham esta mentalidade de que a sua "música é sempre menor, tem uma menor relevância em relação ao repertório tradicional das salas de concerto, o que na realidade não é verdade, porque a música é construída para ser tocada e interpretada".

Joly Braga Santos foi aluno de Luís de Freitas Branco que "foi a pessoa mais importante para si, não só em termos de influência musical, mas além da música, de vivência, contacto com as outras artes".

Pedro Neves defendeu uma tese de doutoramento sobre três peças para cordas de Braga Santos: o Concerto em Ré, a Sinfonietta e o Divertimento nº.2.

O maestro realçou a necessidade de partituras impressas e de "boas gravações" para uma internacionalização da música portuguesa.

Sobre Joly Braga Santos, Pedro Neves referiu o seu "grande apreço pela sua obra", por ser "um compositor livre, curioso, que fez um percurso, de evolução ao longo da sua vida e das suas peças, fantástico".

"Ele é um compositor dinâmico que vai sempre aprendendo de uma peça para a outra, vai bebendo com o contexto que está à sua volta, e isso ouve-se claramente, na sua música", acrescentou.

"Se ouvirmos a primeira peça de Joly Braga Santos e a última, temos alguma desconfiança em saber se a última é do mesmo compositor, todavia, é um compositor que consegue imprimir à sua música uma linguagem própria, uma marca", disse.

José Manuel Joly Braga Santos, natural de Lisboa, começou a tocar aos 5 anos num violino de brincadeira, mas chegou a estudar o instrumento e composição no Conservatório de Lisboa, onde foi aluno de Luís de Freitas Branco.

Entre os 22 e os 27 anos compôs as suas primeiras quatro sinfonias, imediatamente estreadas pela então Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional. Ainda antes dos 20 anos compôs peças para textos de Antero de Quental, Luís de Camões e Fernando Pessoa.

A sua 4.ª Sinfonia, em que usou um poema de Vasconcellos Sobral, chegou a ser proposta para Hino Mundial da Juventude. Braga Santos compôs a ópera "Trilogia das Barcas" (1970), a partir de Gil Vicente.

O compositor fez parte do Gabinete de Estudos Musicais da então Emissora Nacional, foi diretor da Orquestra Sinfónica do Porto e professor de Composição do Conservatório Nacional, tendo sido cofundador da Juventude Musical Portuguesa.

Leia Também: Versão portuguesa da ópera 'O Principezinho' em cena a 1 e 2 de junho

Partilhe a notícia

Produto do ano 2024

Descarregue a nossa App gratuita

Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas