A "espantosa realidade" da História -- assim se designa a mostra -- é de entrada livre a abarca todo o seu percurso, desde as teses de licenciatura e doutoramento até às últimas publicações saídas ainda em vida do autor, anuncia a BNP, na sua página.
José Mattoso apresentou as suas teses de formação académica na Universidade Católica de Lovaina, Bélgica, concretamente, a de licenciatura sobre "L'Abbaye de Pendorada des Origines à 1160" (em 1960), e a de doutoramento sobre "Le Monachisme Ibérique et Cluny. Les Monastères de la Diocèse de Porto de l'An Mille à 1200" (em 1966).
Estes são apenas dois dos marcos da obra deste historiador, fundamental na renovação da historiografia portuguesa da segunda metade do século XX e do início deste século, que vão estar patentes na Sala de Referência da BNP até ao dia 12 de outubro.
Além da História Medieval, são contempladas na exposição também obras de reflexão acerca da disciplina que cultivou, tais como as coletâneas "A Escrita da História. Teoria e Métodos" (1988) e "A História Contemplativa. Ensaio" (2020).
A exposição reserva uma secção para a Arquivística, área a que José Mattoso deu igualmente grande atenção, sobretudo enquanto presidente do Instituto Português de Arquivos (1988-1990), diretor do Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (1996-1998) e na ação que desenvolveu durante a estada em Timor Leste, com vista à criação do Arquivo Nacional daquele país.
Medievalista consagrado, é praticamente unânime considerar-se que existe um antes e um depois a partir da sua obra sobre a formação do reino português, sobre a História Social, Política, Cultural e Religiosa do Portugal da Idade Média, destaca a BNP.
Em livros como "Ricos-Homens, Infanções e Cavaleiros. A Nobreza Medieval Portuguesa nos Séculos XI e XII" (1982) ou nos vários capítulos da "História de Portugal" que dirigiu para o Círculo de Leitores (1992), o autor apresenta uma revisão geral do processo de formação e consolidação do reino de Portugal como entidade política independente, no extremo Ocidental da Hispânia medieval.
A BNP lembra que a importância da sua obra -- enquanto investigador e professor na Faculdade de Letras de Lisboa e na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa - foi reconhecida com a atribuição de numerosas distinções científicas e culturais, entre as quais se destaca o primeiro Prémio Pessoa, em 1987.
José Mattoso morreu há um ano, em 08 de julho de 2023, aos 90 anos. Nascido em Leiria, em 1933, José João da Conceição Gonçalves Mattoso viveu no mosteiro de Singeverga, em Santo Tirso, como monge beneditino, durante 20 anos, e esteve ainda na Bélgica, onde se doutorou em História, na Universidade Católica de Lovaina. Após o doutoramento, começou por estudar as ordens religiosas em Portugal entre os séculos VI e XV e ainda a aristocracia dos séculos X a XIII.
Autor de mais de 30 obras (algumas em colaboração), renovou o interesse pelo estudo da Idade Média portuguesa, área sobre a qual publicou a maior parte da sua obra, nomeadamente "Identificação de um País" (1985), que apresentou novas linhas de investigação sobre este período.
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