A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, acusou, esta quarta-feira, o seu antecessor, Pedro Adão e Silva, de ter feito um "assalto ao poder" e garantiu que "acabaram os compadrios" no Centro Cultural de Belém, após ter decidido exonerar a presidente da instituição no final do mês passado. As acusações foram criticadas pelo antigo ministro, que se mostrou disponível para responder a "todas as questões".
A polémica começou a 29 de novembro quando Francisca Carneiro Fernandes foi exonerada nas vésperas de completar um ano como presidente da Fundação CCB, cargo para o qual tinha sido escolhida pelo anterior ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. No mesmo dia foi anunciado que o historiador de arte Nuno Vassallo e Silva iria suceder ao cargo.
A decisão de exonerar Francisca Carneiro Fernandes foi uma surpresa para todos, incluindo para a União dos Teatros da Europa (UTE), e foi até criada uma petição em forma de carta aberta dirigida ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, a pedir explicações.
O Partido Socialista (PS) e o Bloco de Esquerda (BE) decidiram avançar com requerimentos para ouvir Dalila Rodrigues no Parlamento, tendo essa audição ocorrido esta quarta-feira.
"Acabaram os compadrios". Ministra acusa Adão e Silva de "assalto ao poder"
Perante os deputados, a ministra da Cultura afirmou que "acabaram os compadrios, 'lobbies' e cunhas que levaram à constituição da atual equipa do CCB".
"Demitida que está, exonerada que está, afastada que está a sua presidente, está, evidentemente, a abordagem a este assalto ao poder, assalto ao CCB, que é absolutamente inadmissível nos termos em que foi realizado pelo ex-ministro da Cultura, doutor Pedro Adão e Silva", disse.
Adão e Silva fala em "injúrias graves" e quer responder na AR
O antigo ministro do governo socialista apressou-se a responder e disse esperar ser chamado à Assembleia da República, "o mais rapidamente possível", para esclarecer "todas as questões" hoje levantadas por Dalila Rodrigues.
"Dos relatos que me chegaram, registo que a senhora ministra tem tido como únicas formas de afirmação exonerar dirigentes, desmantelar o trabalho feito e, agora, lançar injúrias graves", começou por referir na rede social X, acrescentando que "essa postura tem sido muito prejudicial para as políticas culturais e explica o abandono que o setor sente, e que tem manifestado".
"Espero o mais rapidamente possível ser chamado à Assembleia da República, para esclarecer todas as questões, em particular sobre o CCB, uma instituição que encontrei capturada pelo senhor José Berardo e de costas voltadas para as artes performativas", acrescentou.
— pedro adão e silva (@padaoesilva) December 11, 2024
Ex-presidente do CCB vai "intentar uma impugnação" da exoneração
Entretanto, Francisca Carneiro Fernandes anunciou hoje que vai "intentar uma impugnação deste ato administrativo", que considera ilegal.
"Entre outros motivos que estão a ser estudados e que apontam para a ilegalidade da exoneração feita", Francisca Carneiro Fernandes indica "o facto [de esta] alegar como fundamento a falta de capacidade da ex-presidente do CCB para garantir o cumprimento das orientações e objetivos transmitidos pela Tutela", o que Francisca Carneiro Fernandes considera "totalmente falso, já que a Ministra da Cultura" nunca lhe transmitiu "quaisquer indicações ou objetivos que possam assim dar-se como incumpridos".
A anterior presidente do CCB acrescenta, no comunicado, que teve "apenas duas reuniões" com a ministra Dalila Rodrigues, "uma com todo o Conselho de Administração, no dia 28 de maio, e uma segunda reunião com o todo o Conselho de Administração e o Conselho Diretivo no dia 05 de setembro, com vista à apresentação deste último".
"Em nenhuma destas reuniões foram dadas quaisquer orientações escritas ou verbais", conclui o comunicado da ex-presidente do CCB.
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