Em declarações à Lusa depois da conferência de imprensa de apresentação do plano de atividades da Fundação de Serralves para 2025, durante a qual Vergne classificou a obra 'Comedian' como uma das mais importantes dos últimos anos, o diretor do museu explicou que "é uma obra de arte que conseguiu incorporar o fascínio com muitos aspetos da vida quotidiana".
"Em primeiro lugar, o fascínio com a arte. E acho que é incrível que um objeto tão simples tenha sido capaz, nos últimos dois anos, de captar a atenção das pessoas. Relacionado, o desejo das pessoas de se ligarem à obra, de forma positiva ou negativa. Cattelan inventou um signo que quase força as pessoas a tomarem uma posição, quer gostem de arte, não gostem de arte, gostem de bananas, ou pensem que é espetacular, que é ridículo, querem comê-la, não importa", afirmou Vergne.
Para o diretor do museu, "o que é importante é o que ativa e isso foi um tsunami de comentário, interesse, raiva, amor", o que significa que a obra "vai permanecer" para o futuro, apesar da efemeridade dos seus materiais: uma banana e um pedaço de fita cola.
"Ele criou de uma forma tangível um fenómeno que captou o nosso fascínio intangível com signos, com finanças, com imagem. E por isso penso que de uma forma muito simples, como quando [Lucio] Fontana fez um corte, como quando Marcel Duchamp virou um urinol, esta obra, 'Comedian', o título é muito importante, o que é um comediante, o que é comédia", explicou Vergne.
Em novembro, um dos exemplares da obra foi vendido em leilão em Nova Iorque por 6,2 milhões de dólares (5,9 milhões de euros) a um empresário de criptomoedas.
Desde que foi exibida pela primeira vez em 2019 no contexto de uma feira de arte, e vendida por cerca de 120.000 dólares, 'Comedian' transformou-se num acontecimento global que teve um enorme impacto "na consciência cultural contemporânea", referiu a leiloeira Sotheby's em comunicado, na altura.
Aquando do leilão, citado pelo New York Times, Cattelan -- que não recebeu qualquer valor da venda do leilão porque o vendedor era um colecionador e não o artista -- afirmou: "O leilão tornou o que começou como uma afirmação em Basileia num espetáculo global ainda mais absurdo. Dessa forma, a peça torna-se autorreflexiva: quando maior o preço mais reforça o conceito original".
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