Vitorino canta Espanca, Lobo Antunes e Torga em novo disco

Vitorino canta Florbela Espanca, António Lobo Antunes e Miguel Torga, entre outros, no seu novo disco, intitulado 'Não Sei do Que é Que se Trata Mas Não Concordo', que apresenta ao vivo, em janeiro, em Lisboa e no Porto.

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© José RC

Lusa
18/12/2024 23:37 ‧ há 4 horas por Lusa

Cultura

Vitorino

A frase que dá título ao disco foi recuperada de um familiar de Vitorino, do Redondo, Zé Embirra, carpinteiro de profissão, que certa vez participou numa assembleia do clube local e assim que entrou, já atrasado, pediu a palavra e disse: "Não sei do que é que se trata, mas não concordo", tornando-se um dito popular na vila do distrito de Évora onde Vitorino nasceu há 83 anos.

 

A frase serviu ainda de inspiração ao tema que abre o álbum, com letra e música de Vitorino.

"Acho-a uma frase notável, tem um sentido universal, é eterna", acentuou.

No álbum, Vitorino canta quatro temas de sua autoria, e poemas de José Jorge Letria, Florbela Espanca e Miguel Torga, entre outros autores.

Em declarações à agência Lusa, o músico realçou a diferença entre poema e letra. O primeiro "tem uma intenção própria, é um texto autónomo, enquanto a letra tem de ter sílabas abertas para se cantar, pois destina-se a ser cantada, e o poema pode ou não ser cantado".

Vitorino contou que António Lobo Antunes escreveu a letra de 'Não é Meia-Noite Quem Quer', que faz parte do alinhamento, ao seu lado e que ele a musicou.

O álbum inclui boleros, universo ao qual Vitorino se sente ligado, pois traz-lhe recordações da adolescência, dos bailes em que se dançavam boleros e tangos.

O bolero 'Por Ela' (Vitorino) tem duas versões neste álbum: uma "para baile" e outra "para rádio de pilhas". Com a fadista Cuca Roseta, Vitorino partilha a interpretação do bolero 'Para Quando eu te Encontrar' (Sérgio Costa).

Vitorino afirma-se atento ao dia-a-dia e assina a letra e música de 'Moda Revolta', no qual fala das dificuldades de alguns cidadãos e refere realidades como o desemprego, "a sopa dos pobres", os problemas com a segurança social, a necessidade de "ganhar uns cobres" e a descaracterização de Lisboa, classificando a Europa como "essa figurona".

José Cid, seu amigo de longa data, com o qual já tinha colaborado, assina a música de 'Santo e Senha', de Miguel Torga.

O Redondo está também presente neste álbum através de Florbela Espanca, "poetisa notável e inovadora" que viveu na vila alto-alentejana, onde ainda hoje existe a casa que habitou "sem qualquer sinalização, algo que a Câmara devia fazer".

Da poetisa alentejana Vitorino musicou 'Cravos Vermelhos'.

O músico Sérgio Costa produziu o álbum e assina os arranjos musicais.

Questionado sobre a construção do disco, que pensou ia ser o último da sua carreira, Vitorino afirmou que "não se arranja explicação sobre o processo criativo".

"As coisas saem sem explicação, ou então é um demónio, um anjo ou um gnomo que cai sobre as nossas cabeças, não é nada muito programado ou organizado", afirmou.

Vitorino vai começar a gravar um novo álbum em janeiro, adiantou à Lusa.

Também no próximo ano Vitorino sobe aos palcos da Casa da Música, no Porto, no dia 09 de fevereiro, e do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, nos dias 04 e 05 de março, para apresentar 'Não Sei do Que é Que se Trata Mas Não Concordo'.

Leia Também: Nova edição de 'Gostava de Ser Quem Era' de Amália inclui 14 inéditos

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