"Esta exposição representa um momento transcendental para a história recente do Palácio de Liria. Tal como os meus antepassados, que conviveram e apoiaram os artistas mais notáveis de cada época, como duque de Alba é um dever abrir a minha casa à arte contemporânea com uma artista de referências a nível mundial", disse o atual duque de Alba, Carlos Fitz-James Stuart, citado num dossiê de imprensa distribuído hoje aos jornalistas, em Madrid.
O Palácio de Liria, residência em Madrid dos duques de Alba desde o século XVIII, alberga uma coleção de arte clássica pertencente à família, com vários séculos e de que fazem parte obras de mestres como Goya, Velázquez ou Ticiano.
Nas palavras de Joana Vasconcelos, citada no mesmo dossiê de imprensa, trata-se de "um lugar com um profundo significado histórico e cultural, que alberga uma das coleções de arte mais distinguidas do mundo".
É entre essas obras de arte, e "em diálogo" com quadros de Goya ou Velázquez, que estão instaladas cerca de 50 peças de arte contemporânea de Joana Vasconcelos, na exposição "Flamboyant. Joana Vasconcelos no Palácio de Liria", que pode ser visitada pelo público entre 14 de fevereiro e 31 de julho.
"Esta exposição vem numa série de exposições que já fiz, nomeadamente no Palácio da Ajuda [em Lisboa] ou Versalhes [França], em que há uma transformação das tradições para a contemporaneidade", disse hoje Joana Vasconcelos durante uma visita guiada à exposição para jornalistas.
Questionada sobre a especificidade da exposição em Madrid, comparada com as que fez noutros palácios, sublinhou que, neste caso, "é uma casa habitada e todas outras já não eram".
"E, portanto, há um lado de intimidade, pessoal, que é muito mais interessante aqui porque é cuidado de forma privada. Isso é muito interessante porque as coisas têm um amor e estão dispostas de uma forma muito mais pessoal", acrescentou.
Joana Vasconcelos revelou ter demorado um ano a preparar a exposição, que integra peças icónicas da artista, como "Matilha", "Coração Independente Preto", "Marilyn" ou "Perruque".
Há também peças mais recentes e duas produzidas propositadamente para esta mostra: "Lobo (Goya/Velázquez)", com cerâmica Bordalo Pinheiro e croché, e "La Théière", um bule em ferro forjado e planta de jasmim, numa nova versão de uma obra anterior da artista com a qual homenageia Catarina de Bragança.
As obras de Joana Vasconcelos estão desde hoje expostas em salões e jardins do Palácio de Liria normalmente visitáveis pelo público, mas também em espaços que costumam ser reservados ao uso da família, como a capela, onde colocou "Flaming Heart".
Na visita que hoje fez com os jornalistas à exposição, Joana Vasconcelos destacou em vários momentos "o diálogo" em que colocou as suas peças com a história do palácio e obras que decoram diversos salões.
Um dos casos é "Carmen", um candelabro de grandes dimensões que produziu em 2001 que está instalado na biblioteca do Palácio de Liria, onde há uma carta manuscrita do autor da novela que deu origem à opera homónima de Bizet.
Noutro salão, ao lado de quadros de Velázquez retratando protagonistas do designado "século de ouro" de Espanha vestidos de negro está "Coração Independente Preto", ao som de fados na voz de Amália.
Joana Vasconcelos disse hoje que a sala do Palácio de Liria em que está "Coração Independente Negro" é provavelmente "a mais bela" em que já expôs esta peça, que considerou fundamental na sua carreira, pela ligação às raízes portuguesas, dizendo que transporta "uma cultura" com ela.
A Fundação Casa de Alba foi criada em 1975 pelos duques de Alba, família aristocrática espanhola, para realizar a conservação e divulgação do legado histórico e artístico da família, que possui uma coleção de arte iniciada no século XVI.
Joana Vasconcelos, nascida em 1971, conta com uma carreira de mais de três décadas, que se caracteriza pela descontextualização de objetos do quotidiano e pela apropriação do artesanato tradicional, que adapta ao século XXI para questionar temas como o papel da mulher, a sociedade de consumo e a identidade cultural.
Foi a primeira artista mulher e a criadora mais jovem a apresentar o seu trabalho no Palácio de Versalhes, numa mostra individual, e tem levado a sua produção a instituições como o Museu Guggenheim Bilbao (Espanha), o Palácio Pitti e as Galerias Uffizi (Florença, Itália), entre outras.
Leia Também: Joana Vasconcelos expõe 50 obras em palácio de Madrid