Libanesa al-Solh expõe feridas da guerra no Médio Oriente em Serralves

A artista libanesa Mouinira al-Solh apresenta, até 31 de agosto, na Fundação de Serralves, no Porto, uma exposição em que retrata a sua experiência de sobrevivência face aos conflitos passados no Médio Oriente, manifestando incerteza sobre os atuais.

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© Serralves

Lusa
27/02/2025 23:38 ‧ há 8 horas por Lusa

Cultura

Médio Oriente

"Sou libanesa, mas a minha mãe é de Damasco, na Síria. Como sabem, no Líbano temos o Sul que está ocupado [por Israel], temos vilas que foram dizimadas, os bombardeamentos do último mês estão a chegar ao Líbano. Há 'drones' a voar por cima da nossa cabeça em todo o lado, podemos ser mortos se formos suspeitos ou se estivermos, por acaso, perto de alguém que pode ser morto", descreveu a artista hoje aos jornalistas, na Fundação de Serralves.

 

A exposição "é sobre como se lida com isso", diz a artista sobre "Y'a Hamam Yalla Ma Tnam, Ma Tnam" ("Oh Pombo, Não Durmas, Não Durmas", em português), título retirado de uma canção de embalar popular no Líbano e na Síria, recorrendo a exposição a memórias de infância Mounira al-Solh, marcadas pela guerra civil libanesa (1975-1990), em que a artista se socorria do seu próprio pijama para sarar as feridas da guerra.

"Lembro-me de um tempo em que a minha mãe, para me ajudar a dormir durante a guerra, permitia-me fazer um buraco no meu pijama e cosê-lo para me acalmar, e eu podia ir para a cama quando os bombardeamentos eram fortes e estávamos ansiosos", disse aos jornalistas.

Com curadoria de João Mourão e Luís Silva, a exposição é marcada precisamente por uma instalação de pijamas esburacados (e cosidos) em toda a sua extensão, bem como por uma tenda que remete novamente para as memórias da artista, além de desenhos, pinturas, animações, vídeos e sons.

Na componente sonora, a exposição conta com gravações de canções de embalar em diversas línguas (incluindo o português, especialmente para Serralves), sendo o som uma componente importante do percurso de Mounira al-Solh, marcado pelos avisos de bombardeamentos via rádio, ou pela música ouvida nas ruas quando as bombas se 'calavam'.

Em vídeo, a artista explora o mito da princesa fenícia Europa, raptada da cidade de Tiro (hoje no Sul do Líbano) por Zeus, algo "escrito 100 anos depois por escritores gregos, homens".

"Este vídeo é um pouco sobre a sua fuga, mas também se tornou um pouco a imagem da minha fuga. E não sei porque é que temos um significado pejorativo" para a palavra, observou, assumindo que quis passar a ideia de que a mulher por si ilustrada "está a controlar" a situação.

"Não quero mesmo que a mulher seja uma vítima. Estou sempre a mudar o cenário quando represento o mito na minha arte. Vemo-la [mulher] com mais agência. Aqui ela escapa e não morre", reforça, estando nua "porque quando se escapa e se vai, não se tem nada, é mesmo assim".

Rejeitando uma noção individualista da fuga e inspirada no mito de Europa, Mounira al-Solh foca-se num sentimento de comunidade que pode surgir das situações de maior dificuldade.

"Sinto que há toda uma comunidade por detrás de mim, e quando se cresce como uma menina ou menino, em Beirute, há sempre dez olhos a observar onde fomos, a que horas voltámos a casa. Há sempre uma comunidade que está a observar. Mas, em tempos de guerra, vão tornar-se nossos amigos", aponta.

Questionada sobre se tal sentimento pode surgir dos atuais conflitos na região, refere que "é muito complicado de falar sobre isso agora".

"Aqui toda a gente fala do 07 de outubro [data do ataque do Hamas contra Israel]. Mas em 08 de outubro, no Líbano, 150 mil pessoas já não podiam viver nas suas cidades. Tiveram de sair. Tiveram de arrendar casas e há uma crise económica, as rendas sobem. As pessoas são abusadas. Mas ao mesmo tempo criam um sentido de comunidade", considerou.

Porém, reconheceu que "não é uma questão fácil" e "precisaria de muito tempo para dizer algo sobre isso", havendo "muitas nuances".

Mounira al-Solh representou o Líbano na Bienal de Veneza em 2024 e divide a sua vida entre Beirute e Amesterdão, dando também aulas na Alemanha.

Leia Também: Primeira exposição de Avery Singer em Portugal concebida para Serralves

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