Numa iniciativa do festival Rota das Letras, que decorre este ano entre 21 e 30 de março, o livro de poesia "Lin-Tchi-Fá - Flor de Lótus", publicado em 1925, vai ganhar uma versão bilingue, em português e chinês, e outra em inglês, disse à Lusa Ricardo Pinto.
A iniciativa inédita, notou o responsável, permite dar a conhecer a obra centenária da autora portuguesa Acciaioli Tamagnini (1900-1933) "ao público de Macau e fora de Macau que, de outra forma, não teria conhecimento do seu trabalho".
"É uma das missões que o festival sempre quis ter e assumir: procurar levar algumas publicações aqui da literatura de Macau ao encontro de outros públicos, procurar traduzir autores que escreveram em português, traduzi-los para chinês e para inglês e fazer também o caminho inverso com alguns autores chineses", acrescentou.
Nascida em Torres Vedras, Maria Anna Acciaioli Tamagnini foi casada com Artur Tamagnini de Sousa Barbosa, que serviu três vezes como governador de Macau.
Depois de o Rota das Letras ter evocado, no ano passado, os 50 anos do 25 de abril, esta 14.º edição vai assinalar ainda o 50.º aniversário da independência de Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, com fotografia, literatura e cinema.
Além de uma exposição do fotojornalista Alfredo Cunha, que fez a cobertura desses acontecimentos históricos, o festival traz a Macau o realizador Luís Filipe Rocha e o filme "O teu rosto será o último", adaptação ao grande ecrã do romance homónimo de João Ricardo Pedro, que tem presente o tema da guerra colonial e do processo de descolonização que se seguiu.
O realizador regressa ao território depois de, no final dos anos 1980, ter sido diretor de programas da Teledifusão de Macau e filmado "Amor e Dedinhos de Pé", uma adaptação do romance com o mesmo nome do macaense Henrique de Senna Fernandes.
Ainda em torno da temática, o autor e antigo ministro português da Economia e do Mar (2022-2024), António Costa Silva, apresenta na região semiautónoma chinesa o romance "Desconseguiram Angola".
De Portugal chega ainda o coletivo multidisciplinar Lisbon Poetry Orchestra, com o espectáculo "Os Surrealistas". Na primeira parte deste concerto, a 29 de março, atua a banda Poetry & Music, de Anthony Tao, antigo responsável pela organização do Festival Literário de Pequim.
Este ano, um dos destaques do festival é a poesia, com a presença de Xu Jinjin, artista interdisciplinar que se divide entre Xangai e Nova Iorque.
"Além de poeta, é também artista plástica, com uma atividade extremamente intensa, tendo muito recentemente exposto no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque [MoMA] (..) Ficou muito interessada em conhecer o trabalho da Lisbon Poetry Orchestra, a ideia é pô-los em contacto", referiu Ricardo Pinto.
A Xu Jinjin juntam-se outros nomes da poesia, incluindo Valério Romão, de Portugal, Zang Di e Jia Wei, de Pequim, e Chan Ka Long e Wang Shanshan, de Macau.
A literatura de não-ficção tem este ano a língua inglesa como principal veículo, refere um comunicado da organização divulgado hoje, com sessões com os escritores Paul French, Tony Banham (de Hong Kong) e Thomas DuBois (sediado em Pequim).
A literatura para os mais novos também não vai ser esquecida, com a deslocação a escolas de Chen Shige, primeiro escritor pós-anos 1980 a ganhar a mais alta distinção da literatura infantil na China, e por André Letria, ilustrador e editor português com obra publicada em chinês.
O festival, com várias atividades, incluindo récitas de poesia, a apresentação de novos livros, palestras e 'workshops', vai decorrer no Antigo Matadouro Municipal, na zona da Barra.
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