José Milhazes, durante várias décadas correspondente na antiga União Soviética e na Rússia, disse que a obra de Svetlana Aleksievitch é interessante, "vale a pena ler, porque reflete muito a época em que ela viveu e vive", mas daí a receber o Nobel da Literatura "vai uma distância considerável".
"Vejo nesta atribuição mais uma forma de enervar o presidente Vladimir Putin e o seu colega bielorrusso Aleksandr Lukashenko, eterno presidente da Bielorrússia, com a atribuição deste prémio Nobel da Literarua a uma escritora que não esconde a sua posição à política autoritária desses dois presidentes", disse o jornalista.
José Milhazes, que também foi correspondente da agência Lusa em Moscovo, lamenta que em Portugal esteja apenas editado um livro da autora, porque "os livros dela são interessantes, do ponto de vista como publicista e jornalista", sugerindo a edição de "A guerra não tem rosto feminino", "escrito em 1975 e que esteve durante muito anos proibido".
Svetlana Aleksievitch, 67 anos, foi distinguida hoje com o Nobel da Literatura 2015 pela escrita "polifónica, um monumento ao sofrimento e à coragem no nosso tempo", como justificou a Academia Sueca.
Em Portugal saiu este ano, pela Porto Editora, o livro "O fim do homem soviético". A editora Elsinore revelou hoje que, em 2016, publicará "Vozes de Chernobyl" (título provisório), outra obra da série "Vozes da utopia", dedicada ao fim da era soviética.
Os livros de Svetlana Aleksievitch estão traduzidos em 22 línguas e alguns foram já adaptados a peças de teatro e ao cinema.
Svetlana Aleksievitch é a 14.ª mulher a ser distinguida com o Nobel da Literatura. Em 2013 tinha sido a escritora canadiana Alice Munro.
Em 2014, o Prémio Nobel da Literatura foi atribuído ao escritor francês Patrick Modiano.