Convento São Francisco não tem "coerência" na programação

O maior centro cultural de Coimbra, um ano após a reabertura, parece um "espaço inacabado" para os agentes culturais da cidade, que criticam a falta de coerência e de identidade na programação do Convento São Francisco.

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Lusa
07/04/2017 21:00 ‧ 07/04/2017 por Lusa

Cultura

Coimbra

O Convento São Francisco, investimento de 42 milhões de euros, reabriu em abril de 2016, contando com 12 mil metros quadrados para programação cultural e um auditório de 1.125 lugares, com a promessa do presidente da Câmara, Manuel Machado, de o espaço ombrear com o Centro Cultural de Belém (CCB) e de Serralves.

Os agentes culturais de Coimbra criticam a ausência de uma linha de programação e falta de articulação num espaço que acusa "falta de divulgação" dos espetáculos e que só passado quase um ano após a sua reabertura conta com um 'site' próprio.

"A linha, a consistência, a coerência de programação não se encontram", disse à agência Lusa o diretor da cooperativa cultural Hermes, João Maria André, sublinhando que apenas se vê uma "programação de encher a agenda com aquilo que é suscetível de atrair uma faixa de público, sobretudo de nomes sonantes que tenham estado em Lisboa e no Porto".

Para o também antigo diretor do Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), não há "uma preocupação muito manifesta" de articulação com criadores da cidade, apesar de já ter havido "algumas tentativas", como é o caso do festival Abril Dança em Coimbra.

"Quando é que o espaço vai estar a 100%?", questiona o diretor do festival de cinema Caminhos, Vitor Ferreira, sublinhando que será necessária uma mudança "da política cultural da cidade" para rentabilizar o espaço.

Já o diretor do Conservatório de Música de Coimbra, Manuel Rocha, aponta para a falta de articulação entre os diversos espaços culturais da cidade.

"Há um conjunto grande de entidades que produzem oferta cultural e essa oferta tem de ser integrada", defendeu, realçando que a abertura do Convento São Francisco já levou a uma "diminuição de público" nas temporadas de concertos do Conservatório e a oferta do espaço está já a ser repensada face à "concorrência direta" do novo espaço cultural da cidade.

Segundo Manuel Rocha, é necessário "definir o modelo de gestão do São Francisco e a sua orientação de programação", considerando que aquilo a que se assistiu no último ano foi "um conjunto de realizações muito esporádicas e que não são suficientes para criar um público".

Em declarações à Lusa, o diretor da companhia Escola da Noite, António Augusto Barros, realça que é necessário primeiro perceber-se "que identidade se quer construir".

"É preciso saber que identidade se quer e construí-la por quem sabe. Hoje, não se sabe bem o que é que aquilo é", frisou, defendendo a definição de um modelo de funcionamento do São Francisco e o lançamento de "um concurso público para um diretor artístico a sério".

"É uma confusão completa. A Câmara não sabe o que fazer daquilo e depois aquilo fica a vogar conforme o vento", disse.

O Convento "dá ideia de que abriu muito tarde, ao mesmo tempo que dá a ideia de que abriu cedo de mais, como algo inacabado", refere o diretor do Colégio das Artes, António Olaio, considerando que os espetáculos parecem surgir com "um caráter muito casuístico e anunciados em cima" da data.

No entanto, o espaço "vale muito mais existir do que não existir" e mantém "toda a sua potencialidade", disse.

No primeiro ano do São Francisco, o espaço recebeu mais de 35 mil pessoas no âmbito de eventos culturais, um número abaixo, por exemplo, do TAGV, em Coimbra, que na temporada 2015/2016 registou mais de 60 mil espetadores.

 

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