No futebol, como na vida, nunca é tarde para sonhar. Que o diga Ana Filipa Capitão Lopes, mais conhecida no mundo do desporto-rei como Tita. Aos 28 anos, a jogadora natural de Pedrógão Grande recebeu uma notícia que irá mudar por completo a sua vida pessoal e profissional. A atuar no União Ferreirense, de Anadia, a atleta foi convidada pelo Benfica a integrar a equipa que na próxima época se estreia na 2.ª Divisão.
"É um fantástico! Ainda não começou e já está a ser deslumbrante. O Benfica é o maior clube de Portugal, terá um projeto muito bom, em que o objetivo será ombrear com clubes europeus, e isso, ao mesmo tempo, é uma grande responsabilidade. Mas não tenho dúvidas de que vai ser muito bom para o Benfica e para o futebol feminino português", começou por dizer a jogadora, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, recordando o momento em que o telefone tocou.
"Recebi a notícia através do mister João Marques. Foi um convite que ele me fez. Para mim é uma honra! Sei que é bastante exigente e está a preparar tudo a dedo. Agradeço a oportunidade de me ter escolhido para o melhor clube do mundo e prometo dar a vida por isto", asseverou.
Tita abordou pela primeira vez a etapa que se prepara para abraçar no Benfica, em exclusivo, ao Desporto ao Minuto.© Fábio Aguiar
Ainda a gerir as emoções geradas pelo realizar de um sonho, Tita admite que foi apanhada de surpresa, apesar de, lá no fundo, a esperança de um dia se tornar profissional nunca ter morrido. "Na verdade houve sempre aquele sonho... Sendo benfiquista, quando saiu a notícia de que iam criar a equipa pensei: 'Olha, quem me dera ter menos cinco aninhos para ir para lá'. Não esperava, sinceramente, mas vou trabalhar para jogar e retribuir a confiança que tiveram em mim", sublinhou.
Na última época, a médio apontou três golos em 20 jogos pela União Ferreirense.© Facebook
Neste momento, Tita concilia o futebol com a profissão de fisioterapeuta em Pedrógão Grande, mas essa é uma realidade que vai ser alterada profundamente. A jogadora vai mudar-se para Lisboa, dedicar-se exclusivamente ao futebol e deixar para trás outra das paixões.
"Vou fazer disto vida! O Benfica dá-nos condições muito boas e a expectativa é ganhar tudo", frisou a atleta, que está a gerar uma verdadeira euforia nas gentes de uma terra onde as tristes memórias deixadas pelo flagelo dos incêndios está ainda bem presente.
"Toda a gente me pergunta onde jogo. Antes ninguém sabia onde era Ferreiros, nem Anadia, mas agora querem saber quando vou para Lisboa, porque ainda cá estou, se vou deixar de ser fisioterapeuta... Mas sinto que as pessoas também estão felizes. Sou a única atleta da terra, ainda para mais vou ser profissional. Tem sido fantástico o apoio das pessoas", vincou a jogadora.
Tita foi a oitava jogadora contratada pelo Benfica para a época de estreia na 2.ª Divisão.© SL Benfica
O pai como grande inspiração
Quem conhece Tita, sabe que a bola sempre foi a sua fiel companheira. Na escola, o futebol sempre esteve presente e a influência familiar apenas serviu para incentivar ainda mais essa paixão. "Tudo nasceu graças ao meu pai, que sempre jogou. Comecei a jogar mais a sério, futsal, aos 12 anos, no Ansião. Foi lá que estive durante seis anos", recorda, antes de revelar o momento que lhe alterou o rumo: "Depois, fui à Seleção Nacional de sub-19 e, como era jogadora de futsal, apercebi-me que deveria repensar qual o caminho que queria seguir. Entretanto, fui estudar para Coimbra e o Cadima foi a minha primeira equipa no futebol feminino. Desde então, não parei." Seguiu-se uma nova etapa no Atlético Ouriense, na época 2012/13, antes do regressou ao Cadima, em 2013/14, e do projeto no União Ferreirense, de onde sai agora rumo à Luz.
A jogadora tem no seu pai (ao centro) a grande inspiração na vida e no futebol.© Facebook
Futebol feminino em ascensão
Se a felicidade pessoal é evidente, Tita não esconde também a satisfação por ver o futebol feminino a crescer em Portugal. A atleta recorda as dificuldades do passado e considera que o paradigma à volta da modalidade inverteu-se completamente.
"Hoje é em dia é muito mais fácil jogar, pois também há outro tipo de condições e um reconhecimento muito diferente. Na minha altura, quem jogava era considerada 'Maria-rapaz' e hoje é algo encarado de forma muito positiva e com imensa admiração. Felizmente que o futebol feminino evoluiu e assim continua. Se uma rapariga tiver formação num clube como o Benfica, que irá ter formação, ou o Sporting, ou o Sp. Braga, certamente daqui a quatro ou cinco anos teremos um leque de recrutamento ainda maior e a Seleção Nacional ganha com isso", finalizou. A aventura de Tita começa agora...