Com apenas quatro golos marcados nas primeiras 24 aparições pelo Atlético de Madrid, João Félix não está a corresponder às expetativas em Espanha. O avançado português, contratado ao Benfica a troco a 126 milhões de euros, tem sentido dificuldades em adaptar-se ao estilo do treinador Diego 'Cholo' Simeone, que exige bastante, em termos defensivos, aos seus avançados.
Em declarações prestadas ao Desporto ao Minuto, Chema García Fuentes, jornalista do diário catalão Mundo Deportivo, fez um balanço da prestação do ex-Benfica desde a chegada à La Liga, onde "ninguém coloca em causa a sua qualidade".
"Dizer que ele é uma deceção… sim, mas não é que ele próprio esteja a ser uma deceção, o Atlético de Madrid é que sim. Ele não está a jogar pior que os companheiros de equipa. Mas não vou mentir: na pré-temporada alucinei com ele. É o tipo de jogador que parece que foi tocado por uma varinha mágica. Em Espanha, ninguém coloca em causa a qualidade de João Félix, até porque há que ter em conta a sua idade", confidenciou-nos Chema García Fuentes, antes de explicar a origem das dificuldades de adaptação de Félix ao futebol espanhol.
"O Atlético de Madrid vive um período de transição. Está muito abaixo do que fez em temporadas anteriores e chegaram muitos jogadores novos. O Diego Simeone parece que ainda está a procurar a posição ideal para o João Félix. Já o fez atuar na ala direita, como segundo avançado… mas parece não encontrar a posição em que ele pode render mais. Se me perguntarem, eu gosto de vê-lo a jogar ao lado do ponta de lança ou mais descaído para a esquerda, onde teria a capacidade de fazer o último passe, pois ele tem uma visão de jogo muito boa, ou mesmo de rematar com o pé mais forte", atirou Chema García Fuentes.
Em busca da felicidade
Certo é que Félix parece não estar feliz em Espanha. Pelo que nos conta o jornalista, o atleta luso não se sente confortável com as exigências do treinador e isso tem atrasado a sua afirmação no país vizinho.
"O problema é que João Félix não está feliz. As exigências do futebol do Atlético acabam por deixá-lo muito preso. Ele tem um talento que necessita de desenvolver num futebol mais aberto e sem tantas responsabilidades táticas, que é precisamente o contrário daquilo que acontece no Atlético de Madrid. É uma equipa que precisa que os avançados pressionem muito e isso, num jogador tão jovem como o Félix, desgasta muito. E temos visto que o Simeone o tira sempre entre os 65 e os 75 minutos de jogo, pois nota-se que já está cansado. Fica o jogo todo a correr e a ajudar na pressão. Eu acho que ele deveria estar fresco para quando surgirem oportunidades com a bola nos pés mas, quando isso acontece, já não tem nem a energia, nem a lucidez mental para fazer aqui o que fazia em Portugal", contou-nos o jornalista espanhol, antes de prosseguir.
"As novidades táticas introduzidas por Simeone, o facto de não jogar sempre na mesma posição e a questão do esforço físico têm sido prejudicais pare ele. Nota-se que, quando jogava no Benfica, não tinha tantas responsabilidades defensivas. Já fez jogos muito bons e outros nos quais passou completamente despercebido. Por isso, não tem sido muito regular, não tem mantido o nível. Mas o João Félix é o tipo de jogador que, quando toca na bola, sentes que vai acontecer algo, que pode decidir um jogo a qualquer momento. E isso só alguns jogadores conseguem ter. A mim recorda-me muito, não pelo estilo de jogo, mas sim pelas sensações que transmite, o Kun Aguero, quando chegou à Europa, para jogar no Atlético de Madrid", completou.
As exigências de Simeone
Quando questionado sobre uma possível solução para o momento de Félix no Atlético, Chema García Fuentes apontou duas soluções: ou o português começa a trabalhar para se identificar com o estilo de Simeone, ou terá de procurar uma equipa onde possa desenvolver o seu futebol.
"Félix tem duas opções, pelo menos enquanto Simeone for o treinador do Atlético: ou compreende o que Simeone quer dele, ou seja, que melhore fisicamente e tenha mais responsabilidades defensivas, tornando-se num jogador mais completo; ou não segue o caminho de Simeone e, aí, tem de procurar outro sítio onde se jogue um futebol menos exigente e onde ele possa desenvolver o talento ofensivo que já tem", considerou.
"Também seria interessante ver João Félix noutro contexto do Atlético de Madrid. Isto é, num Atlético em que as coisas saiam bem, em termos de resultados e de qualidade de jogo. Hoje, ele tem muita pressão pelos resultados e por ter de fazer a diferença e levar a equipa às costas, coisa que já tentou fazer em alguns jogos. Nota-se que ele tem personalidade, que não se esconde nos jogos. Quando as coisas não lhe saem bem, nota-se que tentou de tudo. Houve jogos, como aquele contra o Villarreal, em que levou a equipa às costas. Personalidade e talento não lhe faltam", prosseguiu.
As comparações com Griezmann
Quando chegou à capital espanhola, Félix começou de imediato a ser comparado com Antoine Griezmann, de quem herdou a camisola 7. Com a falta de golos que tem apresentado, os adeptos colchoneros não tardaram em criticar o jogador luso pelo rendimento francamente inferior ao do francês, que deixou Madrid para assinar pelo Barcelona no último verão.
"O Antoine Griezmann, quando chegou ao Atlético de Madrid, estava numa situação parecida. No início, jogou bastante menos que Félix, levou vários meses a adaptar-se. Mas ele entendeu que o que lhe pedia Simeone faria dele um jogador mais completo, como acabou por acontecer. Ficou em terceiro lugar na Bola de Ouro, ganhou o Mundial, foi para o Barça… o Griezmann que chegou é muito diferente daquele que foi embora. Agora, é uma super-estrela", explicou-nos.