Diego Armando Maradona, para muitos o maior futebolista de todos os tempos, foi hoje homenageado e sepultado em Buenos Aires, após um dia repleto de afetos e caos na sua despedida.
O argentino ícone do futebol mundial foi enterrado no cemitério privado Jardim da Bella Vista, por volta das 23:00, horas de Lisboa, numa cerimónia em recato familiar num dia em que foi homenageado, ao vivo, por cerca de um milhão de fãs.
Foi uma multidão difícil de controlar que passou pelo velório, viu depois passar um cortejo fúnebre em marcha, sempre que possível, acelerada, rumo ao cemitério onde o aguardavam os seus pais, lá sepultados.
O derradeiro 'adeus' valeu uma viagem de cerca de uma hora entre a Casa Rosada, o palácio presidencial argentino, e o cemitério, com fortíssimo aparato policial, sobretudo sobre duas rodas.
As forças da ordem tiveram muito trabalho, desde o controlo da multidão que forçava a tentativa de ver o seu ídolo até às respostas mais violentas de adeptos que arremessaram garrafas e atiraram grades metálicas contra a polícia.
A culminar o descontrolo, vários adeptos invadiram a Casa Rosada, onde estava o corpo de Maradona em câmara ardente, com o caixão a ter de ser retirado, ficando então sobre proteção de militares.
A polícia foi obrigada a utilizar balas de borracha, bombas de gás lacrimogéneo e jatos de água para afastar a multidão, com a família de Maradona a decidir terminar o velório e começar o cortejo para o cemitério -- atrasado, porque foi obrigado a mudar de rota -, onde esperavam cerca de 300 agentes a guardar a entrada no complexo.
Uma multidão, boa parte em lágrimas, passou pelo caixão de um dos argentinos mais famosos da história, com a ansiedade de o homenagear e a necessidade da polícia em controlar a multidão a resultar em alguns confrontos para ser mantida a ordem.
Na Casa Rosada, o palácio presidencial argentino, onde o corpo pôde ser visto pela última vez, quase todos os fãs se benzeram, muitos atiraram beijos a Maradona ao passar a cerca de dois metros pelo seu caixão, enquanto outros bateram com o punho cerrado no peito, soltando frases como "vamos Diego!".
Uma bandeira da Argentina e a camisola "10" que cobriam o caixão foram ganhando companhia à medida que dezenas de camisolas de diferentes equipas de futebol foram espalhadas no chão por visitantes em pranto.
As primeiras horas de privacidade foram para a família e amigos íntimos, juntando-se também alguns amigos da seleção campeã mundial no México em 1986 e atuais futebolistas como Carlos Tevez.
O presidente da Argentina, Alberto Fernandez, colocou uma camisola do Argentinos Juniors, o primeiro clube de Maradona como profissional.
Sem esconder as lágrimas, pousou igualmente dois lenços da organização de direitos humanos Madres de Plaza de Mayo, que usou durante anos para protestar contra o desaparecimento dos seus filhos durante a ditadura militar argentina entre 1976 e 1983.
Maradona, que tinha uma imagem do revolucionário argentino Che Guevara tatuada num dos braços, era amigo desta e de outras organizações de direitos humanos.
Entretanto, lá fora, enquanto a polícia tentava manter a ordem, alguns adeptos revelaram a sua impaciência, atirando garrafas e as protetoras cercas de metal contra os agentes da lei, que ripostaram com gás lacrimogéneo para os tentar controlar.
As filas que se formaram foram imensas, tendo começado poucas horas depois da confirmação da sua morte e quando se soube que o seu corpo ficaria Casa Rosada para as derradeiras homenagens.
"Ele fez a Argentina ser reconhecida em todo o Mundo. Quem fala de Maradona, também fala da Argentina. Diego é o povo... hoje as camisolas, bandeiras políticas não importam. Viemos despedir-nos de um grande que nos deu muita alegria", disse Nahuel de Lima, de 30 anos, com deficiência motora que foi o primeiro adepto a velar o corpo.
A emoção do momento tem levado a que os protocolos de saúde, relacionados com a covid-19, não estejam as ser cumpridos.
"É impossível pedir distancia às pessoas. comportamo-nos com respeito e oferecemos desinfetante e máscaras", admitiu Rosa Noemi Monge, 63 anos, que, em lágrimas, revelou ter dito a Maradona "sempre rumo à vitória".
Um enorme mural do rosto de Maradona foi pintado nos azulejos que cobrem a Plaza de Mayo, uma das mais emblemáticas da capital, perto da Casa Rosada, que foi decorada com uma fita preta gigante na entrada.