Rui Vitória terminou nesta terça-feira a sua aventura pelo futebol da Rússia. Sete meses depois do anúncio oficial da chegada do português ao Spartak Moscovo, ambas as partes seguem caminhos distintos, mas com muita história por trás. Entre promessas não cumpridas, chamadas não atendidas e idas ao mercado que ficaram por se fazer, esta é a história da passagem do técnico luso pelo emblema moscovita.
A 24 de maio de 2021, a equipa russa apresentava o treinador ex-Al Nassr como o comandante para a nova época. As expectativas eram altas para uma equipa que tinha mais um treinador estrangeiro, mas que garantiu títulos, outrora em Portugal, ao serviço do Benfica, e que poderia atacar o mercado e desenhar uma equipa vencedora que pudesse acabar com a hegemonia do Zenit, tricampeão da Liga russa. O projeto estava delineado, as ambições estavam traçadas e o futuro esperava-se risonho.
Bastou a Rui Vitória chegar para perceber que não ia ser bem assim. Passado o verão, o técnico português começou a trabalhar no planeamento da época, escolhendo a dedo quem queria contratar e quem queria dispensar. O que Rui Vitória não esperava era que a 7 de setembro a janela de transferências se fecharia sem o Spartak ter os jogadores que foram pedidos pelo português.
Dizia na época a imprensa russa de que a principal responsável era... a mulher do presidente, Zarem Salikhova, que entrou em discordância com Dmitry Popov, diretor desportivo do Spartak à data dos factos. Popov abriu o jogo e acabou por contar mais tarde que os alvos definidos por ele e por Rui Vitória, como era o caso do argentino Gonzalo Montiel, que hoje joga no Sevilla, não foram aprovados por Domenico Tedesco, que foi sucedido no comando da equipa pelo técnico português, nem por Salikhova e Leonid Fedun, presidente do clube.
Popov percebeu que não seria cumprido o plano desportivo prometido e decidiu então bater com a porta o quanto antes, deixando Rui Vitória sozinho na missão, que se adivinhava difícil de gerir.
O português mostrou-se incomodado algumas vezes com a ausência de alguém que cumprisse a função de diretor desportivo no clube russo, uma delas logo a seguir ao jogo frente ao Benfica, na 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões e que relegaram o Spartak à fase de grupos da Liga Europa.
O português voltava a pedir reforços, desta vez publicamente, sem destapar demasiado o tapete para não levantar muito pó sobre as quezílias com os altos cargos do clube. Depois de vários pedidos, as vontades de Rui Vitória foram ouvidas. Pelo menos parte delas... A direção foi ao mercado e acertou a contratação de Maximiliano Caufriez, defesa belga que chegou para reforçar o lado direito da defesa.
Acontece que não era este o reforço que Rui Vitória tinha pedido, muito menos a posição que precisava de ser colmatada. O jogador terá sido contratado sem grande aval do luso, que, entretanto, ainda o utilizou em 1.114 minutos entre Liga russa e Liga Europa.
Pode dizer-se que a época seguiu com uma ligação entre treinador e direção, já muito fragilizada, depois de um início de temporada antagónico ao que se esperava. Rui Vitória manteve a palavra, ao contrário de Leonid Fedun, que prometeu um projeto e chegou a não atender as chamadas do português durante a janela de transferências. Vitória ficou no Spartak até quando pôde, deixando o clube agora, quando chegou ao seu limite. A imprensa russa diz ainda que a derrota mais recente frente ao FK Sochi, por 0-3, também contribuiu para o fim da ligação que se previa ser de dois anos, mas que acabou depois de apenas sete meses.
O Spartak Moscovo está na nona posição da Liga russa, com 23 pontos, menos 15 que o líder Zenit, com quem supostamente iria lutar nesta época com armas idênticas pela conquista do título. São já sete derrotas, cinco empates e seis vitórias, com 20 golos marcados e 26 sofridos. A campanha da Liga Europa, no entanto, passou de uma possível desilusão para uma enorme surpresa, já que a equipa de Moscovo vai estar nos 'oitavos' da prova, depois de duas jornadas inacreditáveis na fase de grupos. A Rui Vitória resta esperar por uma vaga num clube que, de uma vez por todas, cumpra com o prometido e 'realize' os desejos do português.
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