"O movimento de direitos humanos não vai permitir que a China branqueie o seu histórico de direitos humanos com a organização destes Jogos", disse à Lusa Kevin Young, responsável do grupo Santa Barbara Friends of Tibet e um dos organizadores de protestos em frente do consulado chinês em Los Angeles.
"Nunca deveriam ter sido anfitriões dos Jogos, considerando o que estão a fazer aos uigures, tibetanos, mongóis e habitantes de Hong Kong", afirmou.
Um recente protesto em Los Angeles fez parte de um dia global de ação contra a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, que aconteceu em 68 cidades de todo o mundo. Em Nova Iorque, a ação teve a presença do congressista democrata Tom Suozzi e do ativista de Hong Kong Alex Chow.
"Estamos a pedir às pessoas que não vejam os Jogos, para que sejam um falhanço, e que considerem o que a China faz a seres humanos", indicou Kevin Young.
Sob o mote #NoBeijing2022, a campanha levou pessoas à rua em várias cidades dos Estados Unidos, como Los Angeles, São Francisco, Washington, D.C., Mineápolis ou Boston.
Os Jogos Olímpicos de Inverno decorrem de 4 de fevereiro até 20 de fevereiro.
Num relatório divulgado em abril de 2021, a Human Rights Watch acusou o governo chinês de estar a cometer "crimes contra a Humanidade" através de políticas sistemáticas de detenção em massa, tortura e perseguição cultural.
No sábado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou aos líderes chineses para permitirem uma visita "credível" da alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, à área de Xinjiang.
Guterres, que visita Pequim para os Jogos Olímpicos de Inverno, reuniu-se no sábado com o Presidente chinês, Xi Jinping, e o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, de acordo com um comunicado de imprensa.
A diplomata chilena quer visitar Xinjiang devido a alegações da existência de campos de internamento, por onde alegadamente terão passado centenas de milhares de uigures que, segundo a China, são "centros de formação profissional" que visam melhorar a sociedade e a economia desta remota região.
"O genocídio é a linha vermelha", disse à Lusa Frances Hui, ativista e responsável do grupo WeTheHongkongers. "Chamamos a isto os Jogos do Genocídio porque há um genocídio a acontecer na comunidade uigure na China. Estão também a praticar uma limpeza cultural no Tibete, opressão em Hong Kong e agressão em Taiwan", afirmou.
A ativista, que deixou Hong Kong em 2020 receando pela sua segurança, apelou a que as pessoas "considerarem se querem assistir a estes Jogos".
Também Pema Doma, responsável do grupo Students for a Free Tibet, apelou a que as audiências tomem uma posição de força.
"A NBC torna isto possível em termos financeiros", disse, referindo-se à cadeia de televisão que está a fazer a transmissão da competição. "Tornando estes nos Jogos com menor audiência, podemos mostrar à NBC que não podem silenciar os problemas e esperar que as pessoas sintonizem o canal".
Em paralelo ao boicote, a coligação de vários grupos que está a coordenar a campanha #NoBeijing2022 montou uma biblioteca com recomendações de livros, música e performances em alternativa aos Jogos para "celebrar a arte e cultura das comunidades uigure, tibetana e de Hong Kong", explicou Frances Hui.
Para a diretora do Tibet Action Institute e co-presidente da International Tibet Network, Lhadon Tethong, os Jogos Olímpicos de Inverno que estão a decorrer em Pequim, China, vão ficar associados aos protestos por violação de direitos humanos.
"Para os tibetanos, e para mim que estive muito envolvida na campanha dos Jogos Olímpicos de 2008, é devastador que estejamos aqui outra vez, com o governo chinês a receber o apoio da comunidade internacional desta forma", afirmou à Lusa a ativista de origem tibetana.
A International Tibet Network está a coordenar a campanha a nível mundial e ficou, no dia da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, com a conta de Twitter bloqueada.
"O que vemos nesta era [do presidente] Xi Jinping é que não há tolerância para a diferença cultural, de língua, para aqueles que se identificam com qualquer outra coisa que não chinês", disse Lhadon Tethong. "Os tibetanos estão a enfrentar genocídio cultural", acusou, referindo que pelo menos 800 mil crianças tibetanas foram separadas dos pais e vivem em colónias escolares na fronteira.
Também a responsável do grupo Students for a Free Tibet, Pema Doma, disse à Lusa que o que está a acontecer com as crianças no Tibete é "um assalto à identidade tibetana" e que o governo de Pequim "está a construir possivelmente o maior programa de colónias escolares do mundo", para onde as crianças serão levadas à força.
A ativista criticou os patrocinadores dos Jogos, considerando "hipócritas" as posições de empresas como a Mars, Airbnb e NBC.
"A maior tragédia destes Jogos Olímpicos é ver quem não faz nada", sublinhou. "Há muita hipocrisia e levanta muitas questões sobre empresas em países democráticos".