O FC Porto prepara-se para jogar mais uma decisão nesta temporada. Fora as provas internas, as quais ainda discute, o dragão segue vivo, apesar dos arranhões da primeira mão dos oitavos-de-final da Liga Europa, frente ao Lyon. Tudo o que separa os azuis e brancos da próxima fase da prova é um par de golos.

O FC Porto vem de uma vitória grande, mas não de uma grande vitória. Sérgio Conceição confessou ter ficado pouco convencido com o jogo dos dragões e deverá esperar uma melhor resposta nesta noite europeia. Do lado de lá, o Lyon foi goleado em casa pelo Rennes, mas o resultado na Ligue 1 poderá ser enganador. 

Quem o defende é Rui Almeida, treinador de futebol com largos anos de experiência no futebol francês. Em conversa em exclusivo com o Desporto ao Minuto, o técnico de 52 defende que a derrota do emblema francês não pode ser interpretado de forma literal, e explicou-o com recurso ao que experienciou na Ligue 1.

"Obviamente que é sempre melhor ganhar na Liga do que perder, mas a Liga é uma prova, a Liga Europa é outra. Depois, para acrescentar, para quem não segue tanto o campeonato francês, o treinador do Rennes [Bruno Génésio] tinha sido treinador do Lyon, portanto, havia uma rivalidade. Já na primeira mão, o Lyon tinha sofrido quatro golos. Há algo mais próprio destes jogos, por isso, é preciso ter atenção às ilações que se retiram desse jogo. O Rennes colocou muita intensidade no jogo, vinha de um jogo na Liga Europa frente ao Leicester e, entretanto, chegou aos 2-0 muito rapidamente. Isso confundiu muito o Lyon. É necessário trazer imprevisibilidade para o jogo para baralhar esta organização defensiva do Lyon, provocar bastantes movimentações e arrastar os centrais de lá. Algumas coisas têm de ser feitas para que se provoquem esses erros ao Lyon", começou por defender.

Lyon de "dupla face"

Rui Almeida tem vasta experiência no futebol francês. Começou em 2015, no Red Star, e mudou-se pouco depois, para o Bastia, da Ligue 1. Foi aí que defrontou o Lyon. Já com experiência nos duelos com os gones, o técnico, atualmente livre no mercado depois de deixar o Gil Vicente na última época, deu algumas pistas aos dragões para se superiorizarem ao adversário, usando o jogo do emblema francês frente ao Rennes como termo de comparação.

"O Lyon é um bocadinho inconsistente na Ligue 1, é capaz do melhor e do pior. Quanto à Liga Europa, já não é assim. Não tem nenhuma derrota nesta edição da prova, só um empate e o resto são vitórias. Há uma dupla face do Lyon neste ano em relação ao que faz na Ligue 1 e ao que faz na Liga Europa. Neste jogo, o FC Porto precisa de ter atenção à força ofensiva deles, com Paquetá, Ekambi, Faivre e Dembélé, que ficou à vista na primeira mão. Depois, terá de desequilibrar, como não fez no primeiro jogo, tendo o Lyon ficado mais confortável quando o FC Porto jogou com dois médios em vez de três. O Rennes joga em 4x3x3, e os três médios fizeram movimentos de segunda linha sobre a linha defensiva do Lyon, arrastavam o central do Lyon, e esses movimentos feriram a defesa. O FC Porto terá de fazer isso com imprevisibilidade, surpreender pelo jogador que faz os movimentos", afirmou.

[Rui Almeida trabalhou no futebol francês entre 2015 e 2020]© Getty Images  

Os dragões atacaram e remataram 17 vezes, mas nenhum dos remates se traduziu em golo. Aliás, a tarefa de marcar golo complicou-se quando, dos 17 remates, 10 foram para fora e três foram bloqueados. Rui Almeida defendeu que os dragões precisam, além de ser mais imprevisíveis, ser também intensos.

"As equipas fazem aquilo que as outras deixam fazer. O FC Porto teve intenção e o Lyon não se desequilibrou tanto como se costuma desequilibrar. Acima de tudo, tem de ser provocado do FC Porto, tem de levar o Lyon a errar mais. No primeiro jogo, o FC Porto teve menor intensidade, nomeadamente defensiva, o que não é normal, talvez por não estar tão fresco. É preciso ser-se intenso defensivamente, tal como o FC Porto europeu nos habituou, e criar a tal imprevisibilidade sobre a linha defensiva do Lyon, provocando erros", acrescentou.

Eliminatória em aberto

Olhando para aquilo que os gones e os dragões poderão fazer em campo, Rui Almeida insistiu na tese da chance dividida. Na opinião do técnico, a eliminatória não está perto de decidida.

"Eu mantenho a confiança. Parece um bocadinho estranho dizer que é 50-50, mas está tudo em aberto. Mesmo com o FC Porto com um golo a menos, está tudo aberto dada a robustez que o FC Porto tem vindo a mostrar. Não marcou em casa, mas tem todas as condições para ir a Lyon e fazê-lo. A eliminatória está absolutamente em aberto, mas sabemos todos que vai depender do jogo que o FC Porto vai fazer, da intensidade que vai colocar no jogo, isso vai ser fundamental", considerou.

[Lyon parte em vantagem na eliminatória, depois de vencer por 1-0 no Dragão]© Getty Images  

Rui Almeida já presenciou o ambiente criado no Parc Olympique Lyonnais. O português admitiu que os dragões poderão até tirar vantagem do mal-estar originado pela última derrota dos franceses.

"O ambiente no estádio é formidável, o próprio estádio também o é. O FC Porto está habituado a jogar nesses ambientes, é uma equipa madura, consegue tirar mais-valias desses ambientes. No último jogo do Lyon, os adeptos estavam muito chateados com a própria equipa pelo resultado ao intervalo. O FC Porto, no caso de marcar, poderá criar intranquilidade no público", concluiu.

O Lyon-FC Porto desta quinta-feira vai decidir quem vai seguir em frente na Liga Europa. A partida tem início marcado para as 20h00 no Parc Olympique Lyonnais, em Lyon.

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