"No topo, basta o FC Porto tropeçar e o Sporting ganhar. Quanto ao segundo lugar, basta o Sporting tropeçar e o Benfica ganhar. Penso que este jogo se tornará mais especial e tudo é possível. Não há melhor nem pior no futebol. Há detalhes e quem menos errar tem maior hipótese de vencer. Vimos isso na Liga dos Campeões, em que alguns favoritos já foram afastados", projetou à agência Lusa o ex-avançado dos 'encarnados' (1990/1995).
O Sporting, segundo classificado, com 73 pontos, seis abaixo do líder isolado FC Porto, recebe o Benfica, terceiro, com 64, no domingo de Páscoa, às 20:30, no Estádio José Alvalade, em Lisboa, num duelo arbitrado por Fábio Veríssimo, da associação de Leiria.
"O Sporting tem a vantagem de jogar em casa, mas lembro-me daquele jogo do 6-3 [em 1993/94, também à 30.ª jornada], em que entrámos em desvantagem e desacreditados, mas errámos menos e ganhámos, aproveitando os erros do rival", ilustrou Isaías, cujo 'bis', antecedido pelo 'hat-trick' de João Vieira Pinto, encaminhou o título para as 'águias'.
Apesar de relativizar a diferença pontual entre rivais, num dérbi em que a utilização de Rafa é incerta, ao contrário dos lesionados de longa duração Lucas Veríssimo e Rodrigo Pinho, o 'profeta' lamenta que o Benfica vá para a segunda época seguida sem títulos.
"Acho que as pessoas têm de dar um pouquinho mais de crédito à direção. Penso que o Benfica tem um futuro brilhante pela frente. O Rui Costa tem mais três anos de mandato. É preciso que os sócios, adeptos e simpatizantes apoiem. Vejo muita crítica, mas pouco apoio. Está no momento de darmos as mãos, já que uma entidade como o Benfica só vai para a frente se tiver união. Caso contrário, com certeza, tudo fica mais difícil", analisou.
Isaías, de 58 anos, viu os pupilos de Nélson Veríssimo desafogarem mágoas internas na Liga dos Campeões, prova na qual evoluíram até aos quartos de final, sendo afastados na quarta-feira pelos ingleses do Liverpool, ao empatarem 3-3 em Anfield Road, depois do desaire na Luz por 3-1.
"O Benfica saiu tranquilo e com inteira dignidade daquela que é a competição número um do planeta, já que ninguém imaginava que iria eliminar o Ajax [nos 'oitavos'], mas lá conseguiu [vitória por 3-2 no agregado das duas mãos]. A 'Champions' deu de novo uma alegria e mostrou que o clube está a andar devagarinho, mas no bom sentido", afiançou.
Essa eliminatória foi resolvida em Amesterdão com um golo solitário do uruguaio Darwin Núñez, jogador mais influente das 'águias' em 2021/22, ao contar 31 tentos em 36 jogos, para satisfação de Isaías, que também individualizou o compatriota Everton Cebolinha.
"Não é que os outros atletas sejam maus, mas o Darwin está em grande forma. Depois, acho que fazem uma crítica muito grande ao Everton, que, para mim, é um grande jogador, mas ainda não se adaptou ao futebol europeu. Vi o primeiro jogo com o Liverpool e fez coisas que nunca vi no Brasil. Estando habituado a atacar, tem de mudar a sua função radicalmente e defender. É complicado e, às vezes, as coisas não saem bem", avaliou.
A presença nos oito finalistas da Liga dos Campeões pela primeira vez desde 2015/16 dá "saldo positivo" a Nélson Veríssimo, que deixou o comando da equipa B, então líder da II Liga, para render Jorge Jesus em dezembro de 2021, entre o duplo desaire nos embates com o FC Porto nos 'oitavos' da Taça de Portugal (0-3) e na 16.ª jornada da I Liga (1-3).
"O Jorge Jesus não foi feliz neste regresso sob muita pressão ao Benfica. Já o Nélson Veríssimo. entrou num contexto complicado, incluindo mudanças de direção e conflitos no balneário. As pessoas queriam que o clube estivesse na frente, mas faltam cinco jogos e continua na luta", reiterou o ex-avançado, visando, em particular, a obtenção do segundo lugar, de acesso direto à fase de grupos da maior prova europeia de clubes em 2022/23.
Vencedor de dois campeonatos (1990/91 e 1993/94) e uma Taça de Portugal (1992/93), Isaías discorda da oficialização do sucessor de Nélson Veríssimo antes do fim da época, numa altura em que a imprensa já noticiou o acordo do Benfica com o alemão Roger Schmidt, que termina em junho o vínculo contratual aos neerlandeses do PSV Eindhoven.
"Se dependesse de mim, esperaria mais lá para a frente, até que os objetivos estivessem alcançados. Aí sim, divulgaria o nome do novo treinador. Uma situação destas não cria entusiasmo. Muito pelo contrário, cria-se um mal-estar e não é 'legal', nem bom para o técnico atual", concluiu o também ex-jogador de Rio Ave, Boavista e Campomaiorense.