José Mourinho reagiu nesta quinta-feira à morte de Pelé, aos 82 anos. O técnico da AS Roma começou por recordar a sua infância, na qual viu o 'rei' jogar futebol, falou sobre as vezes que encontrou o antigo jogador e recordou-o com nostalgia.
"O Mundial de 1970 foi o meu primeiro, o segundo título do 'rei'. Imagine-se o que significa para a minha geração. Não gosto de comprarar jogadores de diferentes gerações, é desrespeitoso, mas é considerado como um daqueles que fez o futebol aquilo que é hoje. Tive a honra de poder estar com ele em três momentos diferentes e cada segundo guardo-o com grande carinho", começou por dizer em declarações à RTP3.
"O primeiro [momento] foi em 2005, quando recebi o troféu do 'Sports Personality of the Year'. A BBC convidou o 'rei' para me dar o troféu. Depois, em Manchester, voltei a estar com ele e aí deu para perceber melhor a dimensão humana. A última vez foi num evento de uma marca que ambos representamos. Aí foi muito mais tempo, foi jantar, almoço, um par de dias. É daquelas pessoas que nos faz sentir pequeninos, que são pessoas especiais, que escreveram história de um modo especial. Devorei cassetes com os golos de Pelé, consegui uma vez ver o Pelé jogar no Cosmos [nos Estados Unidos], numa fase final. Para a minha geração, Pelé, Maradona, são qualquer coisa de especial. Não é o prazer, é a honra de os ter conhecido", disse ainda.
Pelé ficou marcado pelos mil golos que marcou, mas Mourinho descreveu o antigo jogador para lá da finalização.
"Para mim, os mil golos, que para uns são mil e tantos, para outro serão menos de mil, foi um goelador tremendo. Era fortíssimo de cabeça sem ser gigante, driblava, conduzia, baixava para ligar jogo. Depois, é aquela coisa de ter três títulos, a figura principal de um Mundial... Acho que há muito pouco para dizer, a história está escrita para a minha geração. Somos uns privilegiados. Para esta gente nova de hoje, basta-me sentir o modo como o meu filho está a sentir este momento, ele que nunca o viu a jogar, não é desta geração mas conhece a história, que não se apaga", acrescentou.
Para Mourinho, Pelé foi influente para lá do futebol, recusando compará-lo a Maradona.
"É eterno, acho que faz parte da cultura. Nem é só do desporto, faz parte da história do mundo. O futebol é o fenomeno cultural de maior expressão, Pelé marcou o futebol de uma maneira muito especial. Depois do futebol, aquilo que ele conseguiu criar em termos de empatia, de mensagens de paz, até a maneira como ultrapassaram rivalidades que se construíram na carreira, para mim Pelé é o meu primeiro Mundial. Para mim, Pelé é Pelé, Maradona é Maradona. Não se comparam personagens como estas. Tive oportunidade de ser amigo do Diego, ri-me muito com ele, mas Pelé é o senhor Pelé e Pelé é futebol", afirmou.
A figura de Pelé ficou marcada na sua geração, inspirando vários jovens a entrar no mundo do futebol. Mourinho
"Eu acho que cada jogador na sua geração tem influência sobre os sonhos de muitas crianças. Não penso que a criança, como criança, que o ser jogador de futebol poderá levá-lo a uma situação económica ou familiar melhor. Penso que hoje possam ser familiares a pensar assim. A criança, na sua inocência, ou ama ou não ama futebol. A geração Pelé viveu apaixonada, mas hoje trata-se de Pelé que partiu. Dentro da nossa tristeza, podemos rir um bocadinho. Grandes peladas poderão ser jogadas entre Pelé, Maradona e outras grandes figuras", disse.
Para José Mourinho, a morte de Pelé significa a morte... do futebol.
"O futebol morreu hoje, mas o futebol tem esta capacidade de ressuscitar. Com tantos jogadores de grande dimensão que existiram depois de Pelé e que poderão nascer amanhã, pode ser que o futebol ressuscite. Mas o futebol morreu", concluiu.
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