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"Amorim aceita projeto, Sporting vende-lhe os jogadores. Não há milagres"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Dias Ferreira, antigo candidato à presidência do Sporting, aponta a falta de experiência como um fator determinante para a derrota no Clássico, considerando, ainda, que os leões estão muito atrás dos rivais a nível financeiro.

"Amorim aceita projeto, Sporting vende-lhe os jogadores. Não há milagres"
Notícias ao Minuto

08:02 - 14/02/23 por Rodrigo Querido

Desporto Exclusivo

A derrota do Sporting no Clássico diante do FC Porto, por 2-1, deixou os verde e brancos com uma missão quase impossível para conquistar o título de campeão nacional no final da presente temporada desportiva.

A 14 jornadas do fim da I Liga, a equipa de Rúben Amorim já está a 15 pontos do líder, o Benfica, sendo que o Sporting de Braga, clube que ocupa o último lugar que dá acesso às eliminatórias da Liga dos Campeões na próxima época, já se encontra a oito pontos de distância.

"Tenho confiança em mim em como vamos dar a volta à situação, mas, se o clube não me quiser, vou-me embora. Enquanto isso não acontecer, vou dar a volta à situação", atirou Rúben Amorim após a derrota no Clássico contra o FC Porto. Um sentimento que é partilhado pelo ex-dirigente do Sporting, Dias Ferreira.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o antigo candidato à liderança do Sporting diz não ver razões para despedir Rúben Amorim do cargo, culpando a falta de experiência do plantel por esta derrota em Alvalade.

"Não tenho razões para não confiar no Rúben Amorim. Não perco essa confiança apenas por uma derrota. Manifestamente, o que falta é a experiência competitiva que o FC Porto tem e uma superioridade em termos de condições do plantel", começou por dizer Dias Ferreira, que traçou um comparativo entre o jogo da final da Taça da Liga e este, para o campeonato.

"No outro [final da Taça da Liga], fomos prejudicados pela arbitragem. Neste, acho que não há nada, tirando uma coisa ou outra que não é decisiva. Não vou comentar arbitragem. O resultado mais justo teria sido o empate. Não vi uma superioridade do FC Porto tão grande como isso. O que falta é uma experiência continuada e sustentada", acrescentou.

Para Dias Ferreira, um dos problemas da equipa é o facto de terem sido vendidos jogadores que faziam a diferença no plantel, como os casos de João Palhinha, Matheus Nunes e Pedro Porro, e não terem sido contratados substitutos à altura destes nomes.

"O plantel foi amputado dos seus melhores elementos. Embora tenham tentado substituí-los, esta equipa foi amputada relativamente ao ano passado, e se compararmos com há dois anos... Na época passada, o Sporting manteve o mesmo número de pontos, mas os outros também podem ser campeões. Os adversários tiveram maior merecimento nessa conquista, mas o Sporting fez um campeonato praticamente até ao fim e poderia ter vencido. Este é o ano mais atípico desde que o Rúben Amorim lá chegou. E aí temos de pensar que o Sporting, entretanto, perdeu o Palhinha, o Matheus Nunes numa só época, depois de ter ficado sem o Sarabia e o Nuno Mendes. Agora, há ainda o Porro. A equipa que nos podia ter dado garantias e crescido já não é a mesma. Não sei se é responsabilidade de alguém ou não", sustentou, antes de acrescentar.

"O problema é mais fundo e eu gosto pouco de discutir estes assuntos só por causa de uma derrota, eu discuto é questões de fundo. O Sporting não irá a lado nenhum enquanto para sobreviver tiver de vender os melhores jogadores. Este Sporting não tem condições para competir nem no mercado nacional, quanto mais do internacional", vincou.

Antigo presidente da Mesa da Assembleia-Geral do clube de Alvalade, Dias Ferreira considera que o Sporting tem de abdicar da maioria que detém na SAD para conseguir canalizar investimento que permita a equipa crescer sem ter de se desfazer dos melhores jogadores do plantel.

"E isto não é culpa de investimentos elevados em épocas anteriores. Está relacionado com um projeto que ainda não assumiu a sua vertente financeira e que é indispensável. A SAD tem que ter um ou dois parceiros que invistam dinheiro que o Sporting não tem por si só para investir. Esta insistência obsessiva da manutenção da maioria tem os seus custos, e eles aparecem. Não vamos pensar que há milagres, que não os há. Pode haver um ano ou dois em que há um milagre, mas, depois, a realidade vem sempre ao de cima. Quem tem de vender jogadores não pode ter o objetivo de ser competitivo e ganhar todos os anos", assinalou Dias Ferreira.

Sobre a derrota no Clássico, o antigo presidente da MAG leonina viu uma equipa traída pela juventude, desculpabilizando Rúben Amorim pelas mexidas na equipa inicial diante do FC Porto.

"A equipa sentiu demasiado o golo do FC Porto. Foi um golo com algum azar da equipa. Não vejo grande mérito numa bola que tabela no Ugarte e vai para o Uribe. São coisas que acontecem. Nem foi de propósito esse tabelamento. E isso fez a equipa abanar um pouco", afirmou Dias Ferreira, concretizando:

"A escolha do Fatawu para o onze foi uma opção técnica, tanto assim que o Nuno Santos entrou para a segunda parte. O Rúben Amorim explicou isso e as pessoas podem aceitar ou não. Não vi que o Sporting estivesse inferior na primeira parte com o Fatawu, que fez algumas jogadas e manteve mais contido o defesa direito do FC Porto. Vi também que ele fez duas ou três passagens que poderiam ter outros resultados. Eu gosto imenso do Nuno Santos e da maneira como ele cruza, mas ele não esteve particularmente feliz. Não foi por aí que se perdeu. Posso observar e dizer que não concordo com as substituições. Achei que o Trincão foi substituído demasiado cedo, pela razão que Amorim depois explicou. Não fiquei alarmado e abismado com a equipa que iniciou o jogo. E até nem iniciou mal. Mas quando o treinador se apercebe de que há um jogador que estava doente, mas queria jogar... No fundo, o treinador sentiu-o diminuído e substituí-o. As coisas estão explicadas", disse.

Para os leões, segue-se uma importante eliminatória da Liga Europa, frente ao Midtjylland, da Dinamarca, um dos poucos objetivos que os verde e brancos ainda têm esta temporada, depois da eliminação da Taça de Portugal e da derrota na final da Taça da Liga. Para o antigo dirigente, a equipa leonina deve manter o foco em alcançar o terceiro lugar e fazer pela vida na Liga Europa.

"O Sporting deve continuar a apostar, jogo a jogo, na Liga Europa e no campeonato procurar somar os pontos necessários para atingir, pelo menos, o terceiro lugar que dá acesso aos playoffs da Liga dos Campeões. São os únicos objetivos que o Sporting tem hoje e que até são muito parecidos com os dos Benfica que, no entanto, tem uma equipa maravilha e que está apenas a lutar pela Liga dos Campeões e no campeonato. Até agora, e com tantos milhões que foram investidos, não ganhou nada e não ganha há três ou quatro anos", atirou o antigo candidato à liderança do clube lisboeta.

Dias Ferreira sublinha ainda que não devem ser pedidos milagres a Rúben Amorim quando o Sporting está muito longe de ter as mesmas condições para concorrer ao título de campeão nacional como têm FC Porto e Benfica, não considerando que esta está a ser uma má temporada para os leões.

"A próxima época deve começar a ser preparada em janeiro, seja o primeiro ou o último classificado. Não só no que diz respeito a aquisições, mas também o futuro. Se a equipa estivesse no primeiro lugar e em condições de ser campeã, as coisas têm de estar a ser preparadas na mesma. As temporadas têm de ser preparadas com antecedência. Quem viveu já 40 anos anos de más épocas e só cinco é que terminaram em beleza... Isto não é razão para eu estar impressionado", atirou, prevendo a continuidade de Rúben Amorim.

"Para já, só sinto o futuro com o Rúben Amorim. A comunicação social insiste muito em correr com o Rúben Amorim. A minha resposta vai ser sempre a mesma. Quem é que vão buscar melhor treinador que ele? Um técnico que aceita um projeto que vai assentar na formação e que lhe vendam os jogadores... Depois disto tudo não posso estar a exigir que o Rúben Amorim faça milagres, que eu sei que ele não faz. Eu se for a Fátima a pé também não estou à espera de um milagre. Temos de ter senso sobre o que estamos a dizer", prosseguiu Dias Ferreira.

"Mas há sempre essa insistência em criar uma má relação entre a massa associativa no Sporting, e isso é um produto vendável na comunicação social. Qual é o mau resultado que o Sporting tem tirado desta estabilidade? Talvez, o mal tenha sido o Rúben Amorim ter ganho o campeonato na primeira época que fez completa no Sporting. As pessoas passaram a ser muito exigentes, mas eu não sou. Tenho a consciência de que o Sporting não tem condições iguais aos outros para estar a disputar o campeonato sistematicamente. Os outros também existem. As pessoas não percebem que há essa diferença substancial. Mas o Benfica e o FC Porto também tem um fosso financeiro muito grande para os clubes internacionais. O Sporting tem não só a nível interno, como também internacional. Quem não tiver este realismo de ver as coisas... Compreendo o fanatismo, mas não pode chegar tão longe", concluiu.

Leia Também: Rúben Amorim recebe má notícia no regresso do Sporting aos treinos

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