Roberto Martínez anunciou, esta segunda-feira, os 26 convocados para os jogos ante Bósnia e Herzegovina e Islândia, de qualificação para o Europeu de 2024. Toti Gomes, do Wolverhampton, é a grande novidade nos eleitos, numa lista onde já não mora João Mário que, no passado domingo, anunciou o 'adeus' ao país pelo qual se sagrou campeão europeu, em 2016.
Em conversa com o Desporto ao Minuto, o professor Neca, antigo técnico adjunto da seleção nacional, considerou a decisão de João Mário “inteligente” e carregada de “maturidade”.
“É um jogador que admiro muito, de uma técnica e inteligência notáveis, e é alguém que sabe estar nos momentos certos à hora certa. Esta época, demonstrou também que é um finalizador de excelência. Nós, como portugueses, só podemos estar agradecidos a João Mário por tudo o que deu à nossa seleção e sentir tristeza por este adeus. Mas, no futebol, como na vida, existe uma hora para tudo e, às vezes, atinge-se determinada maturidade desportiva que, posteriormente, conduz um jogador a reconhecer que só tem capacidade para se focar no clube e findar o seu contributo ao país”, começou por dizer o agora o técnico-adjunto da equipa de sub-23 do Rio Ave, considerando que não se pode falar de um 'adeus' à seleção por força da perda de espaço do jogador no possível onze de Roberto Martínez.
“Como já fui selecionador em dois países, aconselho a deixar a especulação de lado. João Mário percebeu que, numa equipa de clube, há tempo para se construir um puzzle e o treinador, aí, tem tempo para extrair e otimizar cada atleta que tem à sua disposição. Já numa seleção, as mutações são mais constantes ,o que vai permitir ao selecionador mudar mais rapidamente as suas opções, tornando o puzzle mais mutável. Num clube, todas as peças funcionam de forma harmoniosa e mais articulada, já na seleção, existe uma necessidade de fazer ajustamentos de forma mais regular. Temos de aceitar a decisão de João Mário com normalidade e agradecer pelo futebol de qualidade que mostrou na última década”. O professor Neca equipara a saída de João Mário à de Toni Kroos, que, apesar do elevado rendimento que ainda comporta à equipa do Real Madrid, preferiu abdicar dos serviços que prestava na seleção alemã.
“Esse é um excelente exemplo. O dinheiro pode crescer, mas muito mais importante do que o dinheiro é o tempo, e a opção de João Mário é inteligente. Um homem que está muito mais além do futebol, com excelentes capacidades dentro do terreno de jogo, mas que também quer usufruir do seu espaço social e familiar, percebendo que, agora, está na hora de fazer valer do seu tempo de outra forma”, rematou, antes de abordar a surpreendente presença de Toti Gomes nos eleitos de Martínez.
“Para mim ,também foi uma surpresa, porém, o selecionador e a equipa técnica têm um plano mais abrangente para o projeto da nossa seleção. Toti Gomes, seguramente, projeta-se e dimensiona-se para o espaço que ele deseja no presente e futuro da nossa seleção. Um jogador que, apesar de novo, já comporta bastante maturidade. Uma opção bastante respeitável para morar no elenco de Portugal”. Um dos jogadores que continua sem merecer presença nos convocados do técnico espanhol é Pedro Gonçalves. O professor Neca considera uma “decisão legítima”, já que o “puzzle” de Martínez é outro.
“Eu gosto muito do Pedro Gonçalves e integraria o meu modelo de seleção, já que tem criatividade, velocidade, golo e qualidade de passe, mas, na opinião do selecionador, que é quem tem capacidade de decisão, não tem. É uma decisão legítima. No puzzle de Roberto Martínez, Pote não cabe. Ele considera que o jogador não tem os itens necessários para lá estar. Pode ser que um dia os reúna e posso ser convocado”, considerou, sem deixar de lado a hipótese de que uma mudança de clube podia levar Pote mais depressa à seleção.
“Eu não sei se esse item poderia ser fundamental, mas, provavelmente, podia ajuda-lo vê-lo noutro contexto. Poderá ser por aí, como poderá não ser. Eu reforço a minha ideia: Pedro Gonçalves é um jogador sublime, mas a seleção tem uma qualidade tremenda e, neste momento, não cabe nos plano técnico-táticos de Roberto Martínez”. Torna-se também incontornável, quando se fala do conjunto das quinas, de puxar pelo nome de Cristiano Ronaldo, alguém que o treinador português continua a ver com opções legítimas de estar entre os eleitos da seleção de todos nós.
“Cristiano Ronaldo é um ícone da seleção e do futebol mundial. Um jogador que já não tem 28 anos, mas é um profissional sublime e de exceção. É um jogador que bateu todos os recordes e nós olhamos com a pena de ele ainda não ter 30 anos, mas o tempo passa por toda a gente. O Ronaldo faz parte do nosso património e acredito que ele será suficientemente inteligente para perceber o dia em que deve dizer adeus à seleção. João Mário encontrou a sua hora para dizer adeus à seleção. Cristiano Ronaldo também encontrará a sua hora, mas ele ainda considera que pode acrescentar algo dentro do retângulo. Agora, ninguém tenha dúvidas de que Ronaldo terá essa inteligência para colocar essa decisão em cima da mesa. Neste momento, ainda é tempo de o aproveitarmos na nossa seleção”, rematou.
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