"Podem pensar que é só em Portugal. Nós temos muita tendência para desvalorizar o que é bom. Somos um país pequeno com treinadores e jogadores de grande nível e que conseguem competir a nível europeu, mesmo na formação. Portanto, quem está fora tem a tendência de valorizar o que temos aqui. Quem está cá, tem a tendência de dizer que tudo está mal e lá fora é que é bom", disse o treinador, à margem da cimeira Thinking Football.
Vítor Pereira, que já treinou na Arábia Saudita, o Al-Ahly Jeddah na temporada 2013/14, refletiu sobre o seu período no país, que diz ser muito diferente daquele que se vive agora, sem entrar em comparações com a realidade portuguesa.
"No meu tempo, a Liga árabe não era a de agora. Eu recordo que provavelmente fui o primeiro treino a sair aqui de Portugal, do FC Porto, de jogar a Liga dos Campeões para ir para a Liga árabe. Fui por objetivos que tinha, mas não eram desportivos, senti que tinha de fazer a minha vida do ponto de vista financeiro. Hoje já não são os meus objetivos. [...] A comparação com o futebol português só o Ronaldo e quem lá está agora pode fazer", explicou.
O técnico que ficou sem clube após sair do Flamengo, em abril, analisou a sua passagem pelo Brasil, um país que considera "menos racional" na forma como vê o desporto, e diz que "chegou a hora de ter um bocadinho de juízo" antes de ingressar em nova aventura no país sul-americano.
"No Brasil, os projetos são a próxima vitória e mesmo a vitória pode correr mal. Portanto, o Brasil é tudo muito à base da emoção, é preciso ir lá para perceber a dificuldade do contexto. Nós pensamos que estamos preparados. Eu treinei o Fenerbahçe [Turquia] e o Olympiacos [Grécia]. O Brasil consegue ser menos racional, com falta de tempo para trabalhar, de acreditar no que se está a fazer. Ou temos resultados ou acaba o projeto", queixou-se.
O futebol, que compara a uma droga da qual está a "ressacar", continua, contudo, a ser o "vício" de Vítor Pereira, que espera poder voltar ao ativo na Europa, admitindo que denota alguma impaciência em poder voltar ao ativo.
"Já passei a fase do desmame, andei, durante dois meses, muito nervoso, irritado, falta-me a adrenalina. Eu gostaria de um projeto europeu, que me permitisse valorizar o meu trabalho. Mas o futebol é como é e eu reconheço que, se isto demorar muito, vamos ter de ir à luta. Não me estou a ver, de momento, a voltar ao futebol português. Um dia, naturalmente, voltarei, mas ainda tenho objetivos para cumprir lá fora", revelou.
A segunda edição da cimeira Thinking Football, evento organizado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), que terminou hoje, no Palácio de Cristal, no Porto.
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