"Diziam que Maradona era Deus. Vejo Cristiano Ronaldo nesse patamar"

João Aroso já teve a oportunidade de treinar vários jogadores de topo, sendo que um deles encontra-se "num patamar que não é terreno": CR7. Em conversa com o Desporto ao Minuto, o ex-adjunto da seleção nacional recordou os tempos do madeirense no Sporting e ainda contou histórias de sucesso, como de Abel Ferreira e Francisco Trincão.

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Miguel Simões
20/02/2024 07:37 ‧ 20/02/2024 por Miguel Simões

Desporto

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O expoente máximo da carreira de João Aroso, até ao momento, aconteceu na passagem pela seleção nacional, entre 2010 e 2014, na condição de adjunto de Paulo Bento, cruzando-se com jogadores de topo, entre os quais se destaca, naturalmente, o nome de Cristiano Ronaldo.

Ainda antes disso, o treinador de 51 anos assistiu de perto à saída do internacional português do Sporting para o Manchester United e, em conversa com o Desporto ao Minuto, evidenciou o foco do atual avançado do Al Nassr, que o 'catapultou' para voos maiores na sua carreira.

"Conheci o Cristiano Ronaldo ainda no Sporting, antes de ir para o Manchester United. Quando estávamos no túnel, antes do jogo entre os dois clubes [6 de agosto de 2003, na inauguração do Estádio José Alvalade], o normal em miúdos de 18 anos seria olhar para as caras dos grandes craques. Lembro-me de ver o Cristiano focadíssimo no jogo. Não olhava para o lado para ver os jogadores famosos. Isso mostra e mostrava já na altura aquilo que era a mentalidade do Cristiano Ronaldo", começou por contar, ao recuar a um tempo em que era preparador físico.

Na sequência de um processo de transformação, Cristiano Ronaldo agora é mais um finalizador nato (...) Está longe daquele Cristiano que era um extremo desequilibradorDesafiado a comparar as virtudes mostradas por CR7 nos tempos de Alvalade e na altura em se cruzaram na seleção nacional, João Aroso deu conta de um "extremo desequilibrador" que se transformou num "finalizador nato"

"Em termos de forma de jogar, o Cristiano que conheci no Sporting era um extremo nato e um driblador, com uma 'fantasia' enorme. Fazia alguns golos, mas servia muito para desequilibrar do ponto de vista do drible. Na seleção, o Cristiano Ronaldo estava em transformação. Jogava ainda a extremo e partia de fora, mas aparecia muito mais na área para finalizar, em termos de posicionamento no jogo. Era um jogador que marcava muitos golos, ao contrário do trajeto no Sporting e no Manchester United, em que era mais um criador de situações de golo", atirou.

"Na sequência desse processo de transformação, o Cristiano agora é mais um finalizador nato. Já o era, talvez, desde a Juventus, bem como durante a segunda passagem pelo Manchester United. É essencialmente isso nos anos mais recentes. Com uma qualidade enorme, seja de pé esquerdo, de pé direito ou de cabeça, é muito esperto nas movimentações na área. Está longe daquele Cristiano que era um extremo desequilibrador", vincou de seguida.

Notícias ao Minuto Após se terem conhecido no Sporting, João Aroso e Cristiano Ronaldo reencontraram-se na seleção portuguesa, entre 2010 e 2014© FPF  

O treinador de 51 anos rejeitou comentar as polémicas declarações de Cristiano Ronaldo, quando afirmou que o campeonato da Arábia Saudita já estava a um nível superior por comparação a várias Ligas na Europa (inclusive a I Liga), tendo ainda admitido a dificuldade de definir CR7 como o melhor jogador que já treinou na sua carreira.

"Não me cabe a mim comentar se o campeonato [da Arábia Saudita] é melhor ou não. O que eu acho é que o Cristiano Ronaldo acabou por escolher um determinado contexto desportivo que lhe permite continuar a top, dentro dos relvados. Há também o impacto mediático, ao qual ele se habituou, pela marca que tem associada. Assim, continua bem no rendimento desportivo e mediático", afirmou.

Quando falamos de jogadores como ele, [Lionel] Messi ou [Diego Armando] Maradona, referimo-nos a alguém que atingiu outros patamares, acima dos grandes jogadores"Melhor jogador que treinei? É tão difícil essa avaliação... O melhor jogador, os prémios individuais... Tenho sempre dificuldade nisso. É muito difícil comparar jogadores de posições diferentes, sobretudo um que jogue na frente e marque golos e outro que se destaque como defesa-central. Posso dizer que o Cristiano é dos jogadores mais extraordinários que alguma vez vi. Quando falamos de jogadores como ele, [Lionel] Messi ou [Diego Armando] Maradona, referimo-nos a alguém que atingiu outros patamares, acima dos grandes jogadores", acrescentou João Aroso.

"Eles parecem ser algo mais do que apenas grandes jogadores. O Cristiano, dos jogadores que treinei, está nesse patamar. É o jogador que treinei que transcende aquilo que nós podemos considerar um grande jogador. Ele vai além disso por tudo aquilo que representa. Os argentinos diziam que o Maradona era Deus. Parece que estão num patamar que não é terreno. É por aí que olho para Cristiano Ronaldo também", completou sobre o assunto.

De Abel Ferreira a Francisco Trincão: As histórias do passado

Enquanto preparador físico do Sporting, entre 2003 e 2009, com uma curta aventura no AEK pelo meio, João Aroso teve também a oportunidade de se cruzar com jogadores como Nani, Liedson, João Moutinho, Paulo Bento, Ricardo Sá Pinto, Rui Jorge, sendo que, na hora em que foi desafiado a contar histórias que viveu nos leões, não hesitou em recordar um episódio que envolveu Abel Ferreira e Tonel.

"Na primeira pré-época [2006/07] em que eles se cruzaram, na equipa técnica do Paulo Bento, disseram-me que nunca tinham feito uma pré-temporada assim. Treinávamos a nossa forma de jogar, ao contrário de experiências anteriores que eles tiveram, em que os treinos eram muito exigentes do ponto de vista físico. Queriam perceber melhor essa diferença. Mais tarde, o Abel Ferreira até se tornou treinador, com um sucesso muito grande", começou por contar.

"Uma das questões que eles me colocavam era se o facto de estarmos a fazer um treino de determinada forma não ia comprometer o rendimento da equipa. Estavam habituados a formas de trabalhar mais tradicionais. Disse-lhes que não e expliquei o motivo, mas, depois, tudo depende de termos bons resultados ou não. Tudo aquilo que lhes disse podia ser comprovado ou não, em função do rendimento da equipa", explicou, antes de dar conta do impacto que a tal conversa viria a ter.

Falei com eles e perguntei-lhes se eles se lembravam da nossa conversa na pré-época. Disseram-me que sim e ainda bem. Gostaram da forma como se desenrolou a época"Curiosamente, nessa época, lutámos até à última jornada pelo título de campeão nacional, com o FC Porto, em que ficámos a um ponto de festejar. Se não me falha a memória, vencemos os últimos dez jogos. Falei com eles e perguntei-lhes se eles se lembravam da nossa conversa na pré-época. Disseram-me que sim e ainda bem. Gostaram da forma como se desenrolou a época. Perceberam, aí, pela primeira vez, que era possível fazer as coisas de uma forma diferente sem comprometer o sucesso. Isso acabou por ser comprovado", vincou.

Sobre o impacto que poderá ter tido naquilo que Abel Ferreira é como treinador atualmente, João Aroso admitiu que pode ter "contribuído um bocadinho", não deixando de enaltecer todo o restante percurso do técnico do Palmeiras: "Seguramente, teve tantas experiências e treinadores que terá ido buscar conhecimentos em muitos contextos onde esteve. Admito que eu possa ter contribuído um bocadinho também. Somos um bocadinho o produto das vivências que tivemos. Seria presunção dizer mais do que isto".

Notícias ao Minuto João Aroso destacou Paulo Bento como um dos jogadores que treinou no Sporting, acabando por se tornar seu adjunto na seleção nacional© Álvaro Isidoro / Global Imagens  

Entre vários exemplos de ex-jogadores que se tornaram treinadores de sucesso, além de Abel Ferreira, também Paulo Bento, Rui Jorge e Ricardo Sá Pinto passaram 'pelas mãos' de João Aroso, sendo que um deles foi prontamente destacado pelo treinador de 51 anos.

"Conheci o Paulo Bento na minha primeira época de Sporting [2003/04], que acabou por ser a última da carreira [de futebolista]. Era aquele jogador que eu percebia que ia ser treinador", atirou sobre o treinador que viria a ajudar, mais tarde, como adjunto na seleção nacional, entre 2010 e 2014.

Já numa das suas aventuras mais recentes, João Aroso recordou um exemplo de sucesso na formação do Sporting de Braga, que até chegou a passar por Barcelona e Wolverhampton antes de 'assentar' no Sporting. Falamos de Francisco Trincão, com o treinador de 51 anos a admitir que teve de "chateá-lo" para que atingisse outros voos com êxito.

"O [Francisco] Trincão foi o expoente máximo desse grupo de jogadores [do Sporting de Braga] com quem trabalhei, em termos do patamar em que se encontra atualmente. Na altura, ele era sub-19 e começou a jogar com muita regularidade, passando a ser um elemento bastante importante na equipa. Se eu tive algum contributo [para o seu sucesso] foi o de exigir bastante dele, porque eu sabia que ele tinha qualidade técnica que se vê", contextualizou.

Qualquer jogador precisa de sentir confiança e de jogar com regularidade para se expressar no máximo. É o que está a acontecer ao Trincão no Sporting

"Com bola, ele era capaz de driblar o adversário e voltar para trás só para repetir isso, em sentido figurado, claro. Por vezes, isso gerava alguma impaciência nos colegas. Do ponto de vista ofensivo, tentei sempre que fosse mais objetivo, sem perder a criatividade que tinha, enquanto que, no momento da perda, queria que fosse um jogador mais reativo. Chateei-o muito por causa disso. Acho que valeu a pena, porque evoluiu bastante", vincou de seguida.

"Este é o Trincão que nós projetávamos e imaginávamos. Ele teve uma fase de menos consistência no Barcelona e até mesmo no Wolverhampton e no Sporting. Qualquer jogador precisa de sentir confiança e de jogar com regularidade para se expressar no seu máximo. É isso que está a acontecer, agora [no Sporting]. O rendimento dele aumentou para um patamar bastante elevado", completou sobre o avançado.

Do Sporting ao Sporting de Braga (e mais recentemente ao Vitória SC), com uma aventura pelo meio na seleção nacional, João Aroso não hesitou em destacar vários grandes jogadores que trenou, tanto como preparador físico, como treinador principal ou treinador adjunto, numa longa conversa com o Desporto ao Minuto.

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