A formação do Sporting é reconhecida em todo o mundo, há muitos anos. É parte essencial do projeto de Frederico Varandas e tem assumido especial relevância com Rúben Amorim, que chama frequentemente jovens da formação à equipa principal (exemplo são os últimos treinos, em altura de pausa FIFA), admitindo sempre a importância destes atletas para a sustentabilidade financeira e desportiva do Sporting. E, claro esta, com Felipe Celikkaya, que os trabalha na equipa B dos leões.
O nome diz tudo - Academia Cristiano Ronaldo. O Sporting demonstra orgulho em ter formado um dos melhores jogadores de todos os tempos, sem esquecer outros nomes como Luís Figo, Ricardo Quaresma, Rui Patrício, William Carvalho, entre muitos outros.
A Academia recebeu recentemente o prémio de entidade formadora cinco estrelas pela Federação Portuguesa de Futebol, recebido por Paulo Gomes, diretor-geral da Academia. Também o Observatório do Futebol (CIES) publicou um estudo em que o Sporting surge como terceiro clube do mundo com mais jogadores (85) nas principais 60 Ligas europeias. Em segundo lugar, está o 'rival' Benfica, com 87, e Ajax, com 91.
Top training clubs*, Europe's non-big-5⃣
— CIES Football Obs (@CIES_Football) March 19, 2024
🥇 @AFCAjax 9⃣1⃣
🥈 @SLBenfica 8⃣7⃣
🥉 @SportingCP 8⃣5⃣#DinamoZagreb #DynamoKyiv #CrvenaZvezda #Partizan #Shakhtar #RBSalzburg #Anderlecht
* As per number of academy graduates in 6⃣0⃣ leagues
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O Desporto ao Minuto falou com alguém conhecedor da formação leonina, tendo desempenhado funções diretivas em Alcochete. Nélson Pereira, antigo guarda-redes do clube, foi diretor-geral das equipas B e sub-23 em 2020/21, já depois de um longo percurso como treinador de guarda-redes. Nélson explica a importância da formação, nomeadamente da equipa B:
"É fundamental. É uma equipa fundamental para o projeto de formação de um clube grande. No caso do Sporting, têm sido amplamente aproveitados muitos jogadores, não só no clube, como na I Liga e clubes do estrangeiro. É uma etapa de dificuldade para estes jogadores, mas também de adaptação para um campeonato sénior, e eles são muito jovens", começa por dizer.
A equipa B do Sporting é muito jovem, tendo uma idade média de 19,65 anos. "O segredo está no facto de ter miúdos de 17, 18, 19 anos num campeonato sénior. A Liga 3 já é um campeonato competitivo. Se jogassem na II Liga, não teriam o mesmo aproveitamento, teria de haver um formato diferente de equipa. Tinha de haver jogadores com mais capacidade competitiva que podiam ofuscar o crescimento dos mais jovens", explica Nélson Pereira, quando confrontado o facto do Sporting B ter ficado afastado da fase de apuramento de campeão da Liga 3.
"Se me perguntar se gostava de vê-los num campeonato superior, também gostava. Mas levanta-se outra questão - será que, com esta equipa, seria possível? Acho que não. Tinha de haver jogadores mais velhos. A II Liga é extremamente competitiva e difícil de jogar. Tinha de haver alterações ao projeto. Aquilo que identifiquei, enquanto lá estive, é que havia uma sobreposição entre formar jogadores e a questão competitiva", conclui.
Celikkaya é um elemento-chave neste momento de transiçãoO treinador da equipa B é Felipe Celikkaya, de 39 anos, cumprindo essas funções desde 2020. Chegou ao clube no mesmo ano que Rúben Amorim, amigo de longa data. Ambos jogaram na formação do Belenenses, mas Celikkaya não teve o mesmo sucesso enquanto futebolista, dedicando-se cedo à carreira de treinador.
"A estrutura funciona muito bem. Estive envolvido no processo, quando chegou o Celikkaya. Haver uma boa relação pessoal ajuda muito [entre Amorim e Celikkaya]. Não conheço muito bem outros casos, mas, aqui, a forma como ele trabalha na equipa B tem seguimento. As conexões entre equipa A e B são benéficas, permitem um melhor aproveitamento. Eles comunicam momentos de forma de jogadores ou o potencial de dado jogador para estar mais vezes na equipa A, isso passa por eles dois. É uma combinação perfeita. O Celikkaya é um elemento-chave neste momento de transição", conta Nélson.
Questionado sobre alguma possível redundância na equipa sub-23, da Liga Revelação, havendo já equipa B, o atual embaixador da Liga Portugal rejeita. "É mais uma etapa. Quando tens condições para dar mais etapas, porque há jogadores que não as ultrapassam tão rápido como outros, havendo este passo intermédio, permite que tenham mais tempo para consolidar o seu processo. Faz todo o sentido. Este ano, a equipa sub-23 do Sporting esta com um nível bastante interessante", diz. O que é facto é que a formação orientada por João Pereira, antigo lateral leonino, lidera a fase de apuramento de campeão.
As próximas 'estrelas' que Felipe Celikkaya tem na linha de montagem de Alcochete
Da Academia do Sporting podem sempre esperar-se jovens promessas a ter em conta. Nuno Mendes e Rafael Leão são dos últimos grandes nomes do futebol nacional com 'certificado de Alcochete'. Perguntámos a Nélson Pereira qual é o próximo:
"Há um miúdo, que apareceu de repente, que é o Rafael Nel, que está a dar passos bastante interessantes no seu processo. Estava com os juniores, depois o João começou a chamá-lo para os sub-23, o Celikkaya também pegou nele e começou a introduzir aquela exigência e comportamentos que são necessários para a etapa seguinte. Já foi chamado à equipa principal, já se estreou num jogo da Liga Europa [contra o Young Boys], por isso, é perceber que isto são fases", avalia Nélson Pereira.
Rafael Nel tem estado quase inteiramente disponível para a equipa B durante esta temporada, aos 18 anos. Foi chamado a dois jogos da Liga Europa, em fevereiro, em parte devido a uma lesão de Paulinho. Soma oito golos em 24 jogos. Passou pela formação do Benfica e Belenenses antes de chegar ao Sporting, em 2020.
Nélson Pereira, antigo guarda-redes, vê com bons olhos a evolução de Diogo Pinto, jovem guardião que trabalha com a equipa principal. "Vejo nele muito potencial. Eu gosto muito do Diogo Pinto. Está em número dois do Franco Israel. Mas, parece-me que, se não houver datas sobrepostas, devia continuar a jogar pela equipa B. Pouca gente acompanhou o processo de evolução dele, mas é extraordinário. É importante manter a competição. Já está num bom grau de exigência, em termos de treino, na equipa A, se puder competir ainda melhor", explica, sugerindo que Diogo Pinto fosse emprestado a um clube de I Liga na próxima época.
Finalmente, há um jovem avançado, de 16 anos, que Rúben Amorim já tem chamado aos treinos e já protagonizou algum interesse da imprensa nacional - Geovany Quenda. "É um virtuoso do futebol. Um miúdo com qualidade, objetivo, desequilibrador. Tem de ser dar mérito ao Rúben Amorim porque já o levou a jogo, não o colocou em campo. Está a dar-lhe os degraus que tem de subir. Isso é bom para jogadores bastante jovens, porque depois pode haver um deslumbramento. Mesmo com o Celikkaya, vai algumas vezes para o banco. Há aqui algumas cautelas para não queimar etapas", termina Nélson Pereira.
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