Helton Leite, antigo guarda-redes do Benfica, concedeu este sábado uma extensa entrevista ao programa 'Bastidores', da rádio brasileira Itatiaia, na qual, entre outros temas, falou sobre a mais recente passagem pela Turquia ao serviço do Antalyaspor.
"Na Turquia, eu não continuo. Já comuniquei ao clube, nas redes sociais. Tenho um desejo muito grande de regressar à Europa, disputar uma grande liga ou competições europeias. Isso é meu objetivo. Estou à espera da oportunidade certa para poder regressar. (...) Se Deus quiser, Itália. É o desejo que eu tenho. Mas, sempre na Europa. Esse seria o ideal" revelou o guardião.
"Do ponto de vista profissional, a experiência na Turquia foi muito boa. Fiz mais de 50 jogos em 14 meses, foi muito bom. É um país desafiador, com uma cultura muito diferente", frisou Helton Leite, que cumpriu duas temporadas no clube turco.
Questionado sobre se tem seguido com atenção o sucesso de Abel Ferreira no Brasil, Helton Leite recordou um duelo da Liga dos Campeões contra o português quando este orientava o PAOK e o guarda-redes vestia a camisola do Benfica.
"Não tenho acompanhado muito o futebol no Brasil, mas conheço bem o Abel Ferreira. Lembro até que, quando estava no Benfica, nós fizemos uma pré-eliminatória nas provas europeias com o PAOK, quando o Abel estava lá, e eles destruíram a gente, eliminaram o Benfica na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, e ele com uma equipa com menos qualidade que a do Benfica", ressalvou o guardião, que destacou ainda a importância dos treinadores portugueses para o desenvolvimento do futebol no Brasil.
"Creio que em parte deve-se ao sucesso que o míster Jorge Jesus teve aqui, colocou o Flamengo a jogar de uma forma como há muito tempo não se via no Brasil, foi marcante e logo depois veio o Abel e teve muito sucesso. Abriram-se as portas para os treinadores portugueses. Em Portugal estuda-se muito mais tática, o modelo de jogo. Nós, no Antalyaspor, tivemos um auxiliar técnico português, o João Tralhão, que tem diversos cursos da UEFA, e você conversa 10 minutos com ele… é um conhecedor profundo de futebol, de todos os processos de treino", vincou ainda.
Helton Leite destacou também a diferença entre os métodos de trabalho no Brasil e os que acontecem em Portugal.
"Aqui no Brasil, a primeira coisa de um treino é correr até cair para o lado. No Benfica, os treinos eram compostos por 30 minutos de ginásio, campo, um pouco de corrida e treino com bola. Desde o primeiro dia. Penso que lá trabalha-se mais. É por isso que uma equipa mais modesta, como por exemplo o Boavista que quase esteve para descer de divisão, vai jogar com o FC Porto e é um jogo super apertado. Porquê? Porque o Boavista joga com as linhas corretas, bem posicionadas, os jogadores sabem o que fazer no campo. Quando eu cheguei no Boavista, o futebol que comecei a ver não era o mesmo que se praticava no Brasil. Tive de aprender tudo de novo. Eu recebia uma avalanche de informação nova que acabava os treinos e precisava ficar a estudar tudo que recebia nos treinos. É por isso que o jogador português, ou quem passa por lá, como o brasileiro, tem uma facilidade muito maior de jogar em qualquer campeonato do mundo a seguir", referiu Helton Leite.
"No Benfica, por exemplo, os jogadores tinham que chegar às 7 da manhã, 7h30 café da manhã, 8h00 palestra, 8h30 ginásio, e às 9h00 relvado. E depois, se nos atrasávamos um minuto, 20 euros de multa, dois minutos, 40 euros… Ou seja, chegando um tempo você aprende disciplina, aprende futebol, fica pronto para qualquer equipa do mundo. E aí percebemos que o jogador brasileiro, já feito, quando vai para outro país ele não está pronto. Por isso começam a vir ao Brasil contratar cada vez mais novos para poderem crescer num contexto diferente na Europa", finalizou.
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