"Fico com um sentimento de honra por ele se juntar neste momento ao homem que marcou eternamente a minha vida desportiva e que se chama José Maria Pedroto. Para mim, este foi o grande, único e absoluto obreiro da dinâmica, ambição, disciplina e até humildade com que o FC Porto foi gerido durante pouco mais de 40 anos", reconheceu à agência Lusa o ex-defesa central, de 69 anos, que alinhou nos 'dragões' de 1982 a 1987.
Jorge Nuno Pinto da Costa, ex-presidente do FC Porto, clube no qual se estabeleceu como dirigente mais titulado e antigo do futebol mundial entre 1982 e 2024, morreu aos 87 anos, vítima de cancro, com Eurico Gomes a manifestar uma reação de "muito respeito".
"Ficará sempre na história do clube pelos feitos das equipas que teve. O presidente de um clube é sempre o número um do sucesso, mas também do insucesso. Só teremos de ficar orgulhosos por ter conseguido transportar o FC Porto para uma dimensão muito elevada, com feitos e resultados, que tiveram a participação de diversos jogadores. Estes tiveram de trabalhar bastante para que tal acontecesse, mas, se calhar, alguns não foram muito bem apreciados por ele", salientou o único campeão nacional em dose dupla por Benfica (1975/76 e 1976/77), Sporting (1979/80 e 1981/82) e FC Porto (1984/85 e 1985/86).
Seguro de que "não há unanimidade" em torno de Pinto da Costa, Eurico Gomes aceitou que "será muito difícil" encontrar no dirigismo desportivo mundial alguém com êxito similar.
"Ele entende que é a mais-valia desse sucesso. Ninguém o pode criticar, apesar de nunca ter dado um chuto numa bola para marcar golo ou vestido a camisola para o pontapé de saída [num jogo]. Foi sempre aquele presidente que geriu toda uma estrutura que rendeu títulos e o resto não conta para nada. Agora, acho que não trabalhou para que o futebol português fosse um pouco mais limpo, organizado, do povo e dividido no bom sentido", avaliou.
Eurico Gomes venceu ainda uma Taça de Portugal (1983/84) e duas Supertaças Cândido de Oliveira (1983 e 1984) pelo FC Porto e foi finalista vencido da agora extinta Taça dos Clubes Vencedores das Taças em 1983/84, tendo mesmo alinhado a tempo inteiro frente aos italianos da Juventus (1-2), na primeira final europeia da história do clube nortenho.
Em 1986/87, na sua quinta e última temporada nos 'dragões', o antigo central fazia parte do plantel responsável pela então inédita conquista da denominada Taça dos Clubes Campeões Europeus frente aos alemães do Bayern Munique (2-1), em Viena, na Áustria, mas não somou qualquer minuto, rumando na campanha seguinte ao Vitória de Setúbal.
"Quando eu até achava que, se calhar, teria incluído o meu nome no conjunto de pessoas que Pinto da Costa quis selecionar para que não fossem ao seu funeral, fiquei admirado e também honrado por não estar lá. Estivemos sempre à distância, sem que qualquer um dissesse mal. Eu fui mais penalizado do que ele, porque me dediquei exclusivamente à minha profissão e ao clube que representava, mas não fui reconhecido por ele", terminou.
Empossado pela primeira vez em 23 de abril de 1982, seis dias depois de ter sido eleito sem oposição como sucessor de Américo de Sá, o ex-dirigente exerceu funções durante 42 anos e 15 mandatos consecutivos, levando o FC Porto à conquista de 2.591 títulos em 21 modalidades - 69 dos quais no futebol sénior masculino, incluindo sete internacionais.
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