Suzane Pires é uma futebolista brasileira de 23 anos praticamente desconhecida, mas as suas exibições nos Boston Breakers, da liga norte-americana, e dupla nacionalidade valeram-lhe uma convocatória para a seleção portuguesa que até lhe tirou o sono.
"Fiquei a saber na segunda-feira. (...) Eu acordei a meio da noite, eram umas cinco horas da manhã, fui ver o e-mail e estava lá a convocatória para Portugal. Fiquei muito feliz, mesmo, e quase nem consegui dormir", contou à agência Lusa a esquerdina natural de São Paulo e de avô paterno português.
Figura central neste desfecho foi Emily Lima, treinadora brasileira luso-descendente que também representou a seleção portuguesa e que fez a ponte com Mónica Jorge, antiga internacional lusa e diretora da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
"Eu vim para o Brasil, quando acabou o campeonato [nos EUA], para vir jogar por outro clube e entrei em contacto com uma técnica que já tive aqui, que é a Emily Lima, que já jogou por Portugal e disse-lhe que gostava muito de jogar pela seleção portuguesa. Ela disse: você tem muito potencial para jogar tanto na brasileira como na portuguesa, você é que escolhe. E eu disse: eu quero jogar pela portuguesa. Então, ela fez o contacto", explicou a luso-brasileira.
"O treinador, Francisco Neto, viu vídeos meus e disse-me que no dia 12 saía a decisão das 20 jogadoras", contou Suzane, cujo nome figurava entre as avançadas da lista anunciada na segunda-feira pelo selecionador. A sua primeira internacionalização pode assim acontecer a 27 de outubro, quando Portugal defrontar a Irlanda no arranque da qualificação para o Europeu de 2017.
Esta foi a chamada que nunca chegou do Brasil. "Eu tinha conversado com seleção brasileira também. Eles queriam que eu fosse para a seleção brasileira, mas nunca tive uma convocatória. Mas eu tinha ficado bem interessada com a hipótese de Portugal. Sempre quis ir", contou.
Embora não conheça pessoalmente nenhuma jogadora e tenha estado "uma vez em Portugal em lazer", a luso-brasileira acredita que a integração na equipa "não vai ser difícil" porque todas falam a mesma língua.
Suzane Pires descreve-se como "uma jogadora habilidosa", que gosta de ter a bola no pé e de rematar. "Sou canhota, chuto com a esquerda, mas tenho treinado bastante a perna direita. Adoro atacar, mas também aprendi a marcar muito forte, porque nos Estados Unidos é preciso marcar muito bem", relatou.
Dizendo que o seu "objetivo principal é ajudar a equipa a chegar ao Campeonato Europeu", Suzane sente que pode "ajudar com criatividade" e espera ficar para sempre com a seleção portuguesa.
"Esse é um dos meus objetivos. No próximo ano não sei se vou ficar nos Estados Unidos, porque eu tenho muita vontade de jogar na Europa. Na Alemanha, em Inglaterra ou até em Portugal e até tenho uma proposta para jogar na Coreia do Sul. Mas não sei se quero ir para lá, preferia a Europa ou os Estados Unidos", contou.
O seu primeiro clube foi o Concorde Futsal, o primeiro que a "deixou jogar com os meninos", tinha Suzane 10 anos, mas a sua relação com o futebol começou muito antes: "desde que eu ando, lembro-me de ter uma bola no pé".
Admiradora da brasileira Marta e do português Cristiano Ronaldo, tanto pela sua qualidade como pela sua dedicação ao trabalho, Suzane está ligada aos Boston Breakers, clube que ficou na última posição do campeonato norte-americano na última temporada, e já passou também pela Alemanha.