Francisco J. Marques: A mão que chegou para (des)montar o 'puzzle'

Ex-jornalista da Lusa chegou a ser acusado pelo Benfica de servir os interesses do FC Porto enquanto profissional da agência estatal. Hoje é figura de proa de uma ofensiva contra os encarnados e tem posto a nu um alegado esquema de influência do Benfica sobre diversas estruturas do futebol português.

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Sérgio Abrantes
08/11/2017 09:03 ‧ 08/11/2017 por Sérgio Abrantes

Desporto

Enquadramento

Francisco J. Marques (Francisco José Marques) tem sido durante os últimos meses figura central no futebol português. Com campo-base no Porto Canal, o diretor de informação e comunicação do FC Porto tem feito circular na praça pública, com impacto significativo, um conjunto de comunicações internas do clube da Luz, denunciando o que diz ser um alegado esquema de corrupção com vista ao favorecimento, por parte dos árbitros, por exemplo, do clube rival.

Mas quem é Francisco J. Marques? Qual o seu percurso profissional e de que forma tem ajudado a transformar um dragão adormecido num voraz animal de combate? Estas são as perguntas a que tentaremos responder ou, pelo menos, será com a tentativa de resposta a elas que traremos mais alguma luz a este caso.

O 'adeus' ao jornalismo e o 'olá' ao Dragão

Francisco José Marques licenciou-se em engenharia no Instituto Superior de Engenharia do Porto, nunca tendo exercido a profissão. Começou a sua carreira no jornalismo na década de 1990, passando pelo jornal Público e pelo Jornal de Notícias antes de assumir o cargo de editor de desporto da agência Lusa. Creditado como um jornalista de referência nos meios por onde passou, o agora diretor de comunicação do clube da cidade Invicta foi alvo, a determinada altura, de uma queixa apresentada pelo Benfica contra si, jornalista.

Na denúncia feita, o emblema encarnado queixava-se do tratamento noticioso dado pelo designado trabalhador da Lusa, acusando-o, entre outras coisas, de reportar de forma enganosa o caso do túnel da Luz, mas também de fazer 'nascer' uma notícia sobre as remunerações pagas a administradores do clube, distorcendo-a, na opinião do queixoso.

Em 2011 Francisco J. Marques abandonou a Lusa, seguindo, então, por fim, para o cargo de diretor de informação, entrando numa casa que nunca escondeu ser a do seu coração desportivo, sendo responsável pela publicação da Revista Dragões, mas também assinando a newsletter Dragões Diário.

Quatro anos volvidos, assume, por extensão de funções, a direção de comunicação do clube, dando origem a uma exposição alargada de alegados factos contra o clube da 2.ª Circular pouco tempo depois.

O "competidor falso" e a guerra de emails

A sua chegada à direção de informação e comunicação, sobretudo neste último capítulo, traça uma inversão da política externa do clube. Se, por um lado, até determinada altura, é reconhecida ao FC Porto uma postura de defesa da identidade regional do clube, por outro lado, os feitos e conquistas alcançados pelo clube a nível interno e internacional permitiram que a imagem passada para fora se transformasse.

Algo adormecido pelas sucessivas conquistas do maior rival - que J. Marques chega a apelidar de "competidor falso" - foi com a 'saída de cena' - apesar de se manter ao serviço do clube - de Rui Cerqueira que o novo homem forte do Dragão começou a ter maior protagonismo. A 5 de abril de 2017, começa por trazer a público um documento que intitula de 'cartilha' e que compõe, alegadamente, um conjunto de orientações discursivas passadas para os comentadores designados pelo clube da Luz.

Pouco tempo depois, a 6 de junho, traz a público uma das suas primeiras grandes armas de arremesso daí em diante. Divulgando comunicação interna do Benfica, J. Marques mostra uma troca de mensagens entre Pedro Guerra, que, ao que tudo indica, será trabalhador do clube das águias, e Adão Mendes. Em causa está Manuel Mota, árbitro da I Liga, e a influência a exercer sobre este.

A partir daí, semanalmente, com assento fixo no Universo Porto, J. Marques continua periodicamente a pôr o 'dedo na ferida', mostrando trocas de favores, pedidos de bilhetes, contratações de bruxos, entre outras coisas. A sul agitam-se processos nos tribunais e o pedido de reabertura do processo Apito Dourado, onde Pinto da Costa é visado. 

Durante toda a sua exposição das fragilidades encarnadas, Francisco J. Marques chama o serviço que está a prestar de "interesse público" - após a rejeição da providência cautelar apresentada pelo Benfica - contra o que, como vimos acima, apelida de "competidor falso".

A aliança a sul e o mês quente dos castigos 

O primeiro sinal de união entre Sporting e FC Porto foi dado em Lisboa, em maio. Francisco J. Marques, diretor de comunicação do clube da Cidade Invicta, encontrava-se no 12.º andar do Hotel Altis, em Lisboa, com Nuno Saraiva. responsável pelo mesmo pelouro, mas no rival Sporting. O tema? O retomar de relações entre os dois clubes, algo que, até há alguns meses, estaria longe do horizonte dos adeptos e, provavelmente, de dirigentes também. 

Mas, aqui, há uma outra história por contar. Francisco J. Marques foi, durante cerca de um mês, após a divulgação dos primeiros emails, consecutivamente castigado pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, algo que o impediu de marcar presença no Porto Canal durante agosto. O responsável portista, pela sua participação na newsletter Dragões Diário, foi castigado a 11 de julho, sensivelmente um mês depois de ter exposto a primeira missiva digital dos encarnados.

Além de uma suspensão de 44 dias, por textos escritos em fevereiro, nos dias 25 e 27, o dirigente foi multado em 2.869 euros. Dias mais tarde, a 25 de julho, pela mesma razão, o CD da FPF volta a castigar J. Marques por "quatro infrações disciplinares: uma infração, por lesão da honra de árbitro; uma infração, por lesão da honra da arbitragem em geral; duas infrações, por lesão da honra de órgão de estrutura desportiva". Aqui, a sanção é de 76 dias, juntando-se uma multa pecuniária de 4.743 euros.

No início do mês seguinte, nova 'tacada' do Conselho de Disciplina. Em causa, declarações publicadas na Dragões Diário, a 2 de maio. Aqui, a punição é de 22 dias e a multa que a acompanha de 1.454 euros.

A avença azul e branca enquanto jornalista

"Há três ou quatro meses, o Benfica recebeu uma informação que dava acesso ao contrato do responsável pela comunicação do FC Porto. Aí estava demonstrado que, enquanto era jornalista e editor de desporto da Lusa, já recebia uma avença do FC Porto. Não sei se é verdade ou mentira, mas iremos fornecer tudo isto para ser objeto de investigação. Não é na praça pública que o fazemos, temos de prestigiar o futebol português." 

Foi desta forma que a 16 de junho, Luís Bernardo, diretor de comunicação do Benfica, lembrando as queixas encarnadas contra o antigo editor de desporto da Lusa, expôs publicamente uma ligação que foi peremptoriamente negada por Francisco J. Marques. O dirigente portista, alegando que o seu homólogo tinha sido 'enganado', fala mesmo num salário principesco auferido pelo seu 'colega'. 

As chamadas da polémica que tiveram de ser desmentidas... pela TSF

Durante o mês de março, antes de todos estes episódios, Nuno Saraiva e Francisco J. Marques surgiram nos radares noticiosos mas não pelas habituais razões. Nas redes sociais, nomeadamente no blogue benfiquista Hugo Gil, circulavam rumores de que os dois responsáveis teriam ligado para um programa radiofónico para intervir contra Luís Bernardo, diretor de comunicação do Benfica.

As gravações circularam avidamente pela rede e o desmentido tornou-se imperativo. Saraiva e Marques acabaram por permanecer, na altura, em silêncio, mas a TSF, por intermédio do seu diretor, Arsénio Reis, sentiu-se forçada a negar o assunto.

"Basta ouvir o Fórum da TSF da passada segunda-feira e os sons dos intervenientes em causa, de uma forma atenta, isenta e desapaixonada, para perceber o absurdo desta questão", afirmou o diretor da estação. Paulo Silva e Jorge Silva teriam sido os dois nomes usados por Saraiva para telefonar para o programa, enquanto J. Marques teria usado o nome de Carlos Antunes. O assunto 'morreu', mas a mancha acabou por ficar.

O Bruxo, o Polvo e Rui Gomes da Silva...

Durante as suas investidas a sul, Francisco J. Marques, por vezes, optou por uma postura de apontar o dedo. Rui Gomes da Silva foi um dos principais visados pelo diretor de comunicação e informação do FC Porto. O ex-vice de Luís Filipe Vieira é envolvido num caso onde, alegadamente, estaria encarregue de comunicar com um bruxo. Nas comunicações mostradas por J. Marques, o ex-dirigente encarnado é o intermediário da 'compra de serviços' a Armando Nhaga.

Durante os emails divulgados e lidos no Porto Canal, o responsável portista ainda chega a envolver Luís Filipe Vieira, numa mensagem digital que ficou célebre por um lapsus linguae de Luís Filipe Vieira. Nessa comunicação, o presidente encarnado questiona o alegado bruxo relativamente a um resultado menos conseguido a nível europeu, afirmando Nhaga, na resposta, que as águias se devem agora concentrar nas competições internas, nomeadamente na conquista do campeonato e Taça de Portugal. 

O polvo... O polvo está relacionado com outro aspeto da troca de 'processos' entre FC Porto e Benfica. A determinada altura, durante um programa no Porto Canal, J. Marques lembra a questão relacionando-a com a bruxaria, palavra que repete mais tarde quando é rejeitada, ao Benfica, uma providência cautelar contra a publicação de mais emails.

"Não sei o que devo pensar disto. Isto põe em causa quem? Põe em causa os jogadores, treinador, mas também outras pessoas. O Paulo Gonçalves, o Nuno Cabral, o Adão Mendes, o Pedro Guerra, o Mário Figueiredo... Anda a criar-se um polvo para quê? Anda a criar-se este monstro que tudo permite ao Benfica e nada permite aos outros, que cria um clima de benefício permanente, e depois vai fazer-se a bruxaria? É um backup do polvo. Se o polvo falha... entra o mestre... Há gente que, para ganhar, vale mesmo tudo." 

Esta narração vem no seguimento da exposição feita relativamente ao bruxo, repetindo-se aquando da rejeição do processo interposto pelas águias.

"O polvo começa a perder força. O caminho é continuar a desmascarar a farsa. Por um futebol limpo", afirmou o diretor de comunicação dos dragões na sua conta no Twitter.

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